sábado, junho 30, 2012

Padre José Assis Pereira Soares - Hoje temos dois Artigos


 1 - Quando nasce um profeta
Estamos diante de uma coincidência do calendário. O dia de São João Batista, 24 de junho, caiu este ano no Domingo e então celebramos sua festa com a solenidade que nos marca a Liturgia. E vale a pena. João Batista é um dos personagens mais enigmáticos e atraentes da Sagrada Escritura.
Para muitos cristãos católicos, a devoção a um santo ou santa equivale a recorrer preferencialmente a ele do que a um outro para obter graças, curas, milagres. Entendida neste sentido, a devoção a São João Batista constitui uma exceção porque não são referidos milagres feitos por ele, nem na vida, nem depois de morto. E, no entanto, o seu culto se espalhou rápida e surpreendentemente, tanto que nos primeiros séculos da era cristã já era um culto universal. Em todos os lugares onde se falava dos episódios de sua vida surgiram santuários e hoje é praticamente impossível encontrar uma igreja paroquial ou uma capela que não tenha uma imagem ou quadro que o recorda.
Ser devoto de São João não significa dirigir-se a ele para conseguir graças, mas para escutar suas palavras e acolher sua mensagem, ele é um profeta. Havia séculos que em Israel não aparecia nenhum profeta e o silêncio de Deus angustiava o povo. Quando apareceu João, filho de Zacarias e Isabel, a alegria foi grande. Ele marca o fim da espera e introduz a realização de tudo o que antes dele havia sido anunciado pelos profetas.
João é maior que Abraão, Moisés e Elias, porque ninguém no Antigo Testamento teve uma missão como a que a ele foi confiada. A sua missão supera a de todos os que o precederam. Ele desde o seio de sua mãe, já tinha prevista sua missão de preparar o povo para acolher o Messias e o indicá-lo já presente no mundo.   
O Evangelho de São Lucas (cf. Lc 1,57-66.80) nos relata o nascimento, circuncisão e imposição do nome do Precursor. Lucas conta como Zacarias, recebeu a notícia de sua paternidade da boca de um anjo do Senhor em um dos serviços religiosos que lhe tocou realizar como sacerdote do Templo de Jerusalém. Ao entrar no santuário para oferecer incenso ficou sabendo que o Senhor havia escutado suas orações para livrar sua mulher da esterilidade. Ante suas duvidas, pela ancianidade e esterilidade de sua mulher, e como prova que esse menino ia estar especialmente tocado por Deus, Zacarias sai do culto sem poder falar. E assim permanecerá até a circuncisão do menino. Quando Zacarias aceita o projeto que Deus tem para ele e para seu filho, ratificando-o tudo com o nome de João, recupera a fala e louva a Deus.
“Ainda antes de nascer, João Batista foi precursor do Messias para seu pai. Zacarias tinha assimilado a espiritualidade do seu povo, acreditava no Deus legislador, no juiz severo que vigia sobre a observância dos mandamentos e exige sacrifícios, holocaustos e incensos para ser aplacado e perdoar os pecados. Zacarias não teria podido acolher a alegria do mundo novo que estava para ter inicio sem uma conversão, sem uma mudança radical da imagem de Deus que tinha concebido.
Deus tornou-o mudo durante nove meses. Quando lhe nasce o filho, compreendeu: Deus é amor. Readquiriu a palavra e exclamou «Yohanan!» - «O Senhor tem piedade, é benevolente, é ternura.” (Casarin, 2009.)
No mundo judeu o nome de uma pessoa indicava o destino e a missão com a qual a pessoa tinha vindo ao mundo. Todas as pessoas, pensavam, somos enviadas ao mundo por Deus com uma missão. Não nascemos para nada, nascemos para cumprir a missão que Deus a encomendou. Neste sentido, podemos dizer que nossa missão é nossa vocação: Deus nos chamou à vida para cumprir uma missão determinada. Todos temos vocação para algo; todos somos chamados à vida para algo. No caso da festa que hoje celebramos o nome de João se refere à misericórdia de Deus com Zacarias e Isabel, ao conceder-lhes o favor de conceber um menino quando eles já eram anciãos.
“O nascimento de João Batista foi um ato de «misericórdia» de Deus em relação a Isabel. A «misericórdia» divina não é a compaixão por quem é desprezível, mas a ternura, a intervenção do Senhor a favor de quem precisa do seu auxílio. «Oito dias depois vieram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias.» A circuncisão era o sinal da pertença ao povo da Aliança. No oitavo dia, João tornou-se um israelita, como seu pai. É nesta altura que adquire importância o nome que recebe porque, para os povos semitas, o nome indicava a identidade de uma pessoa, a sua condição, as suas qualidades, o seu destino.
Zacarias significa O Senhor lembrou-se ou O Senhor recorda as suas promessas. É o símbolo do povo de Israel o qual, durante todo o tempo do Antigo Testamento, continuou a transmitir, de pai para filho, «a lembrança» das profecias, apesar de nunca ver a sua realização.
No momento em que João Batista se torna membro do seu povo, não pode chamar-se «Zacarias». Ele não dá simplesmente continuidade à estirpe de seu pai – como pensam os seus parentes e vizinhos que não tiveram a revelação celeste – mas assinala o inicio da nossa época. Acabou o tempo em que se relembram as promessas, chegou o tempo em que se vê em atuação a bondade de Deus. O anjo que apareceu a Zacarias indicou o nome desejado por Deus. «João» (Lc 1,13), que significa o Senhor tem piedade, manifestou a Sua bondade, a Sua benevolência.” (Ibid. Casarin.)
João Batista cumpriu sua missão com fidelidade e entrega. O exemplo de São João, desde seu nascimento até sua morte, deve incitar-nos a descobrir nossa vocação e a ser fiéis a ela. Em nosso caso, nossos nomes não querem indicar, em sua origem, a missão ou a vocação com a qual Deus nos trouxe ao mundo. Geralmente, a muitos de nós escolheram nossos nomes por motivos familiares, ou pelo santo do dia. Mas todos nós nascemos com uma missão debaixo do braço. Descobrir esta missão desde pequenos é uma tarefa importantíssima para o futuro desenvolvimento de nossa personalidade. E mais importante ainda é ser fieis à missão ou vocação com que Deus nos trouxe ao mundo. Não é necessário pensar que nossa missão tenha que ser algo grandioso ou socialmente importante, é suficiente que seja importante para nós e boa para os outros. Todos, somos chamados a colaborar na construção de uma sociedade mais justa e melhor; essa já é uma missão digna e importantíssima, esforcemo-nos em ser fieis a ela. Esta será uma boa maneira de celebrar com dignidade a festa da natividade de São João Batista.
A figura e a pregação de João Batista nos colocam perante a missão profética. Debaixo do tórrido sol do deserto, vestido com uma pele de camelo sustentada por um cinturão de couro, e um tosco cajado na mão grita com todo fôlego “o dia do Senhor”. João Batista não passava de um menino ainda quando se embrenhou no deserto e resolveu ali se preparar para sua missão. Renunciou à sucessão do pai no serviço sacerdotal, a fim de poder anunciar, com toda a liberdade, como “Profeta do Altíssimo Senhor” o verdadeiro e supremo Sacerdote, Jesus Cristo.
Profeta ele o foi, por seu nascimento, por sua pregação, por seu batismo e por sua morte. João será o último profeta do Antigo Testamento. Ele representa a linha divisória entre os dois Testamentos. Os profetas antigos predisseram a vinda do Salvador, os apóstolos testemunharam que essa vinda ocorrera, mas só João pôde apontar o Salvador presente na humanidade. A sua pregação foi o começo do Evangelho de Jesus.  
Embora a perícope evangélica da liturgia de hoje não se refira a essa dimensão profética da vida de João, convém também refletir acerca da forma como ele viveu essa missão. Como João sabia escutar as expectativas do seu povo que vivia num deserto simbólico, um lugar árido, privado de fontes de vida, assim os cristãos devem sentir a sede e a fome do mundo, deve conhecer o deserto no qual a pessoa moderna vive ou sobrevive. Um deserto feito, de palavras e coisas vazias, superficiais, de imagens sem substância. Nessa aridez o cristão deve descobrir poços novos e cada vez mais profundos de água viva.
Um aspecto da pessoa de São João muito atual e provocador para a nossa sociedade hoje e particularmente questionante, é a sua austeridade de vida, o seu despojamento, sua radicalidade, coragem com que ele enfrentou os poderosos e capacidade de dar a vida para defender a verdade. Estas características fazem parte do “caminho profético”.
Vivemos numa sociedade consumista onde uma publicidade sofisticada nos induz a consumir cada vez mais. Convencendo-nos de que o supérfluo é uma necessidade irrenunciável. João Batista relembra-nos a espiritualidade do deserto onde a pessoa é reconduzida às suas necessidades e de onde desaparecem as coisas refinadas. A bebida é a água e o alimento é o pão. O regresso a uma vida alegre e simples, atenta às necessidades primárias é condição indispensável, nos indica São João, para recuperar a sensibilidade espiritual aos apelos de Deus.
É que a alegria, quando se põe no mais íntimo do ser não consiste em possuir muitas coisas, quando nasce do coração e não dos sentidos, é alegria sincera e se configura com a austeridade e simplicidade da vida, como a pele de camelo e o mel silvestre, como João. 
A alegria é um dom, não é o muito ter o que alegra o coração e sim o saber gozar do pouco que se tem com o coração agradecido.  A alegria cristã se apóia na paz interior e na segurança de que estamos nas mãos de Deus e que, ainda que nosso caminho não seja fácil, não só está sinalizado por Deus, mas que o próprio Deus se nos faz companheiro de nosso caminho.
Mas onde está a figura de São João tão popularmente envolto numa atmosfera de festa e de alegria? Sem duvida, a primeira coisa que diz o Evangelho ao falar de João, já antes de seu nascimento é a alegria. A Zacarias seu pai, lhe disse o anjo que é por esse filho que o seu coração de ancião se encherá de alegria. Não só isso: esse menino que virá será a alegria de muitos. E é sua mãe, Isabel, a que testemunha em seu encontro com a Virgem Maria que o filho de suas entranhas saltou de alegria em seu ventre ao ouvir sua voz. E João em sua vida teve mais motivos de alegria… A alegria de saber-se escolhido como a voz que anuncia o Messias. A alegria de ver aquela gente simples, ainda pecadora, vindo para que ele os batizasse arrependidos de seus pecados. Alegria sincera, simples e humilde de saber-se menor que Jesus e de sentir-se feliz em que Jesus cresça e ele diminua. Alegria paradoxal ao ser encarcerado por proclamar e defender a verdade ante Herodes. Alegria também ao dar ao final sua vida por essa mesma verdade. E uma alegria lhe ficaria por experimentar a de saber do grande elogio que Jesus fez dele dizendo que era o maior dos nascidos de mulher.


Bibliografia
Textos e referências bíblicas: Bíblia de Jerusalém, São Paulo, Paulus, 2002.
Csarin, Giuseppe. (org.) Lecionário Comentado. Regenerados pela Palavra de Deus. Lisboa, Paulus, 2009. 
Somos nós os novos “Pedro” e “Paulo”


Celebramos hoje, aqui no Brasil, a solenidade de São Pedro e São Paulo. A Páscoa de Jesus Cristo, na vida e no ministério destes dois Apóstolos que são considerados “colunas” desse grande edifício espiritual que é a Igreja. O seu empenho missionário e à evangelização, aliado ao cuidado com a unidade da Igreja nascente os levou ao sincero desapego da própria vida e ao derradeiro sacrifício, o martírio que os uniu.
Pedro e Paulo tinham personalidades distintas, suas histórias começam pela experiência do encontro pessoal com Jesus. Pedro o encontrou às margens do lago de Tiberíades, quando era pescador; Paulo no caminho de Damasco, enquanto perseguia os cristãos. Ambos professaram a mesma fé, mas cada um a viveu em conformidade com seu temperamento, suas convicções e seus sentimentos mais profundos.
“Depois de Jesus, Pedro é o personagem mais conhecido e citado nos escritos do Novo Testamento... Simão aparece nos Evangelhos como uma personalidade decidida e impulsiva: está disposto a impor suas opiniões inclusive à força (basta lembrar que usou a espada no Jardim das Oliveiras) (cf. Jo 18,10ss). Ao mesmo tempo, é às vezes ingênuo e medroso, mas honesto, até o arrependimento mais sincero (cf. Mt 26,75).
Ao narrar o primeiro encontro de Jesus com Simão, irmão de André, o evangelista João registra um evento singular: «Jesus fitou-o e disse: És Simão, o filho de João. Chamarte-ás Cefas (que quer dizer Pedro). Não era costume de Jesus mudar o nome dos discípulos... Mas fez isso com Simão, chamando-o de «Cefas»... Esse fato adquire importância especial quando se tem em mente que no Antigo Testamento uma mudança de nome em geral prenunciava a atribuição de uma missão. «Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esa pedra edificarei a minha Igreja... Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e o que desligares na Terra será desligado nos Céus.» (Mt 16,18-19) As três metáforas empregadas por Jesus são muito claras: Pedro será o fundamento rochoso sobre o qual Ele apoiará o edifício da Igreja; ele terá as chaves do Reino dos Céus para abri-lo ou fechá-lo a quem lhe parecer justo; por fim, ele poderá ligar ou desligar, no sentido de estabelecer ou proibir o que considerar necessário para a vida da Igreja. É sempre a Igreja de Cristo, não de Pedro. Pedro deve ser o guardião da comunhão com Cristo; ele deve guiar o povo à comunhão com Cristo; ele deve tomar medidas para que a comunhão universal perdure. Somente juntos podemos estar com Cristo, que é o Senhor de todos.” (Bento XVI, 2008.)

O texto dos Atos dos Apóstolos (cf. At 12,1-11) narra com abundância de detalhes um episódio que mostra a intervenção libertadora do “Anjo do Senhor” libertando Pedro da prisão em Jerusalém, onde o rei Herodes o tinha encarcerado, sob estrita vigilância dos soldados. “Lucas, com o seu estilo característico e com a sua linguagem estritamente bíblica, diz ao leitor o que realmente aconteceu: Deus intervém por meio do anjo. É-nos narrado o que se passou na cela da prisão e o processo da sua libertação. Pedro «dormia», isto é, no referido processo de libertação, o seu comportamento foi completamente passivo... Está a dormir, e teria dormido toda a noite se não tivesse sido acordado pelo anjo. Quando acorda, fica completamente desorientado, não sabe que fazer, limita-se a cumprir as ordens que o anjo lhe dá. Em suma a libertação é obra de Deus e não sua.” (Bíblia Litúrgica)
Paulo, ao contrário, escrevendo da prisão, a Timóteo (cf. 2Tm 4,6-8.17-18) diante da certeza de sua morte, prestes a ser sacrificado, tem a consciência tranquila. Equipara-se a um lutador que cumpriu todas as regras do combate e que agora recebe o prêmio da vitória: ele faz assim um balanço da sua vida, da sua experiência apostólica totalmente dedicada a proclamar e preservar a fé cristã, convencido de que o Senhor sempre esteve bem perto dele libertando-o de tantos perigos e ainda o libertará: “O Senhor me libertará de toda obra maligna e me guardará para o seu Reino celeste”. (v. 18)
“Certamente, depois de Jesus, Paulo é o personagem das origens sobre o qual mais temos informações. De fato possuímos não só o relato de Lucas nos Atos dos Apóstolos, mas também um conjunto de Epístolas escritas diretamente por ele e, que, sem intermediários, revelam a sua personalidade e o seu pensamento... Ele se definirá expliciamente como «apóstolo por vocação» (cf. Rm 1,1; 1Cor 1,1) ou «apóstolo pela vontade de Deus» (cf. 2Cor 1,1; Ef 1,1; Cl 1,1), como a enfatizar que a sua conversão não foi resultado de um desenvolvimento de pensamentos, de reflexões, mas fruto da intervenção divina, de uma imprevisível graça divina.
Desse momento em diante, tudo o que constituira para ele um valor tornou-se paradoxalmente, segundo suas palavras, perda e esterco. (cf. Fl 3,7-10) E daí para a frente todas as suas energias foram postas ao serviço exclusivo de Jesus Cristo e do seu Evangelho.
Tiramos daqui uma lição muito importante para nós: o que conta é por Jesus Cristo no centro da nossa vida, de modo que a nossa identidade seja marcada essencialmente pelo encontro, pela comunhão com Cristo e com a sua Palavra. À sua luz todo outro valor é recuperado e purificado de eventuais escórias.
Outra lição fundamental oferecida por Paulo é o fôlego que caracteriza o seu apostolado. Sentindo agudamente o problema do acesso dos gentios, isto é, dos pagãos, a Deus... Desde o primeiro momento ele compreendeu que essa é uma realidade que não dizia respeito apenas aos judeus ou a um certo grupo de homens, mas que tinha um valor universal a todos, porque Deus é o Deus de todos. Como não admirar um homem assim? Como não agradecer por nos ter dado um Apóstolo dessa estatura?“ (Ibid. Bento XVI.)
No trecho evangélico Mateus (cf. Mt 16,13-19) não fala dos Apóstolos individualmente, mas da Igreja no seu conjunto e da sua segurança em relação às forças do mal, entendidas no sentido amplo e profundo. 
“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Hades (potências do mal) nunca prevalecerão contra ela.” (v.18) O apelido “Pedro” dado a Simão não era apto para caracterizar o temperamento ou o caráter do Apóstolo, pois aquilo que distingue a sua personalidade não é precisamente a dureza ou firmeza da pedra, mas antes a debilidade, a mobilidade e até a inconsistência. Pedro era titubeante em suas convicções, mas foi sempre sincero, espontâneo, disposto a reconhecer e a chorar seus erros. Se Jesus o chama de “pedra” é em razão da função ou cargo em que há de investi-lo.
A palavra pedra (do grego “Pétros”) se usa na linguagem comum e também em arquitetura ou engenharia para fazer referência a qualquer material caracterizado por uma elevada resistência. Encontramos muitos fragmentos das escrituras nas quais as pedras são elementos de referência. Nem sempre essas referências são construtivas, onde o termo pedra ou rocha representa um lugar de segurança, proteção e refúgio, mas ás vezes também encontramos a expressão em momentos nos quais provocam sofrimento e dor.
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja”. Aqui nos encontramos com uma das referências mais claras de fortaleza e segurança com a qual Jesus fazia seus irmãos participantes da construção do Reino de Deus. Deus não quer super-homens para levar a cabo seu Reino. Deus quer respostas. Somos nós os novos “Pedro” e os novos “Paulo”. Mesmo com nossas histórias (boas ou más), limitações, que não são poucas, com os caminhos às vezes contrários à fé, mesmo sendo como somos, e olha que somos complicados! Deus segue contando conosco, essa carne fraca e pecadora que somos nós homens e mulheres de nosso tempo: põe o tesouro do seu Reino em nossas mãos, põe a sua Igreja em nossos ombros e não em ombros de anjos.
Tomara que com o exemplo de Pedro e Paulo sejamos capazes de oferecer a Deus nossa vida de tal maneira que nos sintamos menos super-homens e mais amigos de Deus. 
Deveríamos hoje nos perguntar se nós, cristãos do século XXI, seguimos confiando em nossa Igreja, em nosso Papa representado na imagem de Pedro que se consolidou. Ou são muitas as referências que ultimamente provocam sofrimento e dor e não nos permitem ser confiantes no que Jesus nos mostrou? Não é difícil ver hoje como os poderes hostis se assanham contra a Igreja, contra o Papa. Não atiremos pedras sobre nosso próprio telhado, como se diz popularmente, e sejamos nós os que empreendamos esse movimento de confiança, de escuta, de ajuda, de proximidade. Que saibamos fazer ver e sentir que nossa forma de vida está assentada sobre uma rocha, base sólida, íntegra. Ponhamos a primeira pedra em uma forma de fazer comunidade diferente, reconhecendo que a ética, a justiça, a verdade é o que há que defender. Nestes tempos, não podemos proteger a quem atira a pedra e esconde a mão, porque estaríamos atuando da mesma forma.
Se pensarmos nos dois milênios de história até os dias atuais, desta Igreja de Cristo, podemos observar que nunca faltaram para os cristãos as perseguições Mas, apesar dos sofrimentos que provocam, não constitui as perseguições o perigo mais grave para a Igreja. O dano maior, o que ameaça seriamente a Igreja é tudo aquilo que polui a fé e a vivência cristã dos seus membros e das suas comunidades, corrompendo, enfraquecendo a sua capacidade profética e de testemunho, a infidelidade ao Evangelho. No entanto temos uma certeza de libertação garantida por Deus à sua Igreja, liberdade quer dos vínculos materiais que procuram impedir ou limitar a sua missão, quer dos males espirituais e morais, que podem corroer a sua autenticidade e credibilidade. “As portas das potências do mal nunca prevalecerão contra ela.”
Eu creio que isto, para nós, homens e mulheres cristãos católicos do século XXI, é o que não devemos permitir que se nunca se ponha em duvida.

Bibliografia:

Textos e referências bíblicas: Bíblia de Jerusalém, São Paulo, Paulus, 2002.
Bento XVI. Os Apóstolos, uma introdução às origens da fé cristã. São Paulo, Editora Pensamento, 2008.  
Vários Autores. Comentários á Bíblia Litúrgica. Palheira, Gráfica de Coimbra 2


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