Paróquia Nossa Senhora de Fátima
Campina Grande - PB
A solenidade da Santíssima Trindade, que guarda
uma clara relação com a de Pentecostes, celebrada domingo passado, é início do
Tempo Comum. Alguns têm definido esse tempo como a “normalidade” do tempo
litúrgico. Na realidade também poderíamos chamá-lo “Tempo do Espírito Santo”, tempo
de formação e crescimento porque com a sua ajuda percorreremos a maior parte do
Ano Litúrgico até o dia 2 de dezembro, Primeiro Domingo do Advento.
Hoje celebramos um mistério, que distingue a religião
cristã de todas as outras religiões. Celebramos o mistério da Santíssima
Trindade. Uma verdade fundamental da fé cristã, que expressamos inúmeras vezes
por palavras e gestos, na liturgia. A Trindade está muito presente em nossas
celebrações, nos gestos e orações que fazemos, começando pelo primeiro ao iniciar
qualquer celebração: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” Às vezes
nos passam despercebidos estes gestos ou palavras, mas nomeamos a Trindade em
muitas ocasiões: na chamada grande doxologia, ao concluir a prece eucarística
dizemos: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a vós Deus Pai todo poderoso, na
unidade do Espírito Santo toda honra e toda glória”, temos nomeado as Três Pessoas.
Também na bênção final, ou inclusive no final de alguma oração, quando dizemos:
“Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo…”
Fomos batizados “em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo”. O sacerdote nos absolve dos pecados “em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo”. Talvez agora estejamos percebendo o quanto expressamos
nossa fé trinitária quase sem nos darmos conta.
“A celebração da Solenidade da Trindade não pode
ser a tentativa de compreender e decifrar essa estranha charada de ‘um em três”.
Mas deve ser, sobretudo, a contemplação de um Deus que é amor e que é,
portanto, comunidade. Dizer que há três pessoas em Deus, como há três pessoas
numa família – pai, mãe e filho – é afirmar três deuses e é negar a fé;
inversamente, dizer que Deus, como três fotografias do mesmo rosto, é negar a
distinção das três pessoas e é também negar a fé. A natureza divina de um Deus
amor, de um Deus família, um Deus comunidade, se expressa na nossa linguagem
imperfeita das três pessoas. O Deus família torna-se trindade de pessoas
distintas, porém unidas.
Chegados aqui temos de parar, porque a nossa
linguagem finita e humana não consegue ‘dizer’ o indizível, não consegue
definir cabalmente o mistério de Deus.
Quem é Deus? Como é Ele? Qual a sua relação com
os homens? O Deus em quem acreditamos é
um Deus sensível aos
problemas dos homens e que se preocupa em percorrer com eles um caminho de amor
e de relação, ou é um Deus insensível e distante, que olha com enfado e
indiferença o caminho que percorremos e que se recusa a sujar as mãos com a
nossa humanidade? Trata-se de um Deus capaz de amar os homens e de aceitar, com
misericórdia, as nossas falhas, ou de um Deus intolerante, duro e insensível,
que castiga sem piedade qualquer deslize do homem? A Solenidade da Santíssima
Trindade é, antes de mais, um convite a descobrir o verdadeiro rosto de Deus.” (Sousa
e Silva, 2012.)
O Deus dos cristãos não é um Deus silencioso,
distante e inacessível, que se demitiu do seu papel de criador e que assiste
com indiferença aos dramas da humanidade; mas é um Deus que acompanha a
caminhada da humanidade e que não desiste de oferecer a vida plena e
verdadeira. Mas há, com certeza, ao longo da nossa vida, momentos de solidão e
de desespero, em que procuramos Deus e não conseguimos perceber sua presença; no
entanto, é, sobretudo nesses momentos dramáticos, que é preciso não esquecer
que Deus nunca desiste dos seus filhos e filhas e que nenhum de nós lhe é
indiferente.
“Reconhece hoje e medita em teu coração: Iahweh é o único Deus, tanto no
alto do céu, como cá embaixo, na terra. Não existe outro! Observa
seus estatutos e seus mandamentos que eu hoje te ordeno, para que tudo corra
bem a ti e a teus filhos depois de ti.” Neste texto do Deuteronômio (cf. Dt
4,32-34.39-40) Moisés diz a seu povo que seu Deus é único Deus e que eles devem
se sentir orgulhosos de ter um Deus tão grande e tão próximo a eles. Nenhum
outro deus, disse-lhes, se preocupou tanto com seu povo, o protegeu e o acompanhou
de perto, como o fez nosso Deus. Nenhum outro deus amou tanto a seu povo como nosso
Deus. Se eles guardarem a lei que lhes dá agora, os preceitos e mandamentos que
lhes prescreve, será feliz, porque Deus só quer sua felicidade. Não devem
entender a lei e os preceitos como uma carga, mas sim como uma ajuda para
encontrar a felicidade.
Também nós, os cristãos podemos
dizer com as palavras do Apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos (cf. Rm
8,14-17): “Todos os que são conduzidos pelo
Espírito de Deus são filhos de Deus.” De acordo com esta catequese o nosso Deus
é o Deus da relação-familiar, que vem ao encontro da humanidade para oferecer e
integrá-la na sua família amando-a com amor de Pai, tornando-nos todos
consanguineos do seu Filho e herdeiros da vida plena e definitiva.
Ser filhos de um Deus trinitário,
único, mas não solitário, é ser filhos de um Deus Amor; vivamos, pois, no Amor e
viveremos como autênticos filhos de Deus. Ao nos dirigir a Ele, podemos usar a palavra “Abba! Pai!” (Rm 8,15) Pai nosso, expressão
de intimidade filial, que define uma relação marcada pelo amor, pela familiaridade,
pela confiança, pela ternura.
“O batismo, sacramento da fé, introduz-nos no
círculo trinitário através do nascimento para a vida de adoção filial por Deus,
como testemunha o seu Espírito dentro de nós: ““Se
somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de
Cristo.” (Rm 8, 17) Aqui aparece a Trindade não numa formulação técnica
ou definição abstrata, mas agindo dinamicamente na nossa vida. De tal forma que
podemos experimentar pessoalmente, na fé e no amor, a nossa relação familiar de
filhos para com Deus- Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo. Os grandes
cristãos de todos os tempos, santos e místicos são testemunhas desta profunda e
gozosa espiritualidade trinitária em que o crente mergulha, devido à adoção
filial pelo Pai concretizada e tornada consciente graças ao dom do Espírito
através de Cristo.” (Caballero, 2001.)
É nesse espírito que Jesus dá a seus discípulos a
missão de formar a sua Igreja, como a família dos filhos e filhas de Deus, a
comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus ressuscitado: “Ide, portanto, e
fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo; e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei.”
Mateus (cf. Mt 28,16-20) faz menção explícita
da Trindade na fórmula do Batismo, que reflete, sem dúvida, a práxis batismal
já desde a Igreja apostólica. Com esse Espírito, a comunidade cristã realiza a
missão de anunciar Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo.
É uma tarefa missionária: fazer discípulos e também
comunitária: mostrar-lhes um Deus que é família (Pai, Filho e Espírito Santo),
e incorporá-los a essa família através do Batismo. E é, sobretudo, uma tarefa
evangelizadora: é preciso ensiná-los a viver o evangelho, mostrar-lhes que Deus
quer nossa felicidade acima de tudo. Mas, o mais importante é a consciência de
que nunca estamos sós nesta tarefa: “Eu estou convosco todos os dias até a
consumação dos séculos!” (Mt 28,20) Ele estará acompanhando-nos com sua
presença, fazendo assim que o Evangelho não caduque, mas sim se atualize
permanentemente e sempre seja a Boa Notícia para as pessoas de todas as
gerações que queiram acolhê-lo.
Nunca estamos sós. Deus
vence nossas solidões.
“A solidão é um peso que
oprime um grande número de pessoas de todas as idades, nos nossos dias. Cria a
insegurança e mergulha suas vítimas na tristeza, e pode fechá-las no egoísmo ou
em atitudes antissociais.
Os excluídos do convívio
humano, isolados de tudo e de todos, não são apenas os idosos e os doentes. São
já as crianças abandonadas pela família, os jovens de ambos os sexos que se deixam
encerrar nas malhas do vício e até as pessoas em certos meios de trabalho.
Deus comunidade de Três
Pessoas na Verdade e no Amor, oferece-nos o remédio contra esta solidão e ajuda-nos
a vencê-la, chamando-nos a uma vida eterna que será comunhão com o Pai e o
Filho e o Espírito Santo e há de ser experimentada já na terra... Deus quer
viver em familiaridade conosco. Nunca em toda a história das religiões da
antiguidade os homens foram capazes de imaginar esta familiaridade com Deus que
Ele os revela. Chama-nos à comunhão com Ele. Mas quer ajudar-nos a viver esta
comunhão já na terra.” (Ibid. Sousa e Silva.)
Desde o Batismo fomos
constituídos templos de Deus, templos vivos da Santíssima Trindade. Deus habita
em nós, de modo que se quisermos nunca nos encontramos na solidão, porque Ele
está conosco para dialogar e nos ajudar.
Muitas pessoas metem-se
no barulho, no ruído e agitação, porque têm medo de se encontrarem face a face
com Ele, para conhecer a verdade das suas vidas. Por vezes, ao longo da nossa
caminhada pela vida, sentimo-nos sós e perdidos, afogados nas nossas dúvidas,
misérias e dramas, assustados e inquietos face ao rumo que a história segue.
Mas, a certeza da presença amorosa, salvadora e reconfortante de Deus deve ser
uma luz de esperança que ilumina o nosso caminho e nos permite encarar cada
passo da nossa existência com serenidade e confiança. Eu não ando só! Nós não
andamos sós, trazemos conosco as três pessoas da Santíssima Trindade, elas são
as nossas companheiras, de dia e de noite. Basta que nos recolhamos um momento
no silêncio, para podermos falar com Elas, para alcançarmos a sua intimidade e
o seu convívio.
Bibliografia
Textos e referências bíblicas: Bíblia de
Jerusalém, São Paulo, Paulus, 2002.
Caballero, B. A palavra de cada
Domingo. Paulus Portugal, 2001.
Sousa e Silva, Manuel
Fernando (dir). Celebração Litúrgica, Revista de Liturgia e Pastoral, vol 4,
Tempo Comum (Junho –Julho 2012. Edições Licel - Braga
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