sábado, junho 07, 2014

Pentecostes uma realidade viva




Celebramos hoje, os cristãos católicos, o dia de Pentecostes, que encerra o Tempo Pascal, cenário litúrgico que junto a Quaresma, a Semana Santa e o próprio Tríduo Pascal, nos dá um período de quase 100 dias, sem duvida o segundo mais longo período litúrgico. Com efeito, o Mistério Pascal: a Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão do Senhor, encontram o seu cumprimento na efusão do Espírito Santo.
São Lucas nos Atos dos Apóstolos (cf. At 2,1-11) nos narra com beleza e plasticidade singulares aquela manhã de Pentecostes, em Jerusalém cinquenta dias depois da Páscoa. Acontecimentos extraordinários: um ruído como uma “forte rajada de vento” e “línguas de fogo” deixando todos repletos do Espírito Santo, tornando assim cada um dos apóstolos, transformados interiormente e tornados capaz de comunicar de modo novo as grandes maravilhas realizadas por Deus.
Todos os judeus presentes em Jerusalém, procedentes da “diáspora”, de várias regiões do Oriente e do Ocidente, a multidão que se aproximou para ver tão extraordinária realidade, pode escutar e entender os apóstolos e comentar assombrados: “Como é que cada um de nós os ouvimos falar, na nossa própria língua?” (At 2,8)
Pentecostes não foi algo íntimo, pessoal, privado, ou dentro de uma esfera mística. Foi visível e apreciado por muitas pessoas, o “vento”, o “fogo” e a capacidade dos apóstolos para fazerem-se entender em diversas línguas, fazem do Pentecostes um acontecimento linguístico.
A língua do Espírito é o Amor que torna possível aos apóstolos proclamar o Evangelho nas línguas e culturas de todos os povos, uma só mensagem se expressa em todas as línguas do mundo. O Espírito fala e se expressa em toda linguagem artística, tecnológica, religiosa etc.
Com Pentecostes tornou-se realidade a universalidade da mensagem evangélica. O Espírito escancara as portas do cenáculo e impele os apóstolos para sair. Eles não ficam, portanto, no cenáculo à espera que as pessoas os procurem; são eles que vão às pessoas. Sair, ir ao encontro dos pagãos significava colocar em discussão as próprias certezas religiosas; arriscar-se a ser contaminados. E, com efeito, quanta dificuldade, quantas resistências houve! Mas, o Espírito Santo que estava neles os encorajava e os tornava mais fortes diante do mundo que deviam converter.
O Espírito Santo impediu que a Igreja se tornasse uma “sinagoga”, um lugar fechado para escolhidos; O Espírito Santo realizou aquela universalidade tão querida por Jesus: “Ide a todas as nações.” (cf. Mt 28,19).

O Papa Francisco tem desafiado a Igreja a sair de si mesma, do centro, e ir para as ruas, às fronteiras. Seu pensamento recorrente e insistente frisa que “uma Igreja que não sai de si mesma adoece, cedo ou tarde, em meio à atmosfera pesada do seu próprio fechamento. É verdade, também, que uma Igreja que sai às ruas pode sofrer o que qualquer pessoa na rua pode sofrer: um acidente. Diante desta alternativa, quero lhes dizer francamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada a uma Igreja doente... se a Igreja inteira assume o dinamismo missionário, deve chegar a todos, sem exceções.”
A partir desse relato dos Atos dos Apóstolos deduzimos que toda a iniciativa missionária apostólica na difusão do Evangelho é ação do Espírito Santo. É o Espírito que dirige a Igreja e sugere as decisões.
Esse maravilhoso prodígio que está só começando no dia de Pentecostes continuará vivo e real ao longo de toda a história da Igreja. O Espírito Santo apenas iniciava o apoio divino e, portanto, humanamente extraordinário, à Igreja nascente. E com ele sua caminhada estava assegurada até o final dos tempos, segundo, também, outra promessa de Jesus: “Estou convosco todos os dias”. (cf. Mt 28,20)
O Evangelho de São João (cf. Jo 20,19-23) completa o relato dos Atos dos Apóstolos. Será o Cristo Ressuscitado quem abrirá aos apóstolos o caminho do Espírito Santo na mesma noite do Domingo da Ressurreição. O Ressuscitado “sopra”, insufla sobre eles o Espírito Santo e os envia em missão. Aquelas pessoas familiarizadas com o linguajar do Antigo Testamento conheciam bem a força criadora do Espírito de Deus.
O “sopro” de Jesus sobre os discípulos, como Deus Pai Criador soprando sobre o corpo inerte de Adão dando-lhe vida, vivifica-os como membros do seu Corpo Místico. Nasce aí a comunidade eclesial, sua Igreja. O medo que era como um freio que bloqueava a missão de testemunhar o Ressuscitado transforma-se, com a sua presença viva e real, e pela força do seu Espírito, em paz, alegria e missão.
Pentecostes é a representação de como a Igreja, nasce da Páscoa-Pentecostes e se abre à universalidade da missão. Na verdade, o Espírito Santo sempre esteve presente e foi o autêntico construtor da Igreja, desde os primeiros dias em que Jesus já não mais estava com eles.
A realidade é que durante muito tempo entre os fieis cristãos se teve o Espírito Santo como um “grande desconhecido”, mas a partir do Concílio Vaticano II e logo anos depois, com um incremento importante da atenção e culto ao Paráclito, e aí estão os grupos da renovação carismática católica, as coisas têm mudado muito. Mas, Pentecostes é muito mais que uma grande celebração litúrgica.
Às vezes temos a impressão que certos cristãos perderam a capacidade contemplativa e de admiração para descobrir a imensa e magnífica ação do Espírito no hoje da Igreja. Não quero aqui me referir tão somente às manifestações do maravilhoso na renovação carismática, a avalanche de fenômenos às vezes estranhos.
É necessário percebermos que o Espírito Santo agiu e age com e na Igreja. Vive-se na Igreja um Pentecostes real e permanente onde o Espírito atua, rege e forma, pela diversidade de carismas, dons, serviços e funções toda a comunidade eclesial.
É o Espírito quem rejuvenesce a Igreja com seus dons, corrige-a, renova-a e a santifica. É o Espírito que nos ilumina e nos abre o entendimento para compreender a profundidade da Palavra de Deus. É o Espírito que convoca, impulsiona, dá força a Igreja, aos seus membros na ação pastoral. Os concílios, assembleias episcopais, sínodos, são obra do Espírito que atua e unifica a Igreja.
Sem o Espírito, falta força interior que mova a Igreja a sair e anunciar aquilo que dá sentido a nossa fé e a nossa vida; falta liberdade, audácia, fraquejam nossas convicções mais profundas.
Sem o Espírito andamos divididos, nos falta a unidade, vivemos a fé como algo individual e privado, custa reconhecermo-nos irmãos uns dos outros, membros da mesma comunidade eclesial. Sem o Espírito ressaltamos mais o que nos divide e separa do que o que nos une; aparecem as divisões e os “rótulos”. Quando não está o Espírito aparece o pecado da divisão.
É sinal desta realidade viva de Pentecostes a riqueza de carismas e de expressões linguísticas na Igreja. Em todos os fieis se manifesta o mesmo e único Espírito e assim se renova entre nós os prodígios de um Pentecostes permanente.  Cada um contribuindo com seus dons e polifonia para a unidade, coesão e difusão da comunidade eclesial. O Espírito Santo é a "alma" deste Corpo, desta Igreja e é sua força impulsionadora, missionária e criativa no mundo. O Espírito Santo mantém a atividade da Igreja e nosso próprio esforço de evangelização.
Pe Assis

Nenhum comentário:

Postar um comentário