sábado, junho 08, 2013

A vida com Deus se enche de vida.

A vida com Deus se enche de vida.



Seguindo este ano a leitura do Evangelho de São Lucas, na perícope evangélica deste domingo vemos uma narração peculiar a Lucas: a ressurreição do filho da viúva de Naim (cf. Lc 7,11-17). Lucas é como um pintor. Com poucas palavras ele é capaz de pintar um belo quadro onde se revela a figura de Jesus como o grande taumaturgo, nosso Senhor que se compadece ante o sofrimento e a morte.
O contexto dos relatos evangélicos é sempre importante. Neste, encontramos caminhando com Jesus, seus discípulos e numerosa multidão (v.11). Cabe uma leitura concreta do que quer dizer este “caminho.” O caminho é nos evangelhos sempre uma disposição de ânimo, não só movimento. Seguir a Jesus é deixar-se conquistar por essa disposição que nos deixe surpreender pelo inesperado, que nos tire de nós mesmos; de nossos próprios esquemas mentais e deixe Deus atuar com a plena liberdade. Trata-se em definitivo de não por nossas idéias, nossas concepções, nossas palavras como suas; não fazermos um Deus à nossa própria medida, mas sim deixar que Deus seja Deus e nos leve por seus caminhos. Caminhar com Jesus é-nos por a caminho atrás dele, optar pela mudança, pela conversão, pelo movimento, não pela quietude estática do que fica igual ao que era antes... Como aconteceu com o Apóstolo Paulo tal como ele nos fala de si mesmo em sua carta as Gálatas “Ouvistes certamente (falar) da minha conduta de outrora no judaísmo, de como perseguia sobremaneira e devastava a Igreja de Deus... Quando, porém, aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça, houve por bem revelar em mim seu Filho, para que eu o evangelizasse entre os gentios”. (cf. Gl 1,11-19)
Lucas descreve um providencial encontro de duas multidões ou procissões: a procissão da vida que entra na cidade, formada por aqueles que seguem a Jesus, “seus discípulos e numerosa multidão” (Lc 7,11), e a procissão da morte, que levavam a enterrar um morto, filho único de mãe viúva; e grande multidão da cidade estava com ela.” (Lc 7,12) “Naqueles tempos, a morte de um filho único constituía para uma viúva a desaparição de seu esteio. A partir desse momento, ela e suas possíveis propriedades ficavam à mercê da rapina geral – abuso denunciado por Jesus mais adiante, em sua censura aos escribas (cf. Lc 20, 47; Mc 12,40). Com efeito, não faltava quem se regozijasse em tais circunstâncias, porque das viúvas podiam arrancar tudo quanto elas possuíam, sem oposição de ninguém.” (Dias, 2012.)
As duas “multidões” se encontram à porta da aldeia de Naim. É fácil perceber a quem representam estes dois cortejos que se cruzam na entrada da cidade: o primeiro representa a comunidade cristã, radiante de alegria porque está junto do seu Senhor, que a conduz para a Vida; o segundo é símbolo da humanidade que ainda não encontrou Cristo: está caminhando para o cemitério, lugar de morte e a considera como uma derrota irreparável. Nesse momento, Lucas mostra a grandeza da compaixão e misericórdia divinas presente em Jesus.
O Senhor, ao ver aquela desolada mãe que chorava a morte de seu filho, e “ninguém sente tanto a morte como aquela que gera a vida. O corpo da mulher é chamado a ser o espaço milagroso no qual acontece a gênese de cada ser humano. Os nove meses sagrados da gestação deixam marcado o corpo da mulher com uma marca indelével: deixam-na caracterizada para sempre como ‘nova Eva’. Por isso, também a mulher se sente morrer quando um dos seus filhos morre. A morte do filho nega-lhe sua identidade, mata-a como mãe, destrói sua identidade mais bela e milagrosa.” (Paredes, 2011.)

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