Celebramos hoje, os
cristãos católicos, o dia de Pentecostes, que encerra o Tempo Pascal, cenário litúrgico
que junto a Quaresma, a Semana Santa e o próprio Tríduo Pascal, nos dá um
período de quase 100 dias, sem duvida o segundo mais longo período litúrgico.
Com efeito, o Mistério Pascal: a Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão do
Senhor, encontram o seu cumprimento na efusão do Espírito Santo.
São
Lucas nos Atos dos Apóstolos (cf. At 2,1-11) nos narra com beleza e
plasticidade singulares aquela manhã de Pentecostes, em Jerusalém
cinquenta dias depois da Páscoa. Acontecimentos extraordinários: um ruído como uma
“forte rajada de vento” e “línguas de fogo” deixando todos repletos do Espírito Santo, tornando assim cada um dos apóstolos,
transformados interiormente e tornados capaz de comunicar de modo novo as
grandes maravilhas realizadas por Deus.
Todos os judeus
presentes em Jerusalém, procedentes da “diáspora”, de várias regiões do Oriente
e do Ocidente, a multidão que
se aproximou para ver tão extraordinária realidade, pode escutar e entender os apóstolos
e comentar assombrados: “Como é que cada um de nós os ouvimos falar, na nossa própria língua?”
(At 2,8)
Pentecostes não foi algo íntimo, pessoal, privado, ou dentro de uma
esfera mística. Foi visível e apreciado por muitas pessoas, o “vento”, o “fogo”
e a capacidade dos apóstolos para fazerem-se entender em diversas línguas,
fazem do Pentecostes um acontecimento linguístico.
A língua do Espírito é o Amor que torna
possível aos apóstolos proclamar o Evangelho nas línguas e culturas de todos os
povos, uma só mensagem se expressa em todas as línguas do mundo. O Espírito
fala e se expressa em toda linguagem artística, tecnológica, religiosa etc.
Com Pentecostes tornou-se realidade a
universalidade da mensagem evangélica. O Espírito escancara as portas do
cenáculo e impele os apóstolos para sair. Eles não ficam, portanto, no cenáculo
à espera que as pessoas os procurem; são eles que vão às pessoas. Sair, ir ao
encontro dos pagãos significava colocar em discussão as próprias certezas
religiosas; arriscar-se a ser contaminados. E, com efeito, quanta dificuldade,
quantas resistências houve! Mas, o Espírito Santo que estava neles os encorajava
e os tornava mais fortes diante do mundo que deviam converter.
O Espírito Santo impediu que a Igreja se
tornasse uma “sinagoga”, um lugar fechado para escolhidos; O Espírito Santo realizou
aquela universalidade tão querida por Jesus: “Ide a todas as nações.” (cf. Mt 28,19).
O Papa Francisco tem desafiado a Igreja a
sair de si mesma, do centro, e ir para as ruas, às fronteiras. Seu pensamento
recorrente e insistente frisa que “uma Igreja que não sai de si mesma adoece,
cedo ou tarde, em meio à atmosfera pesada do seu próprio fechamento. É verdade,
também, que uma Igreja que sai às ruas pode sofrer o que qualquer pessoa na rua
pode sofrer: um acidente. Diante desta alternativa, quero lhes dizer
francamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada a uma Igreja doente...
se a Igreja inteira assume o dinamismo missionário, deve chegar a todos, sem
exceções.”
A partir desse relato dos
Atos dos Apóstolos deduzimos que toda a iniciativa missionária apostólica na
difusão do Evangelho é ação do Espírito Santo. É o Espírito que dirige a Igreja
e sugere as decisões.
Esse maravilhoso prodígio que está só
começando no dia de Pentecostes continuará vivo e real ao longo de toda a
história da Igreja. O Espírito
Santo apenas iniciava o apoio divino e, portanto, humanamente extraordinário, à
Igreja nascente. E com ele sua caminhada estava assegurada até o final dos
tempos, segundo, também, outra promessa de Jesus: “Estou convosco todos os
dias”. (cf. Mt 28,20)
O Evangelho de São
João (cf. Jo 20,19-23) completa o
relato dos Atos dos Apóstolos. Será o Cristo Ressuscitado quem abrirá aos apóstolos
o caminho do Espírito Santo na mesma noite do Domingo da Ressurreição. O
Ressuscitado “sopra”, insufla sobre eles o Espírito Santo e os envia em missão.
Aquelas pessoas familiarizadas com o
linguajar do Antigo Testamento conheciam bem a força criadora do Espírito de
Deus.
O
“sopro” de Jesus sobre os discípulos, como Deus Pai Criador soprando
sobre o corpo inerte de Adão dando-lhe vida, vivifica-os como membros do seu Corpo
Místico. Nasce aí a comunidade eclesial, sua Igreja. O medo que era como um
freio que bloqueava a missão de testemunhar o Ressuscitado transforma-se, com a
sua presença viva e real, e pela força do seu Espírito, em paz, alegria e
missão.
Pentecostes é a representação
de como a Igreja, nasce da Páscoa-Pentecostes e se abre à universalidade da
missão. Na verdade, o Espírito Santo sempre esteve presente e foi o autêntico construtor
da Igreja, desde os primeiros dias em que Jesus já não mais estava com eles.
A realidade é que durante muito tempo entre os fieis cristãos se teve o Espírito
Santo como um “grande desconhecido”, mas a partir do Concílio Vaticano II e logo
anos depois, com um incremento importante da atenção e culto ao Paráclito, e aí
estão os grupos da renovação carismática católica, as coisas têm mudado muito. Mas,
Pentecostes é muito mais que uma grande celebração litúrgica.
Às vezes temos a impressão
que certos cristãos perderam a capacidade contemplativa e de admiração para
descobrir a imensa e magnífica ação do Espírito no hoje da Igreja. Não quero
aqui me referir tão somente às manifestações do maravilhoso na renovação
carismática, a avalanche de fenômenos às vezes estranhos.
É necessário percebermos
que o Espírito Santo agiu e age com e na Igreja. Vive-se na Igreja um
Pentecostes real e permanente onde o Espírito atua, rege e forma, pela
diversidade de carismas, dons, serviços e funções toda a comunidade eclesial.
É o Espírito quem
rejuvenesce a Igreja com seus dons, corrige-a, renova-a e a santifica. É o
Espírito que nos ilumina e nos abre o entendimento para compreender a
profundidade da Palavra de Deus. É o Espírito que convoca, impulsiona, dá força
a Igreja, aos seus membros na ação pastoral. Os concílios, assembleias
episcopais, sínodos, são obra do Espírito que atua e unifica a Igreja.
Sem o Espírito, falta força
interior que mova a Igreja a sair e anunciar aquilo que dá sentido a nossa fé e
a nossa vida; falta liberdade, audácia, fraquejam nossas convicções mais
profundas.
Sem o Espírito andamos
divididos, nos falta a unidade, vivemos a fé como algo individual e privado,
custa reconhecermo-nos irmãos uns dos outros, membros da mesma comunidade
eclesial. Sem o Espírito ressaltamos mais o que nos divide e separa do que o que
nos une; aparecem as divisões e os “rótulos”. Quando não está o Espírito
aparece o pecado da divisão.
É sinal desta
realidade viva de Pentecostes a riqueza de carismas e de expressões
linguísticas na Igreja. Em todos os fieis se manifesta o mesmo e único Espírito
e assim se renova entre nós os prodígios de um Pentecostes permanente.
Cada um contribuindo com seus dons e polifonia para a unidade, coesão e difusão
da comunidade eclesial. O Espírito Santo é a "alma" deste Corpo,
desta Igreja e é sua força impulsionadora, missionária e criativa no mundo. O
Espírito Santo mantém a atividade da Igreja e nosso próprio esforço de
evangelização.Pe Assis
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