Hoje a Igreja celebra o maior
dia da história, porque com a ressurreição de Jesus se abre uma nova história,
uma nova esperança para toda a humanidade. Se é verdade que a morte de Jesus é
o começo, porque sua morte é redentora, a ressurreição mostra o que o Calvário
significa; assim, a Páscoa cristã adianta nosso destino. Da mesma maneira,
nossa morte também é o começo de algo novo, que se revela em nossa própria
ressurreição.
A passagem do Evangelho de João (Cf. Jo 20,1-9), que todos os
anos se proclama neste dia da Páscoa, nos propõe acompanhar Maria Madalena, Pedro e João à sensacional descoberta do
“túmulo vazio” que desencadeou uma série de reações.
O túmulo vazio é um símbolo da
morte e do seu silêncio humano; insinua-nos o assombro e a perplexidade de que
o Senhor não está no sepulcro; não pode estar ali quem entregou a vida para
sempre. No sepulcro não há vida, e Ele havia se apresentado como a ressurreição
e a vida (cf. Jo 11,25).
“No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de
madrugada, quando ainda estava escuro e, vê que a pedra fora retirada do
sepulcro. Corre, então e vai a Simão Pedro e ao outro discípulo, que Jesus
amava, e lhes diz: ‘Retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram’”
(v.1-2).
Maria Madalena descobre o
túmulo vazio, a ressurreição, mas não a pode interpretar, apenas chora. Em João
há um caprichado simbolismo da primazia de Pedro e do “discípulo amado”. Mas
não podemos esquecer que Maria Madalena no mesmo texto de Jo 20,11ss., ouvindo a
voz do Pastor, acredita e recebe uma missão extraordinária. Ainda que passando
por um processo de não “ver” o ressuscitado como o Jesus que havia conhecido,
mas sim “reconhecendo-o” de outra maneira mais íntima e pessoal. Mas, esta
mulher, desde logo, é testemunha da ressurreição.
Esta atitude de Maria, correr, é sinal evidente de que seu coração
batia fortemente por Jesus. O amor não faz esperar. Maria corre e vai informar
aos discípulos afirmando apenas que o túmulo está vazio. Esta carreira insinua seu
amor pelo Senhor. Assim Maria se apresenta junto a Pedro e ao discípulo amado
como símbolo e modelo do autêntico discípulo do Senhor, que deve ser sempre
movido por um amor vivo pelo Filho de Deus. Maria confessa Jesus como “Senhor”:
“Retiraram o Senhor do sepulcro...” (v. 2) Ela está movida por uma fé vivíssima no
Senhor Jesus e assim personifica todos os discípulos e discípulas de Cristo,
que reconhecem no crucificado o Senhor, o Filho de Deus e vivem para Ele. Para a fé e o coração desta mulher, a morte
de Jesus na Cruz e sua sepultura revelaram o seu Amor mais forte que a morte.
Segundo o autor do quarto evangelho, os dois seguidores de Jesus se
impressionaram com a notícia e se puseram em movimento: “Pedro saiu, então, com
o outro discípulo e se dirigiram ao sepulcro. Os dois corriam juntos, mas o
outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro.” (v.
3-4) Eles não permanecem
indiferentes nem inertes, mas tomam a sério o anúncio. Correram, não é verdade
que correr é próprio de quem ama? Para quem está apaixonado, não há obstáculo
que não vença para encontrar a pessoa amada.
O discípulo amado chega primeiro ao sepulcro, mas não entra, respeita
Pedro (v. 5). Ele vê um
pouco mais que Maria que só havia visto a pedra retirada do sepulcro, “viu os
panos de linho por terra, mas não entrou” (v. 5). Mas, Pedro vê ainda um pouco mais que o
discípulo amado: “Simão Pedro, entra no sepulcro; vê os panos de linho por
terra e o sudário, que cobrira a cabeça de Jesus. O sudário não estava com os
panos de linho no chão, mas dobrado em um lugar, à parte”. (v. 7) Este detalhe quer indicar que o cadáver do Mestre não havia sido
roubado. Já que os ladrões provavelmente não iriam ter este trabalho, de dobrar
os panos. Portanto Jesus se libertou a si mesmo dos panos, das amarras e do
sudário que o envolvia, à diferença de Lázaro, que devia ser desamarrado pelos
outros. (cf. Jo 11,44).
O túmulo vazio não é a prova, é simplesmente um sinal de que Jesus
venceu a morte e Pedro compreende o sinal. “Então, entrou o outro discípulo e
viu e creu” (v. 8). O discípulo amado agora entra na tumba, vê tudo o que viu Pedro e dá
um novo passo que este não deu: creu na ressurreição de Jesus.
O discípulo amado “viu” e “creu” na Escritura que anunciava “ele devia
ressuscitar dos mortos” (v. 9), para ele a ordem que reinava dentro da tumba foi suficiente. Não
necessitou de mais nada para crer.
A associação entre o “ver” e o “crer” (v. 8) formará de agora em diante um dos temas
centrais do resto do evangelho de João, descrevendo as aparições do ressuscitado
aos discípulos, para terminar dizendo na sua primeira carta: “O que era desde o
princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos, e
nossas mãos apalparam da Palavra da vida manifestou-se; nós vimos e damos
testemunho e vos anunciamos esta Vida eterna, que estava com o Pai e apareceu a
nós – o que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos...” (1Jo 1,1ss)
É tremendo o poder e a força do amor. Por
isso, é importantíssimo selecionar e cuidar dos nossos amores. Porque aonde
nossos amores nos levam, ali mergulhamos de cabeça. A Maria Madalena se lhe
havia perdoado muito, porque havia amado muito; João era o discípulo amado do
Senhor, Pedro o que havia negado Jesus e depois diante do ressuscitado
declarará também o seu amor ao Senhor (cf. Jo 21,15-17). Os três eram discípulos do amor. Se nós queremos
ressuscitar de nossas imensas travas interiores, se queremos viver como pessoas
ressuscitadas, temos que por em nosso corpo as asas do amor ao Cristo
Ressuscitado pelo Deus do amor.
Maria Madalena foi a primeira a correr ao
sepulcro, quando ainda estava escuro o dia e triste e obscura sua alma. Isto
parece aludir à amada que procura o amado “durante a noite” (cf. Ct 3,1). Era o
amor o que lhe dava luz e asas para levá-la ao seu amado. João correu mais que
Pedro que, no entanto entrou no túmulo vazio e, enquanto via o sepulcro assim,
creu na luz e na vida de seu amado Mestre.
“É preciso abrir os olhos do coração, é
preciso o amor, para correr e chegar primeiro, ver e acreditar. Compreendermos
que a fé é estimulada pelo amor. Nenhum sinal é capaz de dar a fé, é preciso
ultrapassar o ver para crer. A fé tem qualquer coisa de comum com a realidade
humana. Não vemos o amor dos que nos amam, mas vemos os sinais desse amor. Os
sinais têm um profundo significado para aqueles que os sabem interpretar... É
preciso amar para acreditar.” (Revista de
Liturgia e Pastoral, vol. 2, Braga-Portugal, Edições Licel, 2013.)
Provavelmente, aos cristãos de hoje nos
falta mais amor que doutrina. Muitas vezes queremos nos distinguir pela beleza
de nossos ritos, de nossa liturgia, e isto é bom; que nossa ação litúrgica seja
esteticamente bela, densa de espiritualidade e teologia. Mas, o que, de verdade
deve distinguir-nos, cristãos dos não cristãos, é o nosso amor a todos os outros,
sobretudo aos mais pobres e necessitados. Nisso conhecerão os outros que somos
discípulos do Ressuscitado, aquele que passou pelo mundo fazendo o bem e
curando os oprimidos, como disse São Pedro na casa do centurião Cornélio,
primeiro gentio a receber o anúncio da fé cristã: “Jesus de Nazaré passou
fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos, por que Deus estava com
Ele. Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez.” (cf. At 10,38-39)
Na manhã do Domingo a única preocupação dos três discípulos do Senhor
– Maria, Pedro e o Discípulo Amado – é buscar o Senhor, a Jesus morto sobre a
Cruz por amor e para a salvação de toda a humanidade. O amor os move a buscar o
Ressuscitado. Todos eles, cada um com sua contribuição vão delineando um
caminho de fé pascal. A busca amorosa do Senhor se converte logo em impulso
missionário, “anunciar aos outros”, se torna uma experiência contagiosa que os
envolve a todos, um atrás do outro, numa alegria contagiante.
Assim esta passagem nos ensina que o evento histórico da ressurreição
de Jesus não se conhece somente com frias especulações e provas, nem com
expressões eufóricas de júbilo, mas com uma linguagem feita de gestos de amor.
O ato de fé brota de um que se sente amado, que ama e corre em direção ao
amado, como diz Santo Agostinho: “Pode conhecer profundamente somente aquele
que se sente perfeitamente amado”.
Cheios de alegria pascal, sejamos nós também portadores da boa nova da
Páscoa: “O Senhor Jesus ressuscitou verdadeiramente, aleluia!
”
”
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