Como afirmei na meditação de ontem, há nas Sagradas Escrituras um acontecimento dramático na história do Povo eleito que se tornou uma prova de amor e fidelidade impressionante que o Senhor concedeu ao salvar Israel dos assírios, por volta do ano 700 aC. Vale a pena ler 2Rs 18 – 19 e Is 36 – 38. Do que se trata?
Pelos séculos VIII e VII aC os assírios eram a grande potência militar do Oriente. Em 722 aC eles destruíram o Reino do Norte, chamado Israel ou Efraim; deportaram cruelmente toda a população do País. Agora, do Povo de Deus, só restava como nação, o Reino do Sul, chamado Judá, cuja capital era Jerusalém. Pelo ano de 701 aC os exércitos da Assíria investem também contra o Reino de Judá. Vêm furiosos, conquistando tudo à sua frente e, por fim, chegam às portas de Jerusalém. O Rei da Assíria exige o tributo do Rei Ezequias, de Judá e, mais ainda: toda a população deve render-se e aceitar ir para o exílio no leste da Assíria, lá para as bandas do atual Irã... Ou isto ou a invasão de Jerusalém, sua destruição e a morte de todos! O povo já estava passando fome; não havia pão, não havia água para beber, não havia mais nada; nem esperança... E o Rei da Assíria prevenia o povo de Judá: “Que Ezequias não alimente a vossa confiança no Senhor, dizendo: ‘Certamente o Senhor nos salvará; esta cidade não cairá nas mãos do rei da Assíria’. Não deis ouvidos a Ezequias, que vos ilude, dizendo: ‘O Senhor nos salvará!’ Acaso os deuses das nações puderam realmente livrar cada qual sua terra das mãos do rei da Assíria? Dentre todos os deuses das nações, quais os que livraram sua terra da minha mão, para que o Senhor possa salvar Jerusalém?’” (2Rs 18,30-35).
Portanto, não há esperança, não há saída: ou Ezequias se rende e vê seu povo ser deportado da terra que o Senhor dera ao Seu povo ou seria morto, ele e todos os habitantes de Jerusalém, que se tornaria um montão de ruínas! E agora? O que você, meu Leitor, faria? Pense no dilema, na angústia dilacerante!
A Escritura afirma que Ezequias era um rei fiel e piedoso, zeloso para com as coisas de Deus (cf. 2Rs 18,1-8). Mas, por que Deus permitiu uma situação tão triste, tão vexatória? Por que não protegeu o seu povo santo? Por que deixou que cercassem Jerusalém e reduzissem os seus habitantes à miséria da fome, da sede, da humilhação e do desespero? Onde estava Deus naquele momento? Não seria mais sensato, mais responsável, entregar-se e salvar a própria vida e a vida do povo? O que você faria, meu Leitor, entre o feijão da dura realidade e o sonho da fé?
O Rei Ezequia, em luto, vai ao Templo e derrama o coração ferido e angustiado diante do Senhor: “Senhor, Deus de Israel, que estás sentado sobre os querubins! Tu és o único Deus de todos os reinos da terra. Tu fizeste o céu e a terra. Inclina Teu ouvido, Senhor, e ouve. Abre, Senhor, os Teus olhos e vê. Ouve todas as palavras de Senaquerib, que mandou emissários para insultar o Deus vivo. É verdade, Senhor, que os reis da Assíria devastaram as nações e seus territórios e lançaram ao fogo seus deuses. Mas foi porque não eram deuses, e sim, obras de mão humana, de madeira e de pedra; por isso os puderam destruir. Agora, Senhor, nosso Deus, livra-nos de suas mãos, para que todos os reinos da terra saibam que só Tu, Senhor, és Deus” (2Rs 19,15-19).
E o Rei suplica de modo desesperado a intercessão e o conselho do Profeta Isaías: “Estes dias são de tribulação, de ameaça e de blasfêmia. Talvez o Senhor, teu Deus, ouça todas as palavras do comandante de campo, enviado por seu senhor, o rei dos assírios, para insultar ao Deus vivo. Talvez o Senhor, teu Deus, o castigue pelas palavras que teve de ouvir. Faz uma prece pelo resto que ainda subsiste” (2Rs 19,3-4).
E a resposta de Isaías vem, na forma de um poema: Jerusalém zomba do Rei da Assíria, balança a cabeça, mangando dele! Ele não entrará em Jerusalém, não atirará uma flecha contra ela! Vale a pena ler todo o oráculo poético (2Rs 19,21-34). E agora? A realidade ou o sonho, a razoabilidade que manda se render ou a fé que orienta a resistir, pois o inimigo não atacará a Cidade? Mais uma vez, a pergunta: o que você faria? O que você faz, quando tem que decidir entre crer e fazer do seu modo, entre sonhar o sonho de Deus ou viver a realidade do seu modo? Não é fácil! É tremendo! Aqui, a tentação é tremenda! Aqui quantas vezes a fé vacila? “Senhor, onde estás? Por que Te escondes? Por que permitiste que sofrêssemos tantos males? Por que és um Deus escondido por trás dos mil acontecimentos misteriosos e dolorosos deste mundo? Como confiar em Ti, ó Deus tão misterioso, que por vezes pareces brincar com os filhos de Adão e rir de suas lágrimas e misérias?”
Ezequias crê. Ezequias atende às palavras de Isaías. E o resultado, qual foi? Leia 2Rs 19,35...
Pronto. Não farei perguntas... Elas já estão colocadas no corpo do texto. Termino com uma súplica: “Senhor, por Teu amor, por Tua misericórdia, sustenta a nossa fé, mesmo nas tremendas noites da vida! Ensina-nos a dizer como o justo Jó: ‘Ainda que Ele me matasse eu esperaria Nele!’ (Jó 13,15) A Ti a glória pelo séculos! Amém”.

fonte: http://costa_hs.blog.uol.com.br/
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