
Segundo o papa, o silêncio favorece a dimensão do discernimento e do aprofundamento e pode ser visto como um primeiro grau de acolhimento da palavra. Não há dualidade entre “Silêncio e Palavra”, mas complementaridade entre ambos os termos que, em seu equilíbrio, aumenta o valor da comunicação e torna-as fecundas no serviço da nova evangelização.
“Silêncio e palavra” nos convocam a uma reflexão sobre o silêncio fundador, este que se relaciona irrevogavelmente com a Palavra. Portanto, fazer da comunicação um ato pleno de contato com Deus, com o próximo e com a sociedade exige que antecipadamente instituamos o silêncio como um modo de estabelecer comunhão. “Silêncio e palavra” são recursos que possuem uma base sólida capaz de nos conduzir à comunicação plena.
Para aprofundar o tema, a Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação, da CNBB, está encaminhando a todas as arquidioceses e dioceses o livreto para o Dia Mundial das Comunicações, que contém: A mensagem do Papa Bento XVI; Uma reflexão de dom Dimas Lara Barbosa, arcebispo de Campo Grande (MS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação, sobre o texto do Papa; Sugestões de como celebrar e comemorar o Dia Mundial das Comunicações, organizadas pela assessora de comunicação da arquidiocese de Vitória, Maria da Luz Fernandes.
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aPReSentaÇÃo
“Silêncio e Palavra: caminho de evangelização” é o tema
para o próximo 46º Dia Mundial das Comunicações Sociais
proposto pelo Papa Bento XVI, que será celebrado no dia 20 de
maio de 2012.
No pensamento do Papa, o silêncio não é apresentado
simplesmente como uma forma de contraposição a uma sociedade caracterizada pelo fluxo constante e incontrolável de
ruídos na comunicação, mas como um elemento necessário de
integração. O silêncio favorece a dimensão do discernimento
e do aprofundamento e pode ser visto como um primeiro grau
de acolhimento da palavra. Não há dualidade entre “Silêncio e
Palavra”, mas complementaridade entre ambos os termos que,
em seu equilíbrio, aumenta o valor da comunicação e torna-as
fecundas no serviço da nova evangelização.
“Silêncio e palavra” nos convocam a uma reflexão sobre
o silêncio fundador, este que se relaciona irrevogavelmente
com a Palavra. Portanto, fazer da comunicação um ato pleno
de contato com Deus, com o próximo e com a sociedade exige
que antecipadamente instituamos o silêncio como um modo de
estabelecer comunhão. “Silêncio e palavra” são recursos que
possuem uma base sólida capaz de nos conduzir à comunica-
ção plena.4
Para aprofundar o tema, a Comissão Episcopal Pastoral
para a Comunicação está encaminhando a todas as Arquidioceses e Dioceses o livreto para o Dia Mundial das Comunicações,
que contém:
A mensagem do Papa Bento XVI;
Uma reflexão de Dom Dimas Lara Barbosa, Arcebispo de
Campo Grande e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral
para a Comunicação sobre o texto do Papa;
Sugestões de como celebrar e comemorar o Dia Mundial
das Comunicações, organizadas pela Assessora de comunica-
ção da Arquidiocese de Vitória, Maria da Luz Fernandes.
A Comissão para a Comunicação agradece às editoras
“Paulus” e “Paulinas” que imprimem, gratuitamente, 15 mil
exemplares, alternadamente, todos os anos o material para o
Dia Mundial das Comunicações.
Desejamos a todos que o Dia Mundial das Comunicações
seja comemorado e celebrado com todo o Povo de Deus, para
que a Igreja no Brasil se comprometa, cada vez mais, a comunicar Cristo a todos com a cultura da comunicação gerada pelas
novas tecnologias.
Ir. Élide Maria Fogolari
Assessora da Comissão para a Comunicação5
SIlêncIo e PalaVRa:
camInho de eVangelIzaÇÃo
Amados irmãos e irmãs,
Ao aproximar-se o Dia Mundial das Comunicações Sociais
de 2012, desejo partilhar convosco algumas reflexões sobre
um aspecto do processo humano da comunicação que, apesar de ser muito importante, às vezes fica esquecido, sendo
hoje particularmente necessário lembrá-lo. Trata-se da relação
entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que
se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter
um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas.
Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca certo aturdimento ou, no
caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém,
se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado.
O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele,
não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos
e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se
o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como
exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se
exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos,
por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias.
Deste modo, abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se 6
possível uma relação humana mais plena. É no silêncio, por
exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da
comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão
do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa. No
silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que
encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. Por isso, do silêncio, deriva uma comunica-
ção ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela
capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a
natureza dos laços. Quando as mensagens e a informação são
abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é
importante daquilo que é inútil ou acessório. Uma reflexão profunda ajuda-nos a descobrir a relação existente entre acontecimentos que, à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si,
a avaliar e analisar as mensagens; e isto faz com que se possam
compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes, gerando um
conhecimento comum autêntico. Por isso é necessário criar um
ambiente propício, quase uma espécie de “ecossistema” capaz
de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons.
Grande parte da dinâmica atual da comunicação é feita
por perguntas à procura de respostas. Os motores de pesquisa
e as redes sociais são o ponto de partida da comunicação para
muitas pessoas, que procuram conselhos, sugestões, informa-
ções, respostas. Em nossos dias, a Rede vai-se tornando cada
vez mais o lugar das perguntas e das respostas; mais, o homem
de hoje vê-se, frequentemente, bombardeado por respostas a
questões que nunca se pôs e a necessidades que não sente. O
silêncio é precioso para favorecer o necessário discernimento
entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebe-7
mos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente importantes. Entretanto, neste mundo complexo e
diversificado da comunicação, aflora a preocupação de muitos
pelas questões últimas da existência humana: Quem sou eu?
Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar? É importante acolher as pessoas que se põem estas questões, criando a
possibilidade de um diálogo profundo, feito não só de palavra e
confrontação, mas também de convite à reflexão e ao silêncio,
que às vezes pode ser mais eloquente do que uma resposta
apressada, permitindo a quem se interroga descer até o mais
fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de resposta
que Deus inscreveu no coração do homem.
No fundo, este fluxo incessante de perguntas manifesta a
inquietação do ser humano, sempre à procura de verdades, pequenas ou grandes, que deem sentido e esperança à existência.
O homem não se pode contentar com uma simples e tolerante
troca de cépticas opiniões e experiências de vida: todos somos
perscrutadores da verdade e compartilhamos este profundo anseio, sobretudo neste nosso tempo em que, “quando as pessoas
trocam informações, estão já a partilhar-se a si mesmas, a sua
visão do mundo, as suas esperanças, os seus ideais” (Mensagem
para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011).
Devemos olhar com interesse para as várias formas de sites,
aplicações e redes sociais que possam ajudar o homem atual
não só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira,
mas também a encontrar espaços de silêncio, ocasiões de ora-
ção, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Na sua essencialidade, breves mensagens – muitas vezes limitadas a um só
versículo bíblico – podem exprimir pensamentos profundos, se 8
cada um não descuidar do cultivo da sua própria interioridade.
Não há que surpreender-se se, nas diversas tradições religiosas,
a solidão e o silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas e àquela Verdade que
dá sentido a todas as coisas. O Deus da revelação bíblica fala
também sem palavras: “Como mostra a cruz de Cristo, Deus
fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a
experiência da distância do Onipotente e Pai é etapa decisiva
no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra Encarnada. (...)
O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes
momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio” (Exort.
ap. pós-sinodal Verbum Domini, 30 de setembro de 2010, n.
21). No silêncio da Cruz, fala a eloquência do amor de Deus
vivido até o dom supremo. Depois da morte de Cristo, a terra
permanece em silêncio e, no Sábado Santo – quando “o Rei
dorme (…), e Deus adormeceu segundo a carne e despertou
os que dormiam há séculos” (cf. Ofício de Leitura do Sábado
Santo) –, ressoa a voz de Deus cheia de amor pela humanidade.
Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o
homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus
e de Deus. “Temos necessidade daquele silêncio que se torna
contemplação, que nos faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra redentora”
(Homilia durante a Concelebração Eucarística com os Membros
da Comissão Teológica Internacional, 6 de outubro de 2006).
Quando falamos da grandeza de Deus, a nossa linguagem revela-se sempre inadequada e, deste modo, abre-se o espaço da
contemplação silenciosa. Desta contemplação nasce, em toda
a sua força interior, a urgência da missão, a necessidade impe-9
riosa de “anunciar o que vimos e ouvimos”, a fim de que todos
estejam em comunhão com Deus (cf. 1Jo 1,3). A contemplação
silenciosa faz-nos mergulhar na fonte do Amor, que nos guia ao
encontro do nosso próximo, para sentirmos o seu sofrimento e
lhe oferecermos a luz de Cristo, a sua Mensagem de vida, o seu
dom de amor total que salva.
Depois, na contemplação silenciosa, surge ainda mais forte
aquela Palavra eterna pela qual o mundo foi feito, e identifica-
-se aquele desígnio de salvação que Deus realiza, por palavras
e gestos, em toda a história da humanidade. Como recorda o
Concílio Vaticano II, a Revelação divina realiza-se por meio
de “ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal
modo que as obras, realizadas por Deus na história da salvação,
manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas
pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras
e esclarecem o mistério nelas contido” (Const. dogm. Dei Verbum, 2). E tal desígnio de salvação culmina na pessoa de Jesus
de Nazaré, mediador e plenitude de toda a Revelação. Foi Ele
que nos deu a conhecer o verdadeiro Rosto de Deus Pai e, com
a sua Cruz e Ressurreição, nos fez passar da escravidão do pecado e da morte para a liberdade dos filhos de Deus. A questão
fundamental sobre o sentido do homem encontra a resposta capaz de pacificar a inquietação do coração humano no Mistério
de Cristo. É desse Mistério que nasce a missão da Igreja, e é
esse Mistério que impele os cristãos a tornar-se anunciadores de
esperança e salvação, testemunhas daquele amor que promove
a dignidade do homem e constrói a justiça e a paz.
Palavra e silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer
aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é 10
particularmente importante paras os agentes da evangelização:
silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes
da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de
Jesus Cristo no mundo contemporâneo. A Maria, cujo silêncio
“escuta e faz florescer a Palavra” (Oração pela Ágora dos Jovens
Italianos em Loreto, 1-2 de setembro de 2007), confio toda a
obra de evangelização que a Igreja realiza através dos meios de
comunicação social.
Vaticano, 24 de janeiro de 2012 – Dia de São Francisco de Sales.
BenedIctUS PP XVI11
SIlêncIo e PalaVRa
O Papa Bento XVI escolheu o tema Silêncio e Palavra: caminho de evangelização para ser refletido por ocasião do 46
o
Dia Mundial das Comunicações Sociais, que acontecerá no dia
20 de maio de 2012, no domingo que precede a Festa de Pentecostes.
O silêncio normalmente é bem-vindo. A lei do silêncio em
nossas metrópoles é mais que necessária. Já não suportamos
o barulho de nossas grandes cidades. No entanto, muito mais
grave do que o ruído exterior, existe o ruído interior, que nos
dispersa e, muitas vezes, nos desequilibra: são imagens interiores, apelos, pensamentos, desejos, que nos incomodam, amedrontam, inquietam. Esse ruído interior é mais difícil silenciar.
A proposta do Papa, portanto, nos desafia e desinstala.
Como conciliar silêncio e comunicação? Como propor o tema
do silêncio para uma geração conectada 24 horas?
Para o Santo Padre, não há dualidade, mas complementaridade entre silêncio e palavra que, em seu equilíbrio, aumenta
e dá consistência e valor à própria comunicação, transformada
em elemento indispensável no serviço da nova evangelização.
Nesse sentido, o silêncio não é visto como uma forma de
contraposição a uma sociedade caracterizada pelo fluxo constante e contínuo das informações, mas como um necessário
elemento de integração. O silêncio é parte integrante da comunicação. Silêncio e Palavra são como que as duas asas pelas
quais a comunicação acontece em profundidade e verdade.12
Equilíbrio: eis uma palavra-chave. Eis aqui o convite a nos
desinstalarmos. Que exigências esse equilíbrio traz consigo? Já
não temos tempo suficiente para tantas atividades, e teremos
que arranjar mais um pouco para momentos de silêncio?
Na verdade, todo artista sabe e experimenta a necessidade
do silêncio para sua obra criativa. Não há como produzir sem
antes ter parado demoradamente em alguma ideia, ruminando-
-a no mais íntimo de si mesmo. Somos feitos de silêncio e som,
como cantava Lulu Santos na década de 80, já tomada pelo
frenesi da vida pós-moderna. E a obra criativa, diria até cocriadora, que o Papa nos convida a realizar é a evangelização.
Silêncio e Palavra são caminhos para a Evangelização. Ou
melhor, constituem um único caminho, em que Deus é autor,
origem, companheiro de caminhada, meta e porto seguro de
toda a existência humana. Palavra que é sempre nova, que não
se repete, pois é o próprio Verbo a falar, da perene novidade
do Eterno que entrou no tempo. E também nós, ouvintes, nunca somos os mesmos... Silêncio que é fecundo, que é gerador,
porque dá espaço para a pessoa crescer, para ser ela mesma,
porque o silêncio é o lugar da escuta.
Daqui já surgem pistas importantes para quem atua na
área da Comunicação. Na base de toda evangelização, está o
convite a fazer a experiência de ser atingido pela Palavra e de
saboreá-la no silêncio. Evangelizar é trazer a pessoa para um
encontro pessoal com Cristo –“seduziste-me Senhor, e eu me
deixei seduzir” (Jr 20,7). Daí a importância fundamental da reflexão de Bento XVI: “... não se começa a ser cristão por uma
decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte 13
à vida e, com isso, uma orientação decisiva”.
1
Precisamos de
verdadeiras comunidades mistagógicas, capazes de irradiar o
fascínio por Jesus Cristo.
É por isso que o Papa quis relacionar Silêncio e Palavra com
o próximo Sínodo dos Bispos, cujo tema será A nova evangelização para a transmissão da Fé Cristã. Afinal, existe uma relação
profunda entre comunicação e transmissão da Fé Cristã, que tem
sido amplamente estudada, aprofundada e amadurecida não só
na reflexão de uma bela plêiade de teólogos e comunicadores,
mas também do próprio magistério pontifício e episcopal.
“Os meios de comunicação invadiram todos os espaços
e todas as conversas, introduzindo-se também na intimidade
do lar. Ao lado da sabedoria das tradições, localizam-se agora,
em competição, a informação de último minuto, a distração,
o entretenimento, as imagens dos vencedores que souberam
usar a seu favor as ferramentas tecnológicas e as expectativas de
prestígio e estima social”.
2
Podem, assim, ser colocados entre
os areópagos dos novos tempos.
3
O Papa Bento XVI afirmava,
já em 2009, que estamos vivendo em um continente digital,
chamados a evangelizar numa arena digital.
Este continente, de que todos fazemos parte, apresenta
imensos desafios, como a exclusão digital, a perda da privacidade, a violência, a alienação cultural e a violação dos direitos
das pessoas. Ao mesmo tempo, apresenta grandes oportunidades como o acesso à informação, o trabalho em rede, a colaboração científica entre grupos, a partilha de valores culturais
1
BENTO XVI, Deus Caritas Est, n.1; Documento de Aparecida, n. 2.
2
Documento de Aparecida, n. 39.
3
Cf. ibid., n. 491.14
entre comunidades, a rapidez para promover e difundir informações, as possibilidades de investimento econômico, a difusão da arte e o acesso ao conhecimento. Evangelizar neste novo
continente sem fronteiras geográficas significa estabelecer um
profundo diálogo do Evangelho com a cultura midiática.
O tema Silêncio e Palavra: caminho de evangelização,
proposto pelo Papa Bento XVI, tem um significado educativo
e uma urgência pastoral para a família, para a Igreja e para a
sociedade como um todo. Afinal, qual o lugar ocupado pelo silêncio no meio dessa crescente abundância de estímulos sobre
a sociedade e da contínua necessidade de estarmos sempre conectados em rede e imersos no imenso oceano de informações
oriundo da internet, das redes sociais, dos celulares e de todas
as mídias que nos envolvem constantemente?
O ser humano é, por natureza e vocação, um ser relacional.
A comunicação inclui as relações abrangentes da pessoa com
seus semelhantes, com a sociedade e com as culturas. Dessa forma, os meios de comunicação, muito além de favorecer o acesso
e a difusão de conhecimentos e de informação, estimulam e são
instrumentos para a criação de formas totalmente novas de convivência humana. Hoje, fala-se que o próprio planeta se tornou
uma “aldeia global”, onde estamos todos interligados. Isso nos
faz ainda mais responsáveis pelas nossas escolhas, pelas nossas
atitudes, pelo compromisso com o outro, com a ética, a cultura
e a sociedade. Daí a necessidade sempre mais aguda de uma
comunicação para a paz, a solidariedade, a difusão de valores
universais que estejam em sintonia com a própria natureza relacional do ser humano. Daí a necessidade imperiosa de cultivar o
silêncio como base da fecundidade do processo comunicativo.15
Em sua mensagem de 24 de janeiro de 2012, dia de São
Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, Bento XVI nos lembra: “É no silêncio que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo, enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento,
que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente
intensa de expressão”. O silêncio não fala, mas significa. A palavra, no silêncio, encontra seu significado e seu lugar. Ou seja,
palavra e silêncio são realidades complementares e não antagô-
nicas ou dicotômicas. Isso vale também para a cultura digital.
O continente digital oferece relações rápidas através das novas tecnologias. A imensa rede de informações abre-nos milhões
de janelas e perspectivas. Uma infinidade de sons, imagens e
palavras, de notícias, documentários, convites, insinuações, das
mais variadas formas de entretenimento das mídias interativas
envolve-nos em contínuos ruídos e, não raro, geram uma sensa-
ção de insegurança e de fragmentação. O silêncio vem fermentar
o universo virtual para que o torne mais atraente e fecundo, evitando, assim, o reducionismo da comunicação a seus suportes
tecnológicos. Estes, ainda que muito importantes, não garantem
o processo relacional próprio da natureza humana.
A ausência do silêncio na comunicação pode gerar alienação e perda da identidade das pessoas. O silêncio nos ajuda
a ponderar, a refletir, a entrar em contato com os desejos mais
profundos do coração humano. Quando em silêncio, nossas
palavras e sentimentos encontram-se, para juntos caminharem
e, quanto mais sintonizados os dois, maior a qualidade e a originalidade da comunicação.16
No silêncio encontramos a ambiência de nosso processo
criativo. Os artistas encontram no silêncio o caminho da cria-
ção. Estudar requer silêncio. O processo de amadurecimento
da vida acontece no silêncio do existir. No silêncio, a ação é
fortalecida. A dor e o sofrimento só cicatrizam no cadinho do
silêncio em sintonia com a vida. É no silêncio que Deus nos
fala ao coração e encontramos o sentido pleno da vida.
A vocação do Profeta Elias representa um marco na histó-
ria da espiritualidade. De maneira muito mais profunda do que
acontecia em outras teofanias, Deus não lhe fala nas convulsões da natureza. Sua experiência do Sagrado se dá no silêncio,
no “murmúrio de uma suave brisa” (cf. 1Rs 19,9ss).
O místico oscila entre a palavra e o silêncio. Quer comunicar sua experiência do Absoluto, mas não encontra palavras
adequadas. Afinal, quando falamos da grandeza do Criador,
nossa linguagem será sempre inadequada.
Ao longo dos séculos, inúmeras gerações de contemplativos vão beber nessa mesma fonte, confirmada de maneira sublime pelo próprio Senhor. De fato, Jesus, antes de proclamar
uma mensagem ou realizar um milagre, procurava o silêncio
e o recolhimento. Ele reza para escolher seus discípulos (Lc
6,12); busca o silêncio antes de ser batizado por João Batista (Lc
3,21); coloca-se em recolhimento quando toma consigo Pedro,
João e Tiago para subir ao Monte para rezar (Lc 9,28b-36).
O cristão torna-se verdadeiro comunicador na cultura digital quando faz a experiência do silêncio e da palavra na pró-
pria vida. A originalidade e a força de sua mensagem hão de
ser geradas no encontro profundo entre ele e a Palavra Eterna
(cf. Jo 1,1ss). Só assim, sua mensagem se torna novidade e não
repetição. Testemunho e não apenas informação.17
Por tudo isso e muito mais, o tema Silêncio e Palavra: caminho de evangelização é atual e urgente. Para todo cristão, a sinergia e a integração entre silêncio e palavra são fundamentais
para seu crescimento humano, seu amadurecimento espiritual
e sua missão de anunciar a Boa-Nova a todos os povos. Aí, os
recursos técnicos se tornam canais para a transmissão de algo
verdadeiramente inovador; a interatividade será oportunidade
de diálogo e relação; a transmissão de conhecimento será ferramenta para uma vida mais consciente e comprometida. A missão requer o discipulado, a evangelização exige a escuta, não
só de quem recebe a mensagem do Evangelho, mas também
de quem a propõe. Sem o silêncio, que é parte integrante da
comunicação, não há palavras densas de conteúdo.
Silêncio e Palavra tornam-se um convite a repensarmos
como e para quem fazemos Comunicação; a buscarmos o equilíbrio que vem de Deus, tal qual uma orquestra, com seus sons
e pausas harmoniosamente combinados numa sinfonia vibrante
que anuncia a beleza da vida, que anuncia o Homem ao homem.
Como lembra o Papa na referida mensagem aos jornalistas,
“na contemplação silenciosa, surge ainda mais forte aquela Palavra eterna pela qual o mundo foi feito, e identifica-se aquele desígnio de salvação que Deus realiza, por palavras e gestos, em
toda a história da humanidade”. A pergunta fundamental sobre o
sentido da vida humana só encontra resposta adequada à luz do
Mistério do Verbo Encarnado. “É deste Mistério que nasce a missão da Igreja, e é este Mistério que impele os cristãos a tornarem-se
anunciadores de esperança e salvação, testemunhas daquele amor
que promove a dignidade do homem e constrói a justiça e a paz”.
Dom Dimas Lara Barbosa, Arcebispo de Campo Grande – MS
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação18
SUgeStõeS PaRa celeBRaR
o dIa mUndIal daS comUnIcaÇõeS SocIaIS
20 de maio de 2012
SIlêncIo e PalaVRa: camInho de eVangelIzaÇÃo
“... Estes meios de comunicação (meios de comunicação
social), de fato, destinados pela sua natureza a espalhar o pensamento, a palavra, a imagem, a informação e a publicidade,
enquanto influenciam a opinião pública e, consequentemente,
o modo de pensar e agir de cada indivíduo e dos grupos sociais,
exercem também uma pressão sobre os espíritos, que incide
profundamente sobre a mentalidade e sobre a consciência do
homem, impelido como ele é, e quase submerso, por muitas e
contrastantes solicitações”. Estas são palavras do Papa Paulo VI
na mensagem para a primeira comemoração do Dia Mundial,
instituído no Concílio Vaticano II em 1967, pelo Decreto Inter
Mirifica (18).
O Dia Mundial das Comunicações é uma ocasião propícia
para comemorar o bem que a Igreja e a sociedade realiza com
a comunicação; para motivar e incentivar novas iniciativas, novos grupos e novas reflexões; para conscientizar sobre a necessidade de inserir-se na nova cultura da comunicação e propor o
Evangelho a essa nova realidade.
Por todo o país acontecem inúmeras iniciativas, em geral
coordenadas pela PASCOM, que procura trabalhar o sentido
de evangelizar as ações comunicativas da Igreja e incentivar os 19
profissionais da área a buscarem constantemente os “sentidos
da comunicação”.
Para 2012, o Papa Bento XVI escolheu o tema Silêncio e
Palavra: caminho de evangelização. Segundo o Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, “não há nenhum dualismo, mas complementaridade das duas funções que, em um
adequado equilíbrio, enriquecem o valor da comunicação e a
convertem em um elemento essencial do serviço à nova evangelização”. Para o Papa Bento XVI, “o silêncio não representa
somente certo contrapeso em uma sociedade marcada pelo
contínuo e incessante fluxo comunicativo, mas é um elemento
essencial para a sua integração”, diz o comunicado, e acrescenta: “O silêncio é o primeiro passo para acolher a palavra,
precisamente porque favorece o discernimento e o aprofundamento”.
como celebrar o dia mundial das comunicações Sociais?
Se a criatividade é valorizada em todas as esferas sociais,
na comunicação ela é intrínseca, indispensável. Portanto, a
criatividade com bom senso e respeito pelos rituais e ritos das
comemorações é fundamental. Valorizar a proposta do tema e
fazer dele uma temática a ser refletida também é importante.
Mas o principal é que a PASCOM se empenhe na divulgação
e disponibilize materiais que favoreçam a criatividade de cada
região.
Recebemos diversas sugestões de experiências realizadas
nos anos anteriores, nos diferentes cantos do país, que podem
ser utilizadas, adaptadas e até recriadas. Agrupamos em duas 20
dimensões e as propomos com o objetivo de motivar e sugerir
modos para comemorar. São apenas sugestões que podem inspirar outras ou ser utilizadas da mesma forma.
Sugestões para celebrações da eucaristia e/ou da Palavra:
1. Convidar os profissionais de Comunicação a trazerem seus
instrumentos de trabalho e, no final da Celebração, o celebrante abençoar esses instrumentos;
2. Intenções no momento da motivação inicial que expressem
o sentimento da arqui (diocese) ou paróquia com relação
às iniciativas de evangelização pelos meios de comunica-
ção social;
3. Cantos relacionados ao tema da Comunicação;
4. Fazer memória do processo de Comunicação local no momento de recordação da vida (após a saudação inicial do
celebrante);
5. No momento das oferendas, apresentar produções locais
de Comunicação;
6. No momento das preces, existem algumas opções: 1. fazê-
-las cantadas; 2. apenas cantar um refrão; 3. apresentar em
cartazes a palavra importante contida na prece; 4. cantar as
preces na forma de ladainha.
7. Em 2008, a PASCOM da Igreja no Brasil foi entregue à proteção de Nossa Senhora Aparecida durante o encontro nacional de coordenadores. Entronizar a imagem de Nossa
Senhora antes da procissão de entrada, ou após a saudação
inicial do presidente da celebração e renovar essa entrega,
além de uma ideia, é quase uma obrigação da PASCOM.21
Sugestões de outras iniciativas (no dia ou semana)
1. Palestra aberta a quem quiser participar para aprofundar o
tema: Silêncio e Palavra: caminho de evangelização;
2. Palestras sobre temas de Comunicação para os profissionais
que pensam e trabalham na comunicação da Igreja;
3. Oficinas para aperfeiçoar o modo de fazer comunicação na
Igreja;
4. Entrevistas no Rádio, TV e impressos sobre as comemora-
ções e o tema;
5. Café da manhã ou coquetel com profissionais de comunicação para estreitar as relações Igreja x Imprensa local;
6. Debate com representante da Igreja, da Imprensa e da Academia para discutir sobre as relações instituição Igreja Católica x Imprensa;
7. Realizar Concurso de fotografia a partir de um tema proposto com antecedência;
8. Criar Prêmio para melhores trabalhos de comunicação que
pode ser por categorias (exemplo: rádio, web, impresso,
fotografia, pastoral);
9. Organizar jogo de futebol (agentes da PASCOM e padres x
imprensa);
10. Confeccionar selo de comunicação com assinatura do bispo local;
11. Realizar feira pastoral.22
ofertório Paulino pela comunicação Social
Bem-aventurado Tiago Alberione
1. Senhor, ofereço-vos, em comunhão com toda a Igreja, Jesus
na Eucaristia e a mim mesmo, como oferenda permanente
e agradável a vós.
2. Em reparação pelas mensagens errôneas e comportamentos equívocos, divulgados pelos meios de comunicação.
3. Para que regressem à casa do Pai aqueles que se afastaram,
seduzidos por esses poderosos instrumentos.
4. Pela conversão daqueles que, no uso desses instrumentos,
desconhecem os ensinamentos de Cristo e da Igreja, e desviam a humanidade do caminho da salvação.
5. Para que todos sigamos o único Mestre, que, na plenitude
do vosso amor, enviastes às pessoas, e que nos apresentastes, dizendo: “Eis o meu Filho amado. Ouvi-o!”.
6. Para que todos conheçamos e procuremos tornar conhecido
Jesus, Palavra encarnada, o único e verdadeiro Mestre, o caminho seguro que nos leva a conhecer o Pai e a participar de
sua vida.
7. Para que aumentem, na Igreja, os sacerdotes, os consagrados e consagradas, os leigos e leigas que, através dos meios
de comunicação, anunciem às pessoas a mensagem evangélica da salvação.
8. Para que os comunicadores e comunicadoras – escritores,
técnicos, divulgadores – sejam pessoas evangélicas, capacitadas em sua área de trabalho, e autênticas testemunhas
de Cristo no campo da comunicação social.23
9. Para que as iniciativas católicas nesse setor cresçam em nú-
mero e eficácia, de tal modo que, promovendo os valores
humanos e cristãos, superem tudo o que se opõe à salvação
das pessoas.
10. Para que nós, conscientes de nossos limites, nos aproximemos, com humildade e confiança, da fonte da vida, e nos alimentemos, com humanidade e confiança, da fonte da vida,
e nos alimentemos com a vossa Palavra e com a Eucaristia.
11. Por todas as pessoas, nós vos pedimos, ó Pai, luz, amor e
misericórdia.
cântico das criaturas
Na intuição de Tiago Alberione - Fundador da Família Paulina
1. Louvado sejas, meu Senhor, pela Imprensa.
Ela é alimento da inteligência e luz para o Espírito.
2. Louvado sejas, meu Senhor, por todas as vezes que os livros, revistas e jornais aproximam as pessoas, diminuindo
as barreiras do espaço e do tempo.
3. Louvado sejas, meu Senhor, por todas as vezes que as notí-
cias e conhecimentos circulam por toda a Terra, dando novas
oportunidades para a divulgação do ensino para a luta contra
a ignorância, para a promoção e libertação da pessoa humana.
4. Louvado sejas, meu Senhor, pelos discos e cassetes.
Por meio deles, a música penetra e se grava no coração de
quem ouve e de quem canta.
5. Louvado sejas, meu Senhor, por todas as vezes que os discos e cassetes se tornam uma extensão da tua voz e que a
música nos fala o que as palavras não conseguem dizer.24
6. Louvado sejas, meu Senhor, por todas as vezes que as gravações enriquecem o nosso ser, colocando-nos em contato
com a realidade viva do mundo do espírito e do mundo
em que vivemos, dando oportunidades para as pessoas se
tornarem mais conscientes, mais livres, mais participantes.
7. Louvado sejas, meu Senhor, pelo rádio, que caminha nas
asas do vento e torna o mundo tão pequeno.
8. Louvado sejas, meu Senhor, por este amigo das pessoas solitárias, por este companheiro do nosso povo, do brasileiro
que “não vive sem o rádio”.
9. Louvado sejas, meu Senhor, por todas as vezes que o rádio
leva os benefícios de informar, ensinar, educar e divertir todas as camadas de nosso povo, promovendo, assim, maior
igualdade entre os homens.
10. Louvado sejas, meu Senhor, pelo cinema, pela televisão,
pelos audiovisuais e por todos os novos meios de comunicação que a inteligência humana continua a criar.
11. Louvado sejas, meu Senhor, por todas as vezes que esses
meios de comunicação difundem os verdadeiros valores
humanos e servem de descanso e lazer, libertando as pessoas do peso das preocupações cotidianas.
12. Louvados sejas, meu Senhor, por todas as vezes que os modernos meios de comunicação se colocam realmente a serviço da pessoa humana e fazem cada homem um ser mais
consciente, mais participante do drama, dos problemas e
dificuldades de todos os homens, criando mais compreensão mútua e conduzindo ao crescimento de todos.
fonte: cnbb.org.br
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