Pe. José Assis

Na
liturgia da Palavra de hoje as mulheres ocupam um papel predominante e
positivo. Os textos sagrados da Palavra de Deus nos apresentam duas mulheres,
ambas viúvas e pobres. Mas as
perícopes não as apresentam somente como exemplo de pobreza, mas como exemplo
de generosidade. Elas foram capazes de dar-se a si mesmas. Estas mulheres
são de admirar, mas também questionam nossa fé. As duas deram tudo o que tinham
para viver e, portanto, naquela oferenda iam suas vidas por completo, sem
reservas. Ambas se fizeram oferenda e para isso tem que ter uma confiança muito
grande em Deus. Com seu gesto nos mostram sua grande fé em um Deus que sempre
está ao lado dos mais empobrecidos.
O
profeta Elias (séc. IX a.C.) chega a Sarepta e, dirige-se a uma viúva da cidade (cf. 1Rs
17,10-16) e pede-lhe água para beber e um pedaço de pão para comer. Naquela
situação dramática de seca e fome, a mulher está para preparar um
pão com o último punhado de farinha que ela tira da vasilha e as últimas gotas
de azeite que tem numa jarra, para
ela comer com o seu filho, antes de se deitar para esperar a morte.
Nessa
situação, por si só já humanamente dramática, o profeta Elias pede que ela lhe
dê esse pão que estava a ponto de meter no forno para cozê-lo. A mulher accede,
pois há uma espécie de instinto divino que a move a agir assim. É o dom da
generosidade que Deus concede aos que pouco ou nada têm. Não pensa em sua
sorte; pensa só em obedecer à voz de Deus que lhe chega por meio do profeta.
Desse
pão que a mulher reparte comem seu filho, ela e o profeta, multiplicando-se
assim milagrosamente. Cumpre-se a Palavra de Deus: “a vasilha de farinha não se esvaziará e a jarra de azeite
não acabará, até o dia em que Iahweh enviar a chuva sobre a terra.” (v.
14)
O episódio do Evangelho nos apresenta também uma
mulher excepcional (cf. Mc
12,38-44). Naquele dia, no templo, havia muitos ricos e uma
pobre viúva. Jesus vê os ricos, mas a sua atenção se volta para uma mulher cuja
pobreza é dupla, financeira e afetiva. Os ricos fazem muito barulho, “tocam
trombetas” tirando de suas bolsas as grandes somas depositadas no cofre das
ofertas. A mulher é discreta, só Jesus consegue ouvir cair no mesmo cofre as últimas
moedas que lhe restam, muito pouco, quase nada.
Mais do que uma personagem
pobre, nos encontramos ante o gesto que ela realiza ao deixar tudo no templo.
Um gesto que, graças ao olhar atento de Jesus, se converteu em proverbial:
"o óbolo da viúva" é sinônimo da generosidade de quem dá sem reservas
tudo ou o pouco que possui.
Sublinhemos o comentário final que faz Jesus
contrapondo aos que dão sua esmola com ostentação, oferecendo unicamente o que
lhes sobra, com a oferenda da viúva: “Esta viúva que é pobre lançou mais do que
todos os que ofereceram moedas no Tesouro. Pois todos os outros deram do que
lhes sobrava. Ela, porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que
possuía para viver”. (v. 43-44)
O ambiente onde se desenrola o episódio evangélico
é o templo de Jerusalém, centro religioso do povo de Israel e coração de toda
sua vida. O Templo é o lugar do culto público e solene, mas também da
peregrinação, dos ritos tradicionais e das disputas, como as que o Evangelho se
refere entre Jesus e os rabinos, nas quais, sem duvida, Jesus ensina com a
autoridade singular de ser o Filho de Deus. Pronúncia juízos severos, como os
sobre os escribas e fariseus, por causa de sua hipocrisia, pois enquanto ostentam
grande religiosidade, se aproveitam da gente pobre impondo-lhes obrigações que
eles mesmos não observam. Em suma, Jesus mostra seu afeto pelo templo como casa
de oração, mas precisamente por isso quer purificá-lo de usos impróprios, mais
ainda, quer revelar seu significado mais profundo: Jesus Cristo é o Templo novo
e definitivo, o lugar no qual se encontram Deus e as pessoas.
Esta humilde mulher se converte assim em modelo
ideal da consagração ao Reino de Deus, sem reservar para si nada. A viúva do
Evangelho é igual àquela de Sarepta, do Antigo Testamento que dá tudo, se dá a
si mesma, e se põe nas mãos de Deus pelo bem dos outros. Este é o significado
perene da oferta da viúva pobre, que Jesus exalta. Porque dá mais que os ricos,
que oferecem parte do que lhes sobra, enquanto que ela dá tudo o que tinha para
viver, e assim dá-se a si mesma. Uma bela mensagem e um chamado à generosidade.
Jesus Cristo é o verdadeiro testemunho, o grande
crente, que pôs nas mãos de Deus seu Pai, toda sua existência, sua vida
inteira. Ele deu sua vida por nós, sem reservar-se nada. Uma vez mais, Jesus não se contenta em
ver as aparências, procura ver o coração. Como seu Deus-Pai, Jesus ultrapassa
as aparências. Ele vê que aquilo que distingue a pobre viúva dos ricos, é o seu
coração. Parece que a mulher não barganhou ou negociou com Deus, não pensou nem
como iria viver a seguir, ela deu tudo, tudo o que tinha para viver. Os ricos
dão com boa consciência, a mulher dá com bom coração. E por isso diz Jesus, que
ela deu mais do que os ricos, não em quantidade, mas em generosidade.
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