A força do olhar de amor e perdão
Às portas da semana santa,
semana do “amor maior”. No V Domingo desta Quaresma Penitencial, a Palavra de
Deus nos convida a olhar para o interior de nós mesmos fazendo um bom exame de
consciência, pensando no modo como julgamos ou muitas vezes condenamos as
atitudes daqueles que nos rodeiam, totalmente oposto ao olhar de amor de Jesus
no confronto com a agressividade e a violência com que os mais frágeis são
muitas vezes castigados.
O tempo da Quaresma, já quase no
seu final, a paixão de Jesus, deve produzir uma reflexão sobre nossas faltas e
ausências de amor ao próximo. Percorrendo esta ultima etapa deste itinerário de
conversão em direção à Páscoa, aproveitemos a oportunidade de conversão e
façamos a experiência do encontro com o amor, a ternura, o perdão e a
misericórdia de Deus no Sacramento da Reconciliação e da Penitência.
No centro do relato da “mulher
adúltera” (cf. Jo 8,1-11), muito provavelmente este episódio pertence aos
últimos dias da vida de Jesus, vemos uma mulher indefesa, ameaçada, talvez
agredida, enfrentando sozinha os seus acusadores. Talvez ela não estivesse arrependida,
mas com certeza estava perturbada, assustada e envergonhada. Ela é deixada só,
exposta diante da opinião pública com “o seu pecado”, jogada aos pés de Jesus. Esta
mulher é a imagem exata do que era, naquele tempo, a mulher na sociedade, considerada
uma propriedade do marido. Por isso o adultério mais do que um pecado de
luxúria era um pecado contra a propriedade.
“Mestre, esta mulher foi
surpreendida em flagrante delito de adultério. Na Lei Moisés nos ordena
apedrejar tais mulheres. Tu, pois, que dizes?” (vv. 4-5) O livro do Levítico diz que: “o
homem que cometer adultério com a mulher do seu próximo deverá morrer, tanto
ele como a sua cúmplice.” (Lv
20,10); e o Deuteronômio, exige: “os trareis ambos à porta da cidade e
os apedrejareis até que morram... deste modo extirparás o mal do teu meio.” (Dt 22,24) Claro que
Deus não exigiu isso, mas, a cultura da época impôs estas penas como exigências
morais. É óbvio que Jesus não pode estar de acordo com a pena de morte, nem com
a infâmia de que somente o ser considerado mais frágil (no caso a mulher) tenha
que pagar publicamente.
A leitura “profética” que
Jesus faz da lei põe em evidência uma religião e uma moral sem coração e sem
entranhas. Jesus não mandou buscar o “companheiro” para que juntos pagassem. O
que indigna a Jesus é a “dureza” de coração, camuflada no puritanismo de
aplicar uma lei tão injusta como
inumana. Os escribas e
fariseus se mostravam empenhados em salvar a letra da lei, ainda que para isso
tivessem que condenar pessoas; Jesus estava empenhado em salvar pessoas,
interpretando para isso a lei a partir da compreensão e do amor.
Jesus escuta atento as
acusações daqueles que haviam encontrado a mulher perdendo sua dignidade com um
qualquer e o que se lhe ocorre é precisamente devolvê-la para sempre. De nada
valia àquela mulher Ele lhe falar de um Deus libertador, se os responsáveis
pela lei abandonaram a mulher e a deixaram a mercê de sua própria sorte. Jesus,
pois, é o melhor intérprete do Deus Libertador que tem compaixão e escuta os
clamores e penas dos que sofrem todo o peso de uma sociedade e duma religião
sem misericórdia. Pouco lhe importa as histórias passadas daquela mulher. Para
o Senhor, o momento presente, é o mais essencial. E, o mais desprezível,
aqueles que sem ter poder para isso, se erguem em juízes dos defeitos dos
outros.
“Quem dentre vós estiver sem
pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra!” (v. 7) Quer dizer, se todos somos pecadores,
por que não somos mais humanos ao julgar os outros? “Embora todos sejamos
imperfeitos, acusando os outros como fiscais, julgamo-nos inocentes. VEJA MAIS AQUI!
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