sábado, abril 21, 2012

Hoje é Domingo, é teu dia Senhor.

PADRE JOSÉ ASSIS PEREIRA SOARES
PARÓQUIA NOSSA SENHORA DE FÁTIMA
CAMPINA GRANDE - PARAÍBA

A Páscoa é o tempo por excelência dos cristãos, porque é o tempo da Ressurreição, o acontecimento central de nossa fé cristã. Mas é algo mais que um acontecimento. A ressurreição há de ser, acima de tudo, uma experiência, algo que nós vivemos e experimentamos em nosso coração e do que damos testemunho. Do contrário, não transmitiremos nada. Podemos perguntar-nos: porque, vinte séculos depois do acontecimento da Ressurreição de Cristo, se  continua falando de anunciá-lo? Porque não foi só um acontecimento do passado. Os evangelhos da Páscoa nos contam como os discípulos foram tendo a experiência de encontrar-se com Jesus Ressuscitado, e  como a foram transmitindo com seu testemunho.
Cada comunidade cristã revive esta mesma experiência de encontro com o Ressuscitado na celebração eucarística, sobretudo na celebração dominical. Santo Agostinho chama o domingo “sacramento da Páscoa”. O Domingo bem vivido e celebrado é uma possibilidade para encontrar-nos frente a frente com o Ressuscitado. É motivo de festa e de alegria para os cristãos. De cantar e expressar o que a Páscoa flui por seus quatro lados: a presença de Jesus Cristo morto e agora vivo, imortal Senhor, com os sinais da paixão.
“Segundo o unânime testemunho evangélico, a Ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos aconteceu no «primeiro dia depois do sábado» (Mc 16, 2.9; Lc 24,1; Jo 20,1). Naquele mesmo dia, o Ressuscitado manifestou-se aos dois discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35) e apareceu aos onze Apóstolos que estavam reunidos (cf. Lc 24,36; Jo 20,19). Passados oito dias – como testemunha o Evangelho de S. João (cf. 20,26) – os discípulos estavam novamente juntos, quando Jesus lhes apareceu e fez-se conhecer por Tomé, mostrando os sinais da sua paixão. Era domingo, o dia de Pentecostes, primeiro dia da oitava semana após a páscoa judaica (cf. At 2,1), quando, com a efusão do Espírito Santo, se cumpriu a promessa feita por Jesus aos Apóstolos depois da ressurreição(cf. Lc 24,49; At 1,4-5). Aquele foi o dia do primeiro anúncio e dos primeiros batismos: Pedro proclama à multidão reunida que Cristo tinha ressuscitado, e “os que aceitaram a sua palavra receberam o batismo”(At 2,41). Foi a epifania da Igreja, manifestada como povo que congrega na unidade, independentemente de toda a variedade, os filhos de Deus dispersos. É nesta base que, desde os tempos apostólicos, “o primeiro dia depois do sábado”, o primeiro da semana, começou a caracterizar o próprio ritmo da vida dos discípulos de Cristo (cf. 1Cor 16,2)... O livro do Apocalipse testemunha o costume de dar a este primeiro dia da semana o nome de “dia do Senhor” (1,10). Doravante isso será uma das características que distinguirão os cristãos do mundo circunstante... Com efeito quando os cristãos diziam “dia do Senhor”, faziam-no atribuindo ao termo a plenitude de sentido que lhe vem da mensagem pascal: “Jesus Cristo é o Senhor” (Fl 2,11; cf. At 2,36; 1Cor 12,3)(João Paulo II, 1998.)
No evangelho de São Lucas (cf. 24,35-48), Jesus se apresenta Ressuscitado aos discípulos incluídos os dois de Emaús, que estavam contando sua experiência de encontro com Ele e como o tinham reconhecido “ao partir do pão”(Lc 24,35). Saúda-lhes com a paz e lhes mostra as mãos e os pés, onde estão os sinais dos cravos, para que vejam que é Ele mesmo, o que crucificaram. Os discípulos reagem com medo, assustados, surpresos duvidam que seja Jesus. Mas para tranquiliza-los disse-lhes que o tocassem, pois não era um fantasma e sim um homem de carne e osso. Quando veem suas mãos e seus pés, os discípulos se enchem de alegria, ainda que atônitos. Em seguida Jesus pediu: “Tendes o que comer? Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o, então, e comeu-o diante deles.”(Lc 24, 41-43) Mais uma vez, é quando está à mesa e come com os seus, que Cristo Ressuscitado se manifesta aos discípulos de Emaús e aos outros Onze cheios de dúvidas. Jesus se lhes apareceu para ajudá-los a compreender as escrituras e a reler os acontecimentos da salvação à luz da Páscoa fortalecendo-lhes e abrindo-lhes os olhos naquilo que tanto insistiu antes de sua paixão e morte: a ressurreição. 
A experiência de ter se encontrado com o Ressuscitado é a base da fé dos discípulos e de todos os crentes de todos os tempos, incluídos nós. Uma vez produzido o encontro, de ver, tocar o Ressuscitado e degustar o pão e o peixe passa-se ao ouvir e anunciar. Ele nos envia a dar testemunho, a que sejamos suas testemunhas no mundo: “Vós sois testemunhas disso.” (Lc 24,48) O anúncio ou o testemunho será agora o pão de cada dia dos Apóstolos a partir de sua experiência pessoal e comunitária com o Ressuscitado. Os cristãos somos testemunhas de uma experiência. Sem essa experiência, esse encontro com Cristo, não pode haver testemunho, porque não há nada que comunicar. Sem encontro com o Ressuscitado, não há discipulado verdadeiro, nem fé autêntica, nem missão.
Nos Atos dos Apóstolos (cf. 3,13-15.17-19) temos um exemplo do testemunho em Pedro, que conta ao povo, depois de ter testemunhado a cura de um aleijado, como Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos, o mesmo Jesus que o povo entregara à morte. Pedro disse: “matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dentre os mortos, e disto nós somos testemunhas” (At 13,15). O Apóstolo não conta uma história que lhe haviam contado, ou algo que seja bonito. Conta algo que ele experimentou e viveu, porque se encontrou com Jesus Ressuscitado. E nós? Qual nosso testemunho? O que contamos?
“A eucaristia, o lugar privilegiado no qual a Igreja reconhece «o autor da vida» (cf. At 3,15), é «a fração do pão», como é chamada nos Atos dos Apóstolos. Nela, mediante a fé, entramos em comunhão com Cristo, que  é «altar, vítima e sacerdote» (cf. Prefácio pascal, 5) e está no meio de nós. Reunimo-nos em volta d’Ele para fazer memória das suas palavras e dos acontecimentos contidos na Escritura; revivemos a sua paixão, morte e ressurreição. Celebrando a Eucaristia comunicamos com Cristo, vítima de expiação, e d’Ele obtemos perdão e vida. O que seria a nossa vida de cristãos sem a Eucaristia? A  Eucaristia é a herança perpétua e viva que o Senhor nos deixou no Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, que devemos constantemente reconsiderar e aprofundar...” (Bento XVI, homilia de canonização do beato Nuno de Santa Maria , Abril de 2009)
Em cada Eucaristia nos encontramos com Jesus Ressuscitado que afugenta nossas dúvidas e nossos medos, e nos transmite sua paz e sua alegria. Jesus Ressuscitado nos fala ao coração através de sua Palavra, proclamada na assembleia, e nos dá a comer seu Corpo e seu Sangue. Desta maneira, nos convertemos em testemunhas suas, capazes de dizer a todo o mundo que Ele ressuscitou. Um testemunho de palavras mas, sobretudo, um testemunho com nossa vida, uma vida nova, também ressuscitada, uma vida ao estilo de Jesus, como Ele nos ensinou. Uma vida de irmãos, assim eram reconhecidos os primeiros cristãos, e se dizia deles: “vejam como eles se amam”. Esse há de ser nosso testemunho.
O que temos feito de cada domingo? É uma interpelação que deveria marcar a consciência de todo cristão-católico. Dos que vamos à Missa e daqueles que, por diversas razões, a tenham deixado de participar. Que fizemos com o Dia do Senhor? “Aos discípulos de Cristo é-lhes pedido que não confundam a celebração do domingo, que deve ser uma verdadeira santificação do dia do Senhor, com o “fim de semana” entendido fundamentalmente como tempo de mero repouso ou de diversão. Urge, a este respeito, uma autêntica maturidade espiritual, que ajude os cristãos a serem eles próprios, plenamente coerentes com o dom da fé, sempre prontos a mostrar a esperança neles depositada (cf. 1Pd 3,15). Isto implica também uma compreensão mais profunda do domingo, para poder vivê-lo, mesmo em situações difíceis, com plena docilidade ao Espírito Santo.”  (Ibid. João Paulo II)
Faz-se necessário recuperar o valor sagrado do Domingo, o dia para glorificar a Deus, como algo constitutivo da cultura cristã de nossa terra. Entre outras coisas porque, o domingo, corre o risco de ficar como um dia comum ou simplesmente o dia do descanso, do lazer. Em uma jornada que já não está marcada pela alternância do trabalho e do descanso, do estar com a família ou o realizar algo extraordinário. Muitos têm começado a semana dizendo: “estou cansado!”. É hora de voltar à prática da missa dominical, sobretudo os católicos que estão afastados desta prática. Voltar à casa do Senhor,ao encontro com os irmãos e irmãs, à escuta da Palavra, à Eucaristia.
Talvez estamos num momento muito apropriado, para insistir em nossas família, com nossos filhos, familiares e vizinhos sobre esta realidade: para que o Senhor apareça em nossa vida cotidiana, temos que reconquistar o sentido cristão do Domingo, sentar-nos de novo para escutar sua Palavra e partilhar o Pão da Vida. Deixar de lado certas atividades que entorpecem ou encobrem o mais genuíno sentido deste dia: a referência a Deus.
Senhor, hoje é teu dia, momento de encontro, dia de celebrar algo que só o Domingo nos dá, a Vida que se impõe sobre a morte, a Ressurreição na mesa que se impõe frente a toda dúvida. A cada Domingo na Eucaristia faze-nos sentar à mesa que tanto fala de ti, a mesa que nos ensina teu mandamento de amor e nos confirma na fraternidade. Faze-nos reconhecer tua presença ressuscitada, sentir tua mão ressuscitadora, ver teu lado abrindo-se outra vez, dando-nos no seu Corpo e Sangue a salvação. Faze que acolhamos a paz e o perdão que só tu, Senhor podes nos dar e ainda saibamos reconhecer-te caminhando conosco, todos os dias, ao nosso lado. Mas, acima de tudo envia-nos, como aos outros discípulos e discípulas, como testemunhas de tudo que experimentamos juntos em tua mesa. 

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