Estamos diante de uma coincidência do calendário. O
dia de São João Batista, 24 de junho, caiu este ano no Domingo e então
celebramos sua festa com a solenidade que nos marca a Liturgia. E vale a pena.
João Batista é um dos personagens mais enigmáticos e atraentes da Sagrada
Escritura.
Para muitos cristãos católicos, a devoção a um
santo ou santa equivale a recorrer preferencialmente a ele do que a um outro
para obter graças, curas, milagres. Entendida neste sentido, a devoção a São
João Batista constitui uma exceção porque não são referidos milagres feitos por
ele, nem na vida, nem depois de morto. E, no entanto, o seu culto se espalhou
rápida e surpreendentemente, tanto que nos primeiros séculos da era cristã já
era um culto universal. Em todos os lugares onde se falava dos episódios de sua
vida surgiram santuários e hoje é praticamente impossível encontrar uma igreja
paroquial ou uma capela que não tenha uma imagem ou quadro que o recorda.
Ser devoto de São João não significa dirigir-se a
ele para conseguir graças, mas para escutar suas palavras e acolher sua
mensagem, ele é um profeta. Havia séculos que em Israel não aparecia nenhum
profeta e o silêncio de Deus angustiava o povo. Quando apareceu João, filho de
Zacarias e Isabel, a alegria foi grande. Ele marca o fim da espera e introduz a
realização de tudo o que antes dele havia sido anunciado pelos profetas.
João é maior que Abraão, Moisés e Elias, porque
ninguém no Antigo Testamento teve uma missão como a que a ele foi confiada. A
sua missão supera a de todos os que o precederam. Ele desde o seio de sua mãe,
já tinha prevista sua missão de preparar o povo para acolher o Messias e o
indicá-lo já presente no mundo.
O Evangelho de São Lucas (cf. Lc 1,57-66.80) nos
relata o nascimento, circuncisão e imposição do nome do Precursor. Lucas conta
como Zacarias, recebeu a notícia de sua paternidade da boca de um anjo do
Senhor em um dos serviços religiosos que lhe tocou realizar como sacerdote do
Templo de Jerusalém. Ao entrar no santuário para oferecer incenso ficou sabendo
que o Senhor havia escutado suas orações para livrar sua mulher da
esterilidade. Ante suas duvidas, pela ancianidade e esterilidade de sua mulher,
e como prova que esse menino ia estar especialmente tocado por Deus, Zacarias
sai do culto sem poder falar. E assim permanecerá até a circuncisão do menino.
Quando Zacarias aceita o projeto que Deus tem para ele e para seu filho,
ratificando-o tudo com o nome de João, recupera a fala e louva a Deus.
“Ainda antes de nascer, João Batista foi precursor
do Messias para seu pai. Zacarias tinha assimilado a espiritualidade do seu
povo, acreditava no Deus legislador, no juiz severo que vigia sobre a
observância dos mandamentos e exige sacrifícios, holocaustos e incensos para ser
aplacado e perdoar os pecados. Zacarias não teria podido acolher a alegria do
mundo novo que estava para ter inicio sem uma conversão, sem uma mudança
radical da imagem de Deus que tinha concebido.
Deus tornou-o mudo durante nove meses. Quando lhe
nasce o filho, compreendeu: Deus é amor. Readquiriu a palavra e exclamou
«Yohanan!» - «O Senhor tem piedade, é benevolente, é ternura.” (Casarin, 2009.)
No mundo judeu o nome de uma pessoa indicava o
destino e a missão com a qual a pessoa tinha vindo ao mundo. Todas as pessoas,
pensavam, somos enviadas ao mundo por Deus com uma missão. Não nascemos para
nada, nascemos para cumprir a missão que Deus a encomendou. Neste sentido,
podemos dizer que nossa missão é nossa vocação: Deus nos chamou à vida para
cumprir uma missão determinada. Todos temos vocação para algo; todos somos
chamados à vida para algo. No caso da festa que hoje celebramos o nome de João
se refere à misericórdia de Deus com Zacarias e Isabel, ao conceder-lhes o
favor de conceber um menino quando eles já eram anciãos.
“O nascimento de João Batista foi um ato de
«misericórdia» de Deus em relação a Isabel. A «misericórdia» divina não é a
compaixão por quem é desprezível, mas a ternura, a intervenção do Senhor a
favor de quem precisa do seu auxílio. «Oito dias depois vieram circuncidar o
menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias.» A circuncisão era o sinal da
pertença ao povo da Aliança. No oitavo dia, João tornou-se um israelita, como
seu pai. É nesta altura que adquire importância o nome que recebe porque, para
os povos semitas, o nome indicava a identidade de uma pessoa, a sua condição,
as suas qualidades, o seu destino.
Zacarias significa O Senhor lembrou-se ou O Senhor
recorda as suas promessas. É o símbolo do povo de Israel o qual, durante todo o
tempo do Antigo Testamento, continuou a transmitir, de pai para filho, «a
lembrança» das profecias, apesar de nunca ver a sua realização.
No momento em que João Batista se torna membro do
seu povo, não pode chamar-se «Zacarias». Ele não dá simplesmente continuidade à
estirpe de seu pai – como pensam os seus parentes e vizinhos que não tiveram a
revelação celeste – mas assinala o inicio da nossa época. Acabou o tempo em que
se relembram as promessas, chegou o tempo em que se vê em atuação a bondade de Deus.
O anjo que apareceu a Zacarias indicou o nome desejado por Deus. «João» (Lc 1,13), que significa o Senhor tem piedade, manifestou a
Sua bondade, a Sua benevolência.” (Ibid. Casarin.)
João Batista cumpriu sua missão com fidelidade e
entrega. O exemplo de São João, desde seu nascimento até sua morte, deve
incitar-nos a descobrir nossa vocação e a ser fiéis a ela. Em nosso caso,
nossos nomes não querem indicar, em sua origem, a missão ou a vocação com a
qual Deus nos trouxe ao mundo. Geralmente, a muitos de nós escolheram nossos
nomes por motivos familiares, ou pelo santo do dia. Mas todos nós nascemos com
uma missão debaixo do braço. Descobrir esta missão desde pequenos é uma tarefa
importantíssima para o futuro desenvolvimento de nossa personalidade. E mais
importante ainda é ser fieis à missão ou vocação com que Deus nos trouxe ao
mundo. Não é necessário pensar que nossa missão tenha que ser algo grandioso ou
socialmente importante, é suficiente que seja importante para nós e boa para os
outros. Todos, somos chamados a colaborar na construção de uma sociedade mais
justa e melhor; essa já é uma missão digna e importantíssima, esforcemo-nos em
ser fieis a ela. Esta será uma boa maneira de celebrar com dignidade a festa da
natividade de São João Batista.
A
figura e a pregação de João Batista nos colocam perante a missão profética. Debaixo do
tórrido sol do deserto, vestido com uma pele de camelo sustentada por um
cinturão de couro, e um tosco cajado na mão grita com todo fôlego “o dia do
Senhor”. João Batista não
passava de um menino ainda quando se embrenhou no deserto e resolveu ali se
preparar para sua missão. Renunciou à sucessão do pai no serviço sacerdotal, a
fim de poder anunciar, com toda a liberdade, como “Profeta do Altíssimo Senhor”
o verdadeiro e supremo Sacerdote, Jesus Cristo.
Profeta
ele o foi, por seu nascimento, por sua pregação, por seu batismo e por sua
morte. João será o último profeta do Antigo Testamento. Ele representa a linha
divisória entre os dois Testamentos. Os profetas antigos predisseram a vinda do
Salvador, os apóstolos testemunharam que essa vinda ocorrera, mas só João pôde
apontar o Salvador presente na humanidade. A sua pregação foi o começo do
Evangelho de Jesus.
Embora
a perícope evangélica da liturgia de hoje não se refira a essa dimensão
profética da vida de João, convém também refletir acerca da forma como ele
viveu essa missão. Como João sabia escutar as expectativas do seu povo que
vivia num deserto simbólico, um lugar árido, privado de fontes de vida, assim
os cristãos devem sentir a sede e a fome do mundo, deve conhecer o deserto no
qual a pessoa moderna vive ou sobrevive. Um deserto feito, de palavras e coisas
vazias, superficiais, de imagens sem substância. Nessa aridez o cristão deve
descobrir poços novos e cada vez mais profundos de água viva.
Um
aspecto da pessoa de São João muito atual e provocador para a nossa sociedade
hoje e particularmente questionante, é a sua austeridade de vida, o seu
despojamento, sua radicalidade, coragem com que ele enfrentou os poderosos e
capacidade de dar a vida para defender a verdade. Estas características fazem
parte do “caminho profético”.
Vivemos
numa sociedade consumista onde uma publicidade sofisticada nos induz a consumir
cada vez mais. Convencendo-nos de que o supérfluo é uma necessidade
irrenunciável. João Batista relembra-nos a espiritualidade do deserto onde a
pessoa é reconduzida às suas necessidades e de onde desaparecem as coisas
refinadas. A bebida é a água e o alimento é o pão. O regresso a uma vida alegre
e simples, atenta às necessidades primárias é condição indispensável, nos
indica São João, para recuperar a sensibilidade espiritual aos apelos de Deus.
É que a alegria, quando se põe no mais íntimo do
ser não consiste em possuir muitas coisas, quando nasce do coração e não dos
sentidos, é alegria sincera e se configura com a austeridade e simplicidade da
vida, como a pele de camelo e o mel silvestre, como João.
A alegria é um dom, não é o muito ter o que alegra
o coração e sim o saber gozar do pouco que se tem com o coração
agradecido. A alegria cristã se apóia na
paz interior e na segurança de que estamos nas mãos de Deus e que, ainda que
nosso caminho não seja fácil, não só está sinalizado por Deus, mas que o próprio
Deus se nos faz companheiro de nosso caminho.
Mas onde está a figura de São João tão popularmente
envolto numa atmosfera de festa e de alegria? Sem duvida, a primeira coisa que diz
o Evangelho ao falar de João, já antes de seu nascimento é a alegria. A Zacarias
seu pai, lhe disse o anjo que é por esse filho que o seu coração de ancião se
encherá de alegria. Não só isso: esse menino que virá será a alegria de muitos.
E é sua mãe, Isabel, a que testemunha em seu encontro com a Virgem Maria que o
filho de suas entranhas saltou de alegria em seu ventre ao ouvir sua voz. E João
em sua vida teve mais motivos de alegria… A alegria de saber-se escolhido como a voz que anuncia o Messias. A alegria de ver aquela gente simples,
ainda pecadora, vindo para que ele os batizasse arrependidos de seus pecados. Alegria sincera, simples e humilde de
saber-se menor que Jesus e de sentir-se feliz em que Jesus cresça e ele
diminua. Alegria paradoxal ao
ser encarcerado por proclamar e defender a verdade ante Herodes. Alegria também ao dar ao final sua vida
por essa mesma verdade. E uma alegria
lhe ficaria por experimentar a de saber do grande elogio que Jesus fez dele
dizendo que era o maior dos nascidos de mulher.
Bibliografia
Textos e referências bíblicas:
Bíblia de Jerusalém, São Paulo, Paulus, 2002.
Csarin, Giuseppe. (org.)
Lecionário Comentado. Regenerados pela Palavra de Deus. Lisboa, Paulus, 2009.
Somos nós os novos “Pedro” e “Paulo”
Celebramos
hoje, aqui no Brasil, a solenidade de São Pedro e São Paulo. A Páscoa de Jesus
Cristo, na vida e no ministério destes dois Apóstolos que são considerados “colunas”
desse grande edifício espiritual que é a Igreja. O seu empenho missionário e à evangelização, aliado ao cuidado com a
unidade da Igreja nascente os levou ao sincero desapego da própria vida e ao derradeiro
sacrifício, o martírio que os uniu.
Pedro
e Paulo tinham personalidades distintas, suas histórias começam pela
experiência do encontro pessoal com Jesus. Pedro o encontrou às margens do lago
de Tiberíades, quando era pescador; Paulo no caminho de Damasco, enquanto
perseguia os cristãos. Ambos professaram a mesma fé, mas cada um a viveu em
conformidade com seu temperamento, suas convicções e seus sentimentos mais
profundos.
“Depois de Jesus,
Pedro é o personagem mais conhecido e citado nos escritos do Novo Testamento...
Simão aparece nos Evangelhos como uma personalidade decidida e impulsiva: está
disposto a impor suas opiniões inclusive à força (basta lembrar que usou a espada
no Jardim das Oliveiras) (cf.
Jo 18,10ss). Ao mesmo tempo, é às vezes ingênuo e medroso, mas
honesto, até o arrependimento mais sincero (cf. Mt 26,75).
Ao narrar o primeiro
encontro de Jesus com Simão, irmão de André, o evangelista João registra um
evento singular: «Jesus fitou-o e disse: És Simão, o filho de João. Chamarte-ás
Cefas (que quer dizer Pedro). Não era costume de Jesus mudar o nome dos
discípulos... Mas fez isso com Simão, chamando-o de «Cefas»... Esse fato
adquire importância especial quando se tem em mente que no Antigo Testamento
uma mudança de nome em geral prenunciava a atribuição de uma missão. «Eu te
digo que tu és Pedro, e sobre esa pedra edificarei a minha Igreja... Eu te
darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na Terra será ligado nos
Céus, e o que desligares na Terra será desligado nos Céus.» (Mt 16,18-19) As três metáforas empregadas por Jesus
são muito claras: Pedro será o fundamento rochoso sobre o qual Ele apoiará o
edifício da Igreja; ele terá as chaves do Reino dos Céus para abri-lo ou
fechá-lo a quem lhe parecer justo; por fim, ele poderá ligar ou desligar, no
sentido de estabelecer ou proibir o que considerar necessário para a vida da Igreja.
É sempre a Igreja de Cristo, não de Pedro. Pedro deve ser o guardião da
comunhão com Cristo; ele deve guiar o povo à comunhão com Cristo; ele deve
tomar medidas para que a comunhão universal perdure. Somente juntos podemos
estar com Cristo, que é o Senhor de todos.” (Bento XVI, 2008.)
O texto dos Atos dos Apóstolos (cf. At
12,1-11) narra com abundância de detalhes um episódio que mostra a intervenção libertadora
do “Anjo do Senhor” libertando Pedro da prisão em Jerusalém, onde o rei Herodes
o tinha encarcerado, sob estrita vigilância dos soldados. “Lucas, com o seu
estilo característico e com a sua linguagem estritamente bíblica, diz ao leitor
o que realmente aconteceu: Deus intervém por meio do anjo. É-nos narrado o que
se passou na cela da prisão e o processo da sua libertação. Pedro «dormia»,
isto é, no referido processo de libertação, o seu comportamento foi
completamente passivo... Está a dormir, e teria dormido toda a noite se não
tivesse sido acordado pelo anjo. Quando acorda, fica completamente desorientado,
não sabe que fazer, limita-se a cumprir as ordens que o anjo lhe dá. Em suma a
libertação é obra de Deus e não sua.” (Bíblia Litúrgica)
Paulo, ao contrário, escrevendo da prisão, a
Timóteo (cf. 2Tm 4,6-8.17-18) diante da
certeza de sua morte, prestes a ser sacrificado, tem a consciência tranquila. Equipara-se
a um lutador que cumpriu todas as regras do combate e que agora recebe o prêmio
da vitória: ele faz assim um balanço da sua vida, da sua experiência apostólica
totalmente dedicada a proclamar e preservar a fé cristã, convencido de que o
Senhor sempre esteve bem perto dele libertando-o de tantos perigos e ainda o
libertará: “O Senhor me libertará de toda obra maligna e me guardará para o seu
Reino celeste”. (v. 18)
“Certamente, depois
de Jesus, Paulo é o personagem das origens sobre o qual mais temos informações.
De fato possuímos não só o relato de Lucas nos Atos dos Apóstolos, mas também
um conjunto de Epístolas escritas diretamente por ele e, que, sem
intermediários, revelam a sua personalidade e o seu pensamento... Ele se
definirá expliciamente como «apóstolo por vocação» (cf. Rm 1,1; 1Cor 1,1) ou «apóstolo pela
vontade de Deus» (cf. 2Cor 1,1; Ef
1,1; Cl 1,1), como a enfatizar que a sua conversão não foi resultado
de um desenvolvimento de pensamentos, de reflexões, mas fruto da intervenção
divina, de uma imprevisível graça divina.
Desse momento em
diante, tudo o que constituira para ele um valor tornou-se paradoxalmente,
segundo suas palavras, perda e esterco. (cf. Fl 3,7-10) E daí para a frente todas as suas energias foram postas
ao serviço exclusivo de Jesus Cristo e do seu Evangelho.
Tiramos daqui uma
lição muito importante para nós: o que conta é por Jesus Cristo no centro da
nossa vida, de modo que a nossa identidade seja marcada essencialmente pelo
encontro, pela comunhão com Cristo e com a sua Palavra. À sua luz todo outro
valor é recuperado e purificado de eventuais escórias.
Outra lição
fundamental oferecida por Paulo é o fôlego que caracteriza o seu apostolado.
Sentindo agudamente o problema do acesso dos gentios, isto é, dos pagãos, a
Deus... Desde o primeiro momento ele compreendeu que essa é uma realidade que
não dizia respeito apenas aos judeus ou a um certo grupo de homens, mas que
tinha um valor universal a todos, porque Deus é o Deus de todos. Como não
admirar um homem assim? Como não agradecer por nos ter dado um Apóstolo dessa
estatura?“ (Ibid. Bento XVI.)
No trecho evangélico Mateus (cf. Mt 16,13-19) não fala dos Apóstolos
individualmente, mas da Igreja no seu conjunto e da sua segurança em relação às
forças do mal, entendidas no sentido amplo e profundo.
“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Hades (potências do mal) nunca
prevalecerão contra ela.” (v.18) O apelido
“Pedro” dado a Simão não era apto para caracterizar o temperamento ou o caráter
do Apóstolo, pois aquilo que distingue a sua personalidade não é precisamente a
dureza ou firmeza da pedra, mas antes a debilidade, a mobilidade e até a inconsistência.
Pedro
era titubeante em suas convicções, mas foi sempre sincero, espontâneo, disposto
a reconhecer e a chorar seus erros. Se Jesus o chama de “pedra” é em razão da função ou
cargo em que há de investi-lo.
A palavra pedra (do grego “Pétros”) se usa na
linguagem comum e também em arquitetura ou engenharia para fazer referência a
qualquer material caracterizado por uma elevada resistência. Encontramos muitos
fragmentos das escrituras nas quais as pedras são elementos de referência. Nem
sempre essas referências são construtivas, onde o termo pedra ou rocha
representa um lugar de segurança, proteção e refúgio, mas ás vezes também
encontramos a expressão em momentos nos quais provocam sofrimento e dor.
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha
Igreja”. Aqui nos encontramos com uma das referências mais claras de fortaleza
e segurança com a qual Jesus fazia seus irmãos participantes da construção do Reino
de Deus. Deus não quer super-homens para levar a cabo
seu Reino. Deus quer respostas. Somos nós os novos “Pedro” e os novos “Paulo”. Mesmo
com nossas histórias (boas ou más), limitações, que não são poucas, com os
caminhos às vezes contrários à fé, mesmo sendo como somos, e olha que somos
complicados! Deus segue contando conosco, essa carne fraca e pecadora que somos
nós homens e mulheres de nosso tempo: põe o tesouro do seu Reino em nossas mãos,
põe a sua Igreja em nossos ombros e não em ombros de anjos.
Tomara que com o exemplo de Pedro e
Paulo sejamos capazes de oferecer a Deus nossa vida de tal maneira que nos
sintamos menos super-homens e mais amigos de Deus.
Deveríamos hoje nos perguntar se nós, cristãos do
século XXI, seguimos confiando em nossa Igreja, em nosso Papa representado na
imagem de Pedro que se consolidou. Ou são muitas as referências que ultimamente
provocam sofrimento e dor e não nos permitem ser confiantes no que Jesus nos
mostrou? Não é difícil ver hoje como os poderes hostis se assanham contra a
Igreja, contra o Papa. Não atiremos pedras sobre nosso próprio telhado, como se
diz popularmente, e sejamos nós os que empreendamos esse movimento de
confiança, de escuta, de ajuda, de proximidade. Que saibamos fazer ver e sentir
que nossa forma de vida está assentada sobre uma rocha, base sólida, íntegra. Ponhamos
a primeira pedra em uma forma de fazer comunidade diferente, reconhecendo que a
ética, a justiça, a verdade é o que há que defender. Nestes tempos, não podemos
proteger a quem atira a pedra e esconde a mão, porque estaríamos atuando da
mesma forma.
Se pensarmos nos dois milênios de história até os
dias atuais, desta Igreja de Cristo, podemos observar que nunca faltaram para
os cristãos as perseguições Mas, apesar dos sofrimentos que provocam, não
constitui as perseguições o perigo mais grave para a Igreja. O dano maior, o
que ameaça seriamente a Igreja é tudo aquilo que polui a fé e a vivência cristã
dos seus membros e das suas comunidades, corrompendo, enfraquecendo a sua
capacidade profética e de testemunho, a infidelidade ao Evangelho. No entanto temos
uma certeza de libertação garantida por Deus à sua Igreja, liberdade quer dos
vínculos materiais que procuram impedir ou limitar a sua missão, quer dos males
espirituais e morais, que podem corroer a sua autenticidade e credibilidade. “As
portas das potências do mal nunca prevalecerão contra ela.”
Eu
creio que isto, para nós, homens e mulheres cristãos católicos do século XXI, é
o que não devemos permitir que se nunca se ponha em duvida.
Bibliografia:
Textos e referências bíblicas: Bíblia de
Jerusalém, São Paulo, Paulus, 2002.
Bento XVI. Os Apóstolos,
uma introdução às origens da fé cristã. São Paulo, Editora Pensamento,
2008.
Vários
Autores. Comentários á Bíblia Litúrgica. Palheira, Gráfica de Coimbra 2
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