terça-feira, janeiro 03, 2012

Maria dá Paz no Ano Novo

Mensagem de Fim de Ano de Padre José Assis Pereira Soares
Pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima
Campina Grande - Paraíba
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O novo ano civil se abre sob o sinal da bênção divina e sob o olhar amoroso da mãe de Cristo, é a festa em honra da Virgem Maria na sua maternidade divina, adequadamente introduzida no marco do nascimento de seu Filho. Assim a Igreja contempla, na oitava do Natal, sem desviar o olhar de Cristo, a mulher por meio da qual o grande mistério da encarnação do Filho de Deus se tornou possível. Portanto, a Igreja na liturgia de hoje nos apresenta essa maravilhosa mulher da qual nasceu Jesus Cristo, como disse o Concilio de Efeso (431) a “Theotokos”, a Mãe de Deus.

Iniciemos assim o novo ano dizendo, agradecidos, a Nossa Senhora: Santa Maria, Mãe de Deus rogai por nós para que percorramos estes dias buscando fazer a vontade do seu divino Filho.
Durante as festas do tempo de Natal, a palavra que ouvimos com maior frequencia, certamente é “paz”. O tema da paz proclamado e celebrado junto com a maternidade de Maria toma um sentido bem maior do que a simples ausência de conflitos ou guerras.
“Educar os jovens na justiça e na paz”. Esta é a mensagem do Papa Bento XVI para a Jornada Mundial da Paz de 2012. É verdade que ano no que termina aumentou o sentimento de frustração pela crise que atinge a economia mundial. Para um mundo em crise o Papa nos chama a educar os jovens na justiça e na paz, convencido que eles, com seu entusiasmo e seus ideais podem oferecer ao mundo uma nova esperança.
O livro dos Números (cf. Nm 6, 22-27) apresenta uma fórmula de bênção, própria da liturgia judaica, ainda hoje usada, especialmente no começo de um novo ano. Essa bênção é a paz, “shalom”, uma dimensão elementar da vida humana, sem a qual a vida perde grande parte de seu sentido.
A palavra paz designa tudo aquilo que torna possível uma vida harmônica e ajuda o pleno desenvolvimento humano. Do ponto de vista bíblico, a paz não é somente a ordem estabelecida. É um dom messiânico, implica necessariamente ausência de guerra. Mas é, sobretudo, fundamentada sobre a justiça e a fraternidade. A paz é um bem precioso, um dom de Deus, que vem do alto, com tudo o que isto significa.
“O Senhor mostre para ti a sua face e te conceda a paz.” (Nm 6, 26) Esta bênção, essa paz que o povo hebreu implorava de Deus, derramou-se sobre o mundo, com o mistério da Encarnação do Filho de Deus. Maria dá à luz o Príncipe da paz (cf. Is 9,6), que traz paz a humanidade desde o seu nascimento (cf. Lc 2,14). No seu infinito amor “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher” (Gl 4, 4), e esse novo modo de Deus estar no mundo fez o universo e a história chegar à plenitude. A grande bênção de Deus para a humanidade é Jesus Cristo Redentor, nascido da Virgem Maria.
A presença da Mãe de Deus na nossa vida é sempre uma presença pacificadora, que serena e alegra a alma. Ela nos introduz no amor de Deus e afasta todos os temores e ressentimentos. Mantendo-nos perto de Maria nada poderá inquietar-nos ou roubar-nos a paz. Não nos referimos à paz puramente exterior, mas ao fundamento de toda paz verdadeira,

que é a paz do coração, a paz da alma. Convençamo-nos de que não encontraremos esta paz interior fora dos seus fundamentos. Nem os melhores exercícios de relaxamento, nem os remédios mais eficazes, podem alcançar-nos a paz que só o Senhor nos pode dar: “Deixo-vos a paz; minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá”. (Jo 14,27)
Continuamos hoje o relato do nascimento de Jesus (cf, Lc 2,15-21) que iniciamos na noite de Natal. Os pastores foram às pressas e encontraram Maria, José e o recém nascido deitado na manjedoura, como os anjos haviam anunciado. Deus está escondido neste “menino” e os pastores o reconhecem e louvam a Deus.
Os pastores são os primeiros que visitam Jesus em Belém. Até Maria se assombra com a notícia dos pastores, como se ela não soubesse de nada, depois do que havia “anunciado” o anjo Gabriel. Como Maria é também do povo simples que sabe receber notícias da parte de Deus trazidas até por estranhos pastores, “conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração.” (Lc 2,51)
Deus tem seus próprios caminhos e de agora em diante veremos Maria “acolhendo” tudo o que se diz de seu filho e ou que ele mesmo lhe diz que tem de fazer e anunciar. Por isso Maria guardava todas estas coisas meditando-as em seu coração. Lucas utiliza dois verbos diferentes, “conservar” e “meditar”. O primeiro segue a ação de guardar cuidadosamente um tesouro muito valioso em lugar seguro, o “coração”. Na antropologia hebraica significa a intimidade da pessoa, o entendimento, a sede dos sentimentos mais nobres da pessoa. Maria guardou zelosamente no mais intimo de sua pessoa tudo o que escutou e observou. Mas também “medita” todos os acontecimentos e gestos que se produziu ao redor de Jesus.
Mais tarde os mesmos gestos e atitudes serão objeto do seu trabalho de meditação.   O significado correto de meditar parece ser o de “dar voltas” no interior a fim de ordenar todos os elementos e encontrar o seu sentido. É a ação de quem quer entrar e assimilar o mistério. Maria dava muitas voltas para entrar na compreensão de Jesus dada a riqueza da personalidade do seu Filho. E é um trabalho que encantava toda a sua vida.
Maria ali no presépio começa seu caminho de meditação e busca do sentido na vida de Jesus que caracterizará toda a sua vida. Maria é para os discípulos e discípulas de Jesus, num mundo pouco habituado a escutar e menos ainda escutar a Palavra de Deus, Mãe e mestra de todos.
Lucas fala de uma atitude que Maria mantém ao longo da sua vida. Ela não só lembra os fatos, mas principalmente do mistério que está escondido nos fatos, para penetrar neles através da fé e do amor. Maria rememora estas coisas não com a nostalgia de experiências profundas e irrepetíveis, mas com a alegria de quem revive estes momentos no presente, graças à profundidade e à riqueza do mistério que neles está contida.
Lucas descreve Maria como alguém que vive à escuta do Mistério e que, com profunda atitude contemplativa, lê continuamente os acontecimentos para descobrir seu sentido mais profundo. Maria é aqui verdadeira intérprete dos fatos acontecidos. Ela recorda tudo o que aconteceu em sua vida da parte de Deus e vai descobrindo os caminhos do Senhor e sua vontade pondo em relação uns fatos com outros. Esta atitude profundamente contemplativa se realiza “no coração”.
A figura de Maria, intérprete dos fatos e contemplativa diante das ações de Deus, é modelo para todo cristão, chamado a descobrir o mistério e a presença do Deus da vida no cotidiano e no ordinário de cada dia.
Somos chamados a viver estas últimas horas do ano tornando nossos os sentimentos da “Mãe de Deus”. Ela buscava o sentido profundo, para além das aparências da cada acontecimento. Ela discerne a presença de Deus nos fatos e situações mais obscuras da vida. Maria é, pois, como toda pessoa que precisa discernir em meio aos acontecimentos, em nossa história, a presença solidária de Deus. Ela resgata a memória das ações de Deus no passado e no presente da caminhada do povo, convidando as pessoas a não perder de vista nenhum acontecimento, alegre ou triste, percebendo como Deus se solidariza com seu povo. Juntamente com Maria, somos convidados a conservar nosso olhar fixo no Menino Jesus, novo sol que surgiu no horizonte da humanidade e, confortados por sua luz termos o cuidado de lhe apresentar “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angustias da humanidade hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem” (Gaudium et Spes, 1).
Nestas últimas horas do ano que termina e nas primeiras do ano que iniciamos, recordemos tudo que nesse ano foi sinal da bênção e da graça de Deus em nossas vidas e nos apressemos em agradecer ao Senhor pela salvação que se concretiza no dom da paz, da justiça e da felicidade.

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