Continuamos lendo o evangelho de Marcos
a partir de onde deixamos a semana passada. Jesus está em Cafarnaum e dedica-se
à formação dos seus discípulos. Havia chamado sua atenção a competição dos seus
discípulos pelos primeiros lugares e Ele os instruiu sobre o serviço e a
humildade, pondo uma criança no meio deles como ícone e exemplo dessa caridade
pastoral (cf. Mc 9, 35-37).
Hoje Jesus continua a ensinar aos seus
discípulos. Marcos reuniu em seu Evangelho
(cf. Mc 9, 38-48) um conjunto do “ditos” de Jesus para dizer que
em seu Reino não há lugares reservados, que toda pessoa que em seu nome faça as
obras que Ele faz, é contado entre seus discípulos. E também que o que for
causa de escândalo será excluído.
Às vezes o evangelho usa palavras duras
para tirar-nos de nossa inércia e a nos por em ação. É hora de deixar-nos
transformar por esta palavra. A primeira coisa que nos chama atenção é que a
comunidade cristã primitiva e já antes a comunidade judaica do deserto estão
marcadas pela limitação e imperfeição. É evidente a intolerância exclusivista
no que diz respeito a quem não pertence ao próprio grupo seja por parte de
Josué (cf. Nm 11,25-29) seja por
parte do Apóstolo João: "Mestre, vimos alguém que não nos segue,
expulsando demônios em teu nome, e o impedimos porque não nos seguia”. (Mc 9,38) Ora, Moisés
recebeu do Senhor, a ordem de transferir parte de sua graça espiritual a
setenta anciãos para que lhe ajudassem a instruir e governar o povo, porém dois
que não estavam presentes neste ato receberam assim mesmo o dom do Espírito e
começaram a atuar com aqueles outros. Josué que tinha um caráter impetuoso como
o de João, pediu a Moisés que aqueles dois deixassem de profetizar: "Moisés,
meu senhor, proíbe-os!” (Nm 9,28). A resposta da Moisés foi magnífica:
“Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta dando-lhe o Senhor o seu
Espírito!” (Nm 11,29)
Quem dera que todo o
povo de Deus profetizasse! Este profetismo que Moisés sinaliza está bem desenhado pelo Concílio Vaticano II
que apresenta a Igreja como “povo de Deus” e sinal, “Sacramento da
Reconciliação” para toda a humanidade, pondo em relevo a condição profética de
todos os cristãos batizados. Somos um povo de Profetas. O que o Senhor fez,
retirando uma parte do Espírito que estava em Moisés tem plena realização no
nosso Batismo. É-nos comunicado o Espírito de Deus em Jesus Cristo de modo que
todo cristão tem esta condição já que participa da missão profética de Jesus,
como membro do seu corpo, sua Igreja. O
profeta não é um adivinho, nem um visionário que anuncia coisas que vão
acontecer no futuro, mas alguém que ajuda a descobrir a presença Deus ou onde estão
as suas pegadas no mundo e, com o testemunho de sua vida, chama atenção para
que seus contemporâneos encontrem essa presença do Absoluto que continua falando-nos
nos ambientes mais insuspeitos. O profeta é aquele que fala em nome de Deus, seu
porta-voz, fazendo eco dos seus ensinamentos pela vida e pela palavra oportuna.
O profeta põe em destaque qual é o projeto de Deus para a humanidade e por onde
vão hoje os seus desígnios de salvação.
Jesus
descobre em sua vida pública um novo modo de ser profeta fundado no poder de
todo homem e mulher para mudar o mundo vencendo o mal com a força do bem. É uma
forma de “fazer milagres” e “expulsar demônios” porque todos temos a
possibilidade de dar o melhor de nós mesmos trabalhando por um mundo mais justo
e humano sinal do Reino de Deus. Neste sentido todos somos agentes desta
transformação ainda que não estejamos “inscritos” em um determinado grupo de
ação pastoral. É que nenhum grupo humano por mais elevado que seja tem a
exclusividade e o monopólio de fazer o bem. É a grande esperança que nos dá
Jesus ao dizer que aquele que estava fazendo o bem “não é dos nossos”, mas não
o impeçais, “pois não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo depois
possa falar mal de mim”. (Mc 9,39)
Mais na página de artigos Padre Assis pelo link : http://paroquiadefatimacg.blogspot.com.br/p/artigo-pe-assis.html
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