sábado, dezembro 03, 2011

Urgências na Ação Evangelizadora

25. Quando a realidade se transforma, devem, igualmente, se transformarem os caminhos pelos quais passa a ação evangelizadora. Instrumentos e métodos que deram certo em outros momentos históricos, com resultados que nos alegram profundamente, podem não apresentar, em nossos dias, condições de transmitir e sustentar a fé. Enquanto, em outros períodos da história, os discípulos missionários precisaram dar as razões de sua esperança como consequência de critérios firmemente aplicados, em nossos dias, são os próprios critérios que vêm experimentando abalo. Para não poucas pessoas a incerteza sobre como julgar a realidade e com ela interagir é muito grande. Por isso, estamos em uma mudança de época, pois ela já não atinge somente este ou aquele aspecto concreto da existência. As mudanças de época atingem os próprios critérios de compreender a vida, tudo o que a ela diz respeito, inclusive a própria maneira de entender Deus. O nome de Jesus Cristo é utilizado para expressar atitudes até mesmo opostas ao Reino de Deus, deixando confusos os que querem efetivamente viver o discipulado missionário.
26. Esta é a razão pela qual a Conferência de Aparecida nos convoca a ultrapassar uma pastoral de mera conservação ou manutenção para assumir uma pastoral decididamente missionária, numa atitude que, corajosa e profeticamente, chamou de conversão pastoral.19 Assim como indica o desafio da mudança de época, Aparecida aponta a conversão pastoral como caminho para a ação evangelizadora. “Uma verdadeira conversão pastoral deve estimular-nos e inspirar-nos atitudes e iniciativas de autoavaliação e coragem de mudar várias estruturas pastorais em todos os níveis, serviços, organismos, movimentos e associações. Temos necessidade urgente de viver na Igreja a paixão que norteia a vida de Jesus Cristo: o Reino de Deus, fonte de graça, justiça, paz e amor. Por esse Reino, o Senhor deu a vida”.(20)
27. Por certo, ao reconhecer a mudança de época como o maior desafio a ser atualmente enfrentado, o discípulo missionário não se esquece das ameaças à vida de pessoas, povos e até mesmo de todo o planeta.(21) Estas ameaças permanecem e necessitam ser, corajosa e profeticamente, enfrentadas. Contudo, neste enfrentamento, o discípulo missionário se depara com a fragilidade dos critérios para ver, julgar e agir. Olhar, portanto, para a mudança de época e para o necessário (re)enraizamento de critérios, longe de significar o afastamento dos problemas concretos e urgentes da vida de nosso povo, significa buscar uma base realmente sólida para enfrentá-los. Caso contrário, o discípulo missionário poderá ser como o construtor ou o chefe que, não reconhecendo os novos desafios, vê a missão fracassar (cf. Lc 10,28-32). Voltar às fontes e recomeçar a partir de Jesus Cristo,(22) longe de significar a preocupação consigo mesma, coloca a Igreja no mesmo caminho do amor-serviço aos sofredores desta terra. Porque deseja servir, a Igreja reconhece o momento histórico em que se encontra, sendo convocada a buscar caminhos para a transmissão e a sedimentação da fé, mesmo que, para isso, precise abandonar estruturas ultrapassadas que já não facilitem mais a transmissão da fé.(23)
28. É, pois, neste sentido, que emergem algumas urgências na evangelização que, por isso mesmo, devem estar presentes em todos os processos de planejamento e nos consequentes planos, independentemente do local onde as ações evangelizadoras aconteçam. Tais urgências dizem respeito à busca e ao encontro de caminhos para a transmissão e a sedimentação da fé, neste período histórico de transformações profundas. São o elo entre tudo que se faz em termos de evangelização em todo o Brasil. Mostram uma Igreja em comunhão com sua história, com as conclusões da Conferência de Aparecida e, por isso mesmo, com as demais Igrejas no Continente e com a realidade perplexa e sofrida do povo.
29. Por tudo isso, a Igreja no Brasil se empenhará em ser uma Igreja em estado permanente de missão, casa da iniciação à vida cristã, fonte da animação bíblica de toda a vida, comunidade de comunidades, a serviço da vida em todas as suas instâncias. Estes aspectos encontram-se inevitavelmente ligados, de tal modo que assumir um deles exige que se assumam os outros. Estão sempre presentes na vida da Igreja, pois se referem a Jesus Cristo, à Igreja, à vida comunitária, à Palavra de Deus como alimento para a fé, à Eucaristia como alimento para a vida eterna e para o serviço ao Reino de Deus. Por seu testemunho e por suas ações pastorais, a Igreja suscita o desejo de encontrar Jesus Cristo. Este encontro se dá através do mergulho gradativo no mistério do Redentor. Daí a importância da iniciação à vida cristã, a qual não acontece plenamente se não se tem contato com a Escritura.(24) Alimentando, iluminando e orientando toda a ação pastoral, a Bíblia transborda para a totalidade da existência de pessoas e grupos, tornando-se luz para o caminho (cf. Sl 119,105). Transformados por Jesus Cristo e comprometidos com o Reino de Deus, os discípulos missionários formam comunidades que não podem fechar-se em si mesmas, ao estilo de guetos ou ilhas. Por suas atitudes fraternas e solidárias, trabalhando incessantemente pela vida em todas as suas instâncias, tornam-se sinais de que o Reino de Deus vai se manifestando em nosso meio (cf. Mt 11,2-6; At 2,42), na vitória sobre o pecado e suas consequências.

3.1. Igreja em estado permanente de missão
“Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo!” (Mc 16,15)

30. Jesus Cristo, o grande missionário do Pai, envia, pela força do Espírito, seus discípulos em constante atitude de missão (Mc 16,15). Quem se apaixona por Jesus Cristo deve igualmente transbordar Jesus Cristo, no testemunho e no anúncio explícito de sua Pessoa e Mensagem. A Igreja é indispensavelmente missionária.(25) Existe para anunciar, por gestos e palavras, a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo. Fechar-se à dimensão missionária implica fechar-se ao Espírito Santo, sempre presente, atuante, impulsionador e defensor (Jo 14,16; Mt 10,19-20). Em toda a sua história, a Igreja nunca deixou de ser missionária. Em cada tempo e lugar, esta missão assume perspectivas distintas, nunca, porém, deixa de acontecer. Se hoje partilhamos a experiência cristã, é porque alguém nos transmitiu a beleza da fé, apresentou-nos Jesus Cristo, acolheu-nos na comunidade eclesial e nos fascinou pelo serviço ao Reino de Deus.
31. No atual período da história, marcado pela mudança de época, a missão assume um rosto próprio, com, pelo menos, três características: urgência, amplitude, inclusão. A missão é urgente em decorrência da oscilação de critérios. É ampla e includente, porque reconhece que todas as situações, tempos e locais são seus interlocutores. Até mesmo o discípulo missionário é, para si, um destinatário da missão, na medida em que está inserido nesta mudança de época, com referências flácidas e valores nem sempre efetivamente sedimentados (Mt 13,5-6.20-21). Trata-se, portanto, de suscitar, em cada batizado e em cada forma de organização eclesial, uma forte consciência missionária, sem a qual os discípulos missionários não contribuirão efetivamente para o novo que haverá de surgir na história. A atual consciência missionária interpela o discípulo missionário a “sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo”.(26) Estamos num tempo de urgente saída “em todas as direções para proclamar que o mal e a morte não têm a última palavra”,(27) um tempo de esquecer o que fi cou para trás e correr em busca d’Aquele que já nos alcançou (cf. Fl 3,12-14), um tempo que deve levar a uma forte comoção missionária.(28)
32. Na medida em que as mudanças de época atingem os critérios de compreensão, os valores e as referências, os quais já não se transmitem mais com a mesma fluidez de outros tempos,(29) torna-se indispensável anunciar Jesus Cristo, apresentando, com clareza e força testemunhal, quem é Ele e qual sua proposta para toda a humanidade.(30) Não se trata, por certo, de estabelecer uma espécie de concorrência religiosa, ingressando na competição por maior número de fiéis. Tampouco se trata de busca de privilégios para a Igreja que, em todos os tempos, é chamada a ser serva humilde e despojada (cf. Lc 17,7-10). Trata-se de se reconhecer que o distanciamento em relação a Jesus Cristo e ao Reino de Deus traz graves consequências para toda a humanidade. Estas consequências não são percebidas apenas pela redução numérica dos católicos. Elas são igualmente sentidas principalmente nas inúmeras formas de desrespeito e mesmo de destruição da vida. Todas as formas de violência e exclusão revelam o distanciamento de Jesus e do Reino. São as ameaças à vida, frutos de uma cultura de morte,(31) que questionam os discípulos missionários a anunciarem, principalmente através do testemunho, a beleza do Reino de Deus, que é vida, paz, concórdia, reconciliação (cf. Gl 5,22s). Os discípulos missionários sabem que não lhes cabe a exclusividade na construção da nova época que está para surgir. Esta consciência, no entanto, não lhes exime da responsabilidade por testemunhar e anunciar Jesus Cristo e o Reino de Deus, fazendo-o oportuna e inoportunamente (2Tm 4,2).
33. Neste redescobrir missionário, emerge, em primeiro lugar, o papel de cada pessoa batizada em todos os lugares e situações em que se encontrar. Trata-se do testemunho pessoal, base sobre a qual o explícito anúncio haverá de ser construído.(32) Períodos históricos com menores doses de incerteza e oscilação oferecem aos discípulos missionários referências de valores que desaparecem nas mudanças de época, deixando-os sozinhos em meio à grande diversidade de valores e crenças. Este, portanto, é um tempo do testemunho! Em virtude do enfraquecimento das instituições e das tradições, cresce a responsabilidade pessoal. Em outras épocas, instituições e tradições protegiam bem mais os indivíduos. Nesta mudança de época, instituições e tradições tendem a ser socioculturalmente julgadas com base na ação dos indivíduos. Ninguém, em sã consciência, deseja colaborar para o mal. Em tempos de perplexidade e incertezas, os discípulos missionários sabem que necessitam de rigor ainda maior naquilo que sentem, pensam e fazem. Devem verificar se, em razão das perplexidades e incertezas, não estão, de algum modo, deixando de realmente defender, promover e testemunhar a vida em todas as suas instâncias.
34. Em segundo lugar, surge a urgência de pensar estruturas pastorais que favoreçam a realização da atual consciência missionária. Esta “deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais”,(33) a ponto de deixar para trás práticas, costumes e estruturas que, ao corresponderem a outros momentos históricos, já não têm atualmente grandes condições de favorecer a transmissão da fé, como lembra Aparecida.(34) Não se trata, portanto, de negar tudo que já foi feito em outras épocas, mas de reconhecer que, nesta mudança de época, é preciso agir com firmeza e rapidez. É neste sentido que se entende a convocação de Aparecida à conversão pastoral, através da qual se ultrapassam os limites de uma “pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária”.(35)
35. Surgem, deste modo, imperativos que colocam a Igreja em estado permanente de missão.(36) Não se trata, portanto, de conceber a atitude missionária ao lado de outros serviços ou atividades, mas de dar a tudo que se faz um sentido missionário, estabelecendo, neste conjunto de atividades desenvolvidas, algumas urgências que ajudem todos os batizados a efetivamente se reconhecerem como missionários. A Igreja no Brasil reforça, assim, seu compromisso com a Missão Continental.(37)
36. Este é o grande serviço que a Igreja, discípula missionária de Jesus Cristo, é chamada a prestar neste momento da história. Em atitude de diálogo, cabe-lhe anunciar e reanunciar a pessoa e a mensagem de seu Mestre, conclamando à comunhão todos os seres humanos, para a busca da cultura da vida, a caminho do Reino definitivo.

3.2. Igreja: casa da iniciação à vida cristã
“Paulo e Silas anunciaram a Palavra do Senhor ao carcereiro e a todos os da sua casa. E, imediatamente, foi batizado, junto com todos os seus familiares” (At 16,32s)

37. A fé é dom de Deus! “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva”.(38) Por sua vez, este encontro é mediado pela ação da Igreja, ação que se concretiza em cada tempo e lugar, de acordo com o jeito de ser de cada povo, de cada cultura. A descoberta do amor de Deus manifestado em Jesus Cristo, dom salvífico para toda a humanidade, não acontece sem a mediação dos outros (Rm 10,14).
38. Cada tempo e cada lugar têm um modo característico para apresentar Jesus Cristo e suscitar nos corações o seguimento apaixonado não a algo, mas à sua pessoa, que a todos convida para com Ele vincular-se intimamente. (39) “A admiração pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam uma resposta consciente e livre desde o mais íntimo do coração do discípulo”.(40) Todavia, como resposta, a adesão a Jesus Cristo implica anúncio, apresentação, proclamação. Em outras épocas, a apresentação de Jesus Cristo se dava através de um mundo que se concebia cristão. Família, escola e sociedade em geral, ao mesmo tempo em que ajudavam a se inserir na cultura, apresentavam também a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo.
39. Sabemos que, em nossos dias, meios utilizados em outros tempos para o anúncio de Jesus Cristo já não possuem a mesma eficácia de antes. Olhemos, por exemplo, a família, chamada a ser a grande transmissora da fé e dos valores.(41) Tamanhas têm sido as transformações que a instituição familiar já não possui o mesmo fôlego de outras épocas para cumprir esta missão indispensável. O mesmo ocorre com outras instituições importantes. Esta situação exige uma radical transformação no modo de concretizar a ação evangelizadora. Em outras épocas, era possível pressupor que o primeiro contato com a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo acontecia em sociedade, possibilitado pelos diversos mecanismos culturais, fazendo com que a ação evangelizadora se preocupasse mais com a purificação e a retidão doutrinais, com a moral e com os sacramentos. A mudança de época exige que o anúncio de Jesus Cristo não seja mais pressuposto, porém explicitado continuamente. O estado permanente de missão só é possível a partir de uma efetiva iniciação à vida cristã.
40. Esta é a razão pela qual cresce o incentivo à iniciação à vida cristã, “grande desafio que questiona a fundo a maneira como estamos educando na fé e como estamos alimentando a experiência cristã”.(42) Trata-se, portanto, de “desenvolver, em nossas comunidades, um processo de iniciação à vida cristã que conduza a um encontro pessoal, cada vez maior com Jesus Cristo”,(43) atitude que deve ser assumida em todo o continente latino-americano e, portanto, também no Brasil.(44) Este é um dos mais urgentes sentidos do termo missão em nossos dias. É o desafio de anunciar Jesus Cristo, recomeçando a partir dele, sem “dar nada como pressuposto ou descontado”.(45) É preciso ajudar as pessoas a conhecer Jesus Cristo, fascinar-se por Ele e optar por segui-lo.
41. A Conferência de Aparecida, além de elevar a iniciação à vida cristã à categoria de urgência, lembra que ela deve acontecer não apenas uma única vez na vida de cada pessoa. A iniciação cristã não se esgota na preparação aos sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia. Ela se refere à adesão a Jesus Cristo. Esta adesão deve ser feita pela primeira vez, mas refeita, fortalecida e ratificada tantas vezes quantas o cotidiano exigir.(46) Ela acontece, por exemplo, quando chegam os fi lhos, quando o adolescente busca sua identidade, quando o jovem prepara suas escolhas futuras, no noivado e no matrimônio, nas experiências de dor e fragilidade. Nossas comunidades precisam ser comunidades diuturnamente mistagógicas, preparadas para permitir que o encontro com Jesus Cristo(47) se faça e se refaça permanentemente.
42. Esta perspectiva eminentemente catecumenal de nossas comunidades apresenta uma série de consequências para a ação evangelizadora. Em primeiro lugar, o processo permanente de iniciação apresenta uma série de exigências para a evangelização: acolhida, diálogo, partilha, bem como maior familiaridade com a Palavra de Deus e a vida em comunidade. Em segundo lugar, implica estruturas, isto é, grupos de estilo catecumenal nos mais diversos lugares e horários, sempre disponíveis a acolher, apresentar Jesus Cristo e dar as razões da nossa esperança (1Pd 3,15). Implica, assim, um novo perfil de agente evangelizador, no qual o Ministério dos(as) introdutores(as)(48) e catequistas assuma papel preponderante. Eles são a ponte entre o coração que busca descobrir ou redescobrir Jesus Cristo e Seu seguimento na comunidade de irmãos, em atitudes coerentes e na missão de colaborar na edificação do Reino de Deus.
43. No serviço do acolhimento, que inicia ou reinicia no encontro com Jesus Cristo e com a comunidade dos discípulos, a ação evangelizadora se põe em diálogo com o atual momento da história, que pede o anúncio explícito e contínuo de Jesus Cristo e o chamado à comunhão, como atitude decorrente para a vivência de fé e para a vida em geral.

3.3. Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral
“Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar conforme a justiça” (2Tm 3,16)

44. Deus se dá a conhecer no diálogo que estabelece conosco. (49) “Quem conhece a Palavra divina conhece plenamente também o significado de cada criatura”(50) “A Palavra divina, pronunciada no tempo, deu-Se e entregou-Se à Igreja definitivamente para que o anúncio da salvação possa ser eficazmente comunicado em todos os tempos e lugares […] Disto conclui-se como é importante que o Povo de Deus seja educado e formado claramente para se abeirar das Sagradas Escrituras na sua relação com a Tradição viva da Igreja, reconhecendo nelas a própria Palavra de Deus”.(51)
45. Vinculado à iniciação à vida cristã, o atual momento da ação evangelizadora convida o discípulo missionário a redescobrir o contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus como lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo.(52) “Na alvorada do terceiro milênio, não só existem muitos povos que ainda não conheceram a Boa Nova, mas há também muitos cristãos que têm necessidade que lhes seja anunciada novamente, de modo persuasivo, a Palavra de Deus, para poderem assim experimentar concretamente a força do Evangelho”.(53) A Igreja hoje tem consciência de que “particularmente as novas gerações têm necessidade de ser introduzidas na Palavra de Deus através do encontro e do testemunho autêntico do adulto, da influência positiva dos amigos e da grande companhia que é a comunidade eclesial”.(54)
46. Não se trata, por certo, de nos voltarmos para a Palavra de Deus como atitude momentânea, fruto do atual período da história. Trata-se de redescobrir, mais ainda, que o contato profundo e vivencial com as Escrituras é condição indispensável para encontrar a pessoa e a mensagem Jesus Cristo e aderir ao Reino de Deus.(55) Deste modo, iniciação à vida cristã e Palavra de Deus estão intimamente ligadas. Uma não pode acontecer sem a outra, pois “ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo”.(56) Este é um tempo muito rico para que cada pessoa seja iniciada na contemplação da vida, à luz da Palavra e no empenho para que ela seja efetivamente colocada em prática (Tg 1,22-25).
47. É, pois, no contato eclesial com a Palavra de Deus que o discípulo missionário, permanecendo fi el, vai encontrar forças para atravessar um período histórico de pluralismo e grandes incertezas. Bombardeado a todo o momento por questões que lhe desafiam a fé, a ética e a esperança, o discípulo missionário precisa estar de tal modo familiarizado com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra que, mesmo abalado pelas pressões, continue solidamente firmado em Cristo Jesus e, por seu testemunho, converta os corações que o questionam (cf. At 16,16-34). Não há, pois, discípulo missionário sem efetivo contato com a Palavra de Deus, um contato que atinge toda a vida e que é transmitido aos irmãos e irmãs. Esse encontro gera solidariedade, justiça, reconciliação, paz e defesa de toda a criação. Dirige-se a crianças, jovens, adultos, idosos, migrantes, doentes, pobres e pecadores.(57)
48. Nosso tempo traz em si uma ambiguidade. Estamos num tempo de muitas falas, muitos ruídos, muito barulho, incertezas e crise de referências. O mundo fala, mas tem sede de palavra que guia, tranquiliza, impulsiona, envolve, ajuda a discernir. O mundo tem sede, portanto, da Palavra de Deus. Nosso tempo carece de conhecer verdadeiramente a Palavra, deixar-se apaixonar por ela e, com ela, caminhar pelas sendas do Reino. O mundo informatizado tem contribuído com o enriquecimento dos conhecimentos e a conscientização da realidade. Tem igualmente sobrecarregado a vida das pessoas de informações, muitas delas contraditórias, distorcidas e não éticas. Este é um dos graves ruídos que tem atingido a todos, principalmente os jovens. O atual excesso de informações não contempla uma formação adequada que os auxilie na síntese, no discernimento, nas escolhas. “O desafio para o jovem – assim como para todos os que aceitam Jesus como caminho – é escutar a voz de Cristo em meio a tantas outras vozes”.(58)
49. Infelizmente, em meio a tantos ruídos, também podemos constatar que a Bíblia, algumas vezes, não é usada como luz para a vida. Ao contrário, é instrumentalizada até mesmo para engodo. Cabe ao discípulo missionário não se abater diante de tamanha manipulação da Escritura. Se, por amor, Jesus Cristo, Palavra eterna do Pai, se entregou para a nossa salvação, como se abater ao constatar que a Escritura parece refém de quem busca apenas o benefício próprio? Assim como Ele venceu a morte e o pecado, o discípulo missionário de hoje é chamado a ultrapassar as teias da manipulação bíblica e fazer a Palavra brilhar (Mt 5,14-16), como fonte de vida, justiça e paz.
50. Neste contato, o discípulo missionário haverá de reconhecer e testemunhar que a Palavra é de Deus e como tal deve ser acolhida e praticada. Isto significa assumir que, no contato com a Palavra, “não se trata de um encontro entre dois contraentes iguais; aquilo que designamos por Antiga e Nova Aliança não é um ato de entendimento entre duas partes iguais, mas puro dom de Deus”.(59) Não é o discípulo missionário que indica à Palavra o que ela deve dizer. Antes, o discípulo missionário é um ouvinte da Palavra (Is 50,5). Ele a acolhe na gratuidade e na alteridade, deixando-se apaixonadamente interpelar.
51. Ao se curvar diante da Palavra, o discípulo missionário sabe que não o faz isoladamente. Ele acolhe o dom da Palavra na comunhão com esta mesma Palavra e com todos que também a acolhem. Acolhe o dom da Palavra na Igreja e com toda a Igreja. Assim, a Palavra é saboreada na alteridade, na gratuidade e também na eclesialidade. Quanto bem tem feito, pelo Brasil afora, nas mais diversas realidades, a leitura da vida à luz da Palavra! Quantas comunidades se nutrem dominicalmente da Palavra de Deus, experimentando a força deste alimento salutar!(60) Quanta riqueza evangelizadora acontece nos Círculos Bíblicos, nos Grupos de Reflexão, nos Grupos de Quadra e outros similares!
52. São vários os métodos de leitura da Bíblia.(61) A Conferência de Aparecida destacou a Leitura Orante como caminho para o encontro com a Palavra de Deus. Nela, o discípulo missionário acolhe a Palavra como dom, mergulha na riqueza do texto sagrado e, sob o impulso do Espírito, assimila esta Palavra na vida e na missão. Em meio à agitação cotidiana, notadamente nas grandes cidades, onde o tempo se tornou uma questão crucial, a Leitura Orante permite ao discípulo missionário estabelecer uma relação com a Palavra de Deus a qualquer momento e em qualquer lugar. Assim como dois amigos são capazes de se identificar em meio à multidão, o discípulo missionário, através do exercício da Leitura Orante, aprende a estabelecer contato com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra, ainda que em meio à agitação diária.
53. Por tudo isso, o discípulo missionário compreende a expressão do salmista, quando diz que a Palavra de Deus é luz para sua vida (Sl 119,105). Ao fazer esta experiência, ele une profundamente sua palavra à Palavra de Deus. Reza com a Palavra, reza a Palavra. Eis por que podemos dizer que a animação bíblica de toda a pastoral vai além de uma pastoral bíblica especializada,(62) quer nos conduzir a uma iluminação bíblica de toda a vida, porque é um caminho de conhecimento e interpretação da Palavra, um caminho de comunhão e oração com a Palavra e um caminho de evangelização e proclamação da Palavra. O contato interpretativo, orante e vivencial com a Palavra de Deus não forma, necessariamente, doutores. Forma santos. (63) Esta perspectiva deve orientar também a formação inicial e permanente dos presbíteros.
54. A Igreja, como casa da Palavra deve, antes de tudo, privilegiar a Liturgia, pois esta é o âmbito privilegiado onde Deus fala à comunidade. Nela Deus fala e o povo escuta e responde. Cada ação litúrgica está, por sua natureza, impregnada da Escritura Sagrada.(64)
55. Como consequência do serviço que disponibiliza ainda mais a Palavra de Deus, cada discípulo missionário se descobre preparado para o diálogo com uma mentalidade que, sob diversas formas, o interpela. Pela firmeza em seus valores e referências, faz de sua vida um verdadeiro anúncio do que podem ser os novos tempos que estão para surgir, tempos de comunhão, que brota da Palavra, gerando vida e paz.

3.4. Igreja: comunidade de comunidades
“Às Igrejas da Galácia, a vós graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (Gl 1,2s).

56. O discípulo missionário de Jesus Cristo faz parte do Povo de Deus (cf. 1Pd 2,9-10; LG, n. 9) e necessariamente vive sua fé em comunidade. “A dimensão comunitária é intrínseca ao mistério e à realidade da Igreja, que deve refletir a Santíssima Trindade”.(65) Sem vida em comunidade, não há como efetivamente viver a proposta cristã, isto é, o Reino de Deus. A comunidade acolhe, forma e transforma, envia em missão, restaura, celebra, adverte e sustenta. Ao mesmo tempo em que se constata, nesta mudança de época, uma forte tendência ao individualismo, percebe-se igualmente a busca por vida comunitária. Esta busca nos recorda como é importante a vida em fraternidade. Mostra também que o Espírito Santo acompanha a humanidade suscitando, em meio às transformações da história, a sede por união e solidariedade. Em nossos dias, além das comunidades territorialmente estabelecidas, nos deparamos com comunidades transterritoriais, ambientais e afetivas. Constatamos também o rápido crescimento das comunidades virtuais, tão presentes na cultura juvenil atual. Estes fatos abrem o coração do discípulo missionário a novos horizontes de concretização comunitária.
57. As Diretrizes anteriores afirmavam: “concretamente, para a maioria dos nossos fi éis, a relação com a Igreja se restringe aos chamados serviços paroquiais. É aí que a maioria das pessoas, atualmente, se relaciona com a Igreja”. E concluíam: “por isso, as paróquias têm um papel fundamental na evangelização e precisam tornar-se sempre mais comunidades vivas e dinâmicas de discípulos missionários de Jesus”.(66)
58. A busca sincera por Jesus Cristo faz surgir a correspondente busca por diversas formas de vida comunitária. Articuladas entre si, na partilha da fé e na missão, estas comunidades se unem, dando lugar a verdadeiras redes de comunidades. Entre elas, encontram-se as Comunidades Eclesiais de Base(67) e outras formas de novas comunidades,(68) cada uma vivendo seu carisma, assumindo a missão evangelizadora de acordo com a realidade local e se articulando de modo a testemunhar a comunhão na pluralidade.
59. Comunidade implica necessariamente convívio, vínculos profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade nos sonhos, nas alegrias e nas dores. Um dos maiores desafios consiste em iluminar, com a Boa Nova, as experiências nos ambientes marcados por aguda urbanização, para os quais vizinhança geográfica não significa necessariamente convívio, afinidade e solidariedade. Outro grande desafio encontra-se nos ambientes virtuais, onde a rapidez da comunicação e a liberdade em relação às distâncias geográficas tornam-se grandes atrativos. Estas situações configuram desafios para a ação evangelizadora, na medida em que nada substitui o contato pessoal.
60. No caminhar em busca de vida comunitária, constata-se a presença das comunidades eclesiais de base, as CEBs, que, alimentadas pela Palavra, pela fraternidade, pela oração e pela Eucaristia, são sinal, ainda hoje, de vitalidade da Igreja. (69) São também presença eclesial junto aos mais simples, partilhando a vida e com ela se comprometendo em vista de uma sociedade justa e solidária. Veem-se atualmente desafiadas a não esmorecer, mas a discernir, na comunhão da Igreja, caminhos para enfrentar os desafios oriundos de um mundo plural, globalizado, urbanizado e individualista. Também elas se deparam com os desafios da mudança de época.
61. Num mundo plural, não se pode querer um único modo de ser comunidade. O Espírito sopra onde quer e nenhuma concretização comunitária possui o monopólio da ação deste mesmo Espírito. Nenhuma deve chamar para si a primazia sobre as demais, pois todos os membros do corpo possuem igual valor (1Cor 12,12ss). A comunidade eclesial deve abrir-se para acolher dinamicamente os vários carismas, serviços e ministérios. De cada uma dessas comunidades, exige-se que sejam alicerçadas na Palavra de Deus, celebrem e vivam os sacramentos, manifestem seu compromisso evangelizador e missionário, principalmente com os afastados, sejam solidárias com os mais pobres.(70) O importante é não confundir a natureza das comunidades(71) e assim evitar concorrências, desgastes inúteis e ambiguidades. Todas as comunidades são convocadas a se unirem em torno das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil e a assumirem os Planos Pastorais de cada Igreja Particular.(72)
62. O caminho para que a paróquia se torne verdadeiramente uma comunidade de comunidades é inevitável, desafiando a criatividade, o respeito mútuo, a sensibilidade para o momento histórico e a capacidade de agir com rapidez. Mesmo consciente de que processos humanos e transformações de mentalidade não acontecem de uma hora para outra, a Igreja no Brasil se compromete em acelerar ainda mais o processo de animação e fortalecimento de efetivas comunidades, que buscam intensificar a vida cristã por meio de autêntico compromisso eclesial. A setorização da paróquia(73) pode favorecer o nascimento de comunidades, pois valoriza os vínculos humanos e sociais. Assim, a Igreja se faz presente nas diversas realidades, vai ao encontro dos afastados, promove novas lideranças e a iniciação à vida cristã acontece no ambiente em que as pessoas vivem.
63. Importa reconhecer que o investimento nestas pequenas comunidades traz consigo o desafio de se pensar naqueles que as vão pastorear, bem como na diversificação dos ministérios confiados aos leigos. A pastoral vocacional se torna prioritária neste novo momento da história da evangelização, sobretudo para o ministério ordenado e a vida consagrada e para a sempre crescente adequação da formação diaconal e presbiteral, inicial e permanente. Deve ser sempre mais valorizada a atuação do laicato na animação das comunidades.(74) Não há como prescindir de sua participação na “elaboração e execução de projetos pastorais a favor da comunidade”.75 Sob a orientação do bispo diocesano, presbíteros, diáconos, consagrados e leigos devem se unir em torno das grandes metas evangelizadoras e dos projetos pastorais que as concretizam. Uma Igreja com diversas formas de ser comunidade deve ser igualmente uma Igreja que testemunha a comunhão de dons, serviços e ministérios.
64. Em tempos de incerteza, individualismo e solidão, a presença de uma comunidade próxima à vida, às alegrias e às dores é um serviço, que urge apresentar a um mundo que necessita vencer a “cultura de morte”. Comunidades são escolas de diálogo interno e externo. São pontos de partida para o anúncio do Deus da Vida, que acolhe, redime, purifica, gera comunhão e envia em missão.

3.5. Igreja a serviço da vida plena para todos
“Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10)

65. A vida é dom de Deus! “A grande novidade que a Igreja anuncia ao mundo é que Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, a Palavra e a Vida, veio ao mundo para nos fazer ‘partícipes da natureza divina’ (2Pd 1,4), e para que participemos de sua própria vida. É a vida trinitária do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a vida eterna”.76 “O Evangelho da vida está no centro da mensagem de Jesus. Amorosamente acolhido cada dia pela Igreja, há de ser fiel e corajosamente anunciado como Boa-Nova aos homens de todos os tempos e culturas”.77 A Palavra de Deus ilumina o compromisso com a rede de comunidades e faz pulsar a vida do Espírito nas artérias da Igreja e em meio ao mundo. A missão dos discípulos é o serviço à vida plena.78
66. A Igreja no Brasil sabe que “nossos povos não querem andar pelas sombras da morte. Têm sede de vida e felicidade em Cristo”.79 Por isso, proclama com vigor que “as condições de vida de muitos abandonados, excluídos e ignorados em sua miséria e dor, contradizem o projeto do Pai e desafiam os discípulos missionários a maior compromisso a favor da cultura da vida”.80 Ao longo de uma história de solidariedade e compromisso com as incontáveis vítimas das inúmeras formas de destruição da vida, a Igreja se reconhece servidora do Deus da Vida. A nova época que, pela graça deste mesmo Deus, haverá de surgir precisa ser marcada pelo amor e pela valorização da vida, em todas as suas dimensões. A omissão diante de tal desafio será cobrada por Deus e pela história futura.
67. Ao mergulhar nas profundezas da existência humana, o discípulo missionário abre seu coração para todas as formas de vida ameaçada desde o seu início até a morte natural. Na medida em que nenhuma vida existe apenas para si, mas para outras e para Deus, este é um tempo mais do que propício para a articulação e a integração de todas as formas de paixão pela vida. Só assim conseguiremos, de fato, vencer os tentáculos da cultura de morte.81
68. É através da promoção da cultura da vida que os discípulos missionários de Jesus Cristo testemunham verdadeiramente sua fé. Num tempo que tende a privilegiar o indivíduo, a ganância e o culto ao corpo em detrimento do bem comum, o discípulo missionário sabe que Jesus Cristo veio dar a vida em resgate de todos, voltando-se de modo especial para a ovelha perdida, desgarrada, fragilizada.82 “É pelo amor-serviço à vida que o discípulo missionário haverá de pautar seu testemunho, numa Igreja que segue os passos de Jesus, adotando sua atitude”,83 sendo pobre, despojada, sem bolsa nem alforje, colocando sua confiança unicamente no Senhor (Lc 10,3-9).
69. Contemplando os diversos rostos de sofredores, desta Terra de Santa Cruz, especialmente, os “novos rostos dos pobres”84 o discípulo missionário enxerga, em cada um, o rosto de seu Senhor: chagado, destroçado, flagelado (Is 52,13ss).85 Seu amor por Jesus Cristo e Cristo Crucificado (1Cor 1,23-25) leva-o a buscar o Mestre em meio às situações de morte (cf. Mt 25,31-46). Leva-o a não aceitar tais situações de morte, sejam elas quais forem, envolvendo- se na preservação da vida. O discípulo missionário não se cala diante da vida impedida de nascer seja por decisão individual, seja pela legalização e despenalização do aborto. Não se cala igualmente diante da vida sem alimentação, casa, terra, trabalho, educação, saúde, lazer, liberdade, esperança e fé. Torna-se, deste modo, alguém que sonha e se compromete com um mundo onde seja, efetivamente, reconhecido o direito a nascer, crescer, constituir família, seguir a vocação, crer e manifestar sua fé, num mundo onde o perdão seja a regra; a reconciliação, meta de todos; a tolerância e respeito, condição de felicidade; a gratuidade, vitória sobre a ambição. O discípulo missionário reconhece que seu sonho por vida eterna leva-o a ser, já nesta vida, parceiro da vida e vida em plenitude. Daí “ratificar e potencializar a opção preferencial pelos pobres”,86 “implícita à fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza”.87 e que deverá “atravessar todas as suas estruturas e prioridades pastorais”88 manifestando-se “em opções e gestos concretos”.89
70. De modo especial, ressalte-se a importância da vida no planeta, dilapidada, tanto ética quanto ecologicamente, pelo uso ganancioso e irresponsável. Nestes tempos de crescente consciência ecológica, a Igreja no Brasil, em linha de continuidade com o que faz há quatro décadas, realizou, em 2011, a Campanha da Fraternidade para alertar que, assim como os filhos e filhas de Deus sofrem desrespeito e ameaças, o planeta inteiro se depara, como nunca, com o risco de degradação talvez irreversível.90
71. Consciente de que precisa enfrentar as urgências que decorrem da miséria e da exclusão, o discípulo missionário também sabe que não pode restringir sua solidariedade ao gesto imediato da doação caritativa. Embora importante e mesmo indispensável, a doação imediata do necessário à sobrevivência não abrange a totalidade da opção pelos pobres. Antes de tudo, esta implica convívio, relacionamento fraterno, atenção, escuta, acompanhamento nas dificuldades, buscando, a partir dos próprios pobres, a mudança de sua situação. Os pobres e excluídos são sujeitos da evangelização e da promoção humana integral.91 Em tudo isso, a Igreja reconhece a importância da atuação no mundo da política e assim incentiva os leigos e leigas à participação ativa e efetiva nos diversos setores diretamente voltados para a construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário.92
72. O serviço testemunhal à vida, de modo especial à vida fragilizada e ameaçada, é a mais forte atitude de diálogo que o discípulo missionário pode e deve estabelecer com uma realidade que sente o peso da cultura da morte. Na solidariedade de uma igreja samaritana,(93) o discípulo missionário vive o anúncio de um mundo diferente que, acima de tudo, por amar a vida, convoca à comunhão efetiva entre todos os seres vivos.

Notas

19 DAp, n. 370.
20 DGAE 2008-2010, n. 46.
21 CNBB, A criação geme em dores de parto. Fraternidade e Vida no Planeta, Campanha da Fraternidade 2011.
22 DAp, nn. 12, 41 e 549.
23 DAp, n. 365.
24 VD, n. 23-25.
25 DAp, n. 347.
26 DAp, n. 548.
27 DAp, n. 548.
28 DAp, n. 362.
29 DAp, n. 38-39.
30 DAp, n. 348.
31 DAp, n. 358.
32 EN, n. 21.
33 DAp, n. 365.
34 DAp, n. 365.
35 DAp, n. 370.
36 DAp, n. 551.
37 DAp, nn. 550-551, DGAE 2008-2010, nn. 211-212.
38 DCE, n. 1, DAp, nn. 12, 243-244.
39 DAp, n. 131.
40 DAp, n. 136.
41 DAp, n. 432.
42 DAp, n. 287.
43 DAp, n. 289.
44 DAp, n. 294.
45 DAp, n. 549.
46 DAp, n. 288.
47 DAp, nn. 246-257, 278.
48 “Pessoa que conhece o candidato ao Batismo, acompanha e é testemunha de seus costumes, fé e desejo de receber os sacramentos. Não é necessariamente o padrinho ou madrinha” (Cf. Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, n. 42).
49 DV, n. 15; VD, n. 6.
50 VD, n. 10.
51 VD, nn. 17-18.
52 DAp, nn. 247-249.
53 VD, n. 96.
54 VD, n. 97.
55 DAp, n. 247.
56 S. Jerônimo, Prólogo ao Comentário sobre o Livro do Profeta Isaías, N 1.2: CCL 73, 1-3.
57 VD, nn. 99-108.
58 CNBB, Evangelização da Juventude; Documento 85, n. 60.
59 VD, n. 22.
60 DAp, n. 253.
61 VD, n. 29.
62 DAp, n. 248; VD, n. 73.
63 VD, nn. 49; 77.
64 Cf. VD, n. 52.
65 DAp, n. 304.
66 DGAE 2008-2010, n. 154.
67 DAp, nn. 178-180, 307-310.
68 DAp, n. 180.
69 Cf. CNBB, Mensagem ao Povo de Deus sobre as CEBs – Documento 92.
70 DAp, n. 179.
71 Cf. DAp, n. 15.
72 DAp, n. 179.
73 DAp, nn. 197, 172 e 372.
74 DAp, nn. 99c; 211 e 213.
75 DAp, n. 213.
76 DAp, n. 348.
77 EV, n. 1.
78 DAp, cap. VII.
79 DAp, n. 350.
80 DAp, n. 358.
81 DGAE 2008-2010, n. 142.
82 DAp, n. 30.
83 DAp, n. 31.
84 DAp, n. 402.
85 DAp, nn. 32, 65 e 402.
86 DAp, nn. 396, 407-430.
87 DAp, DI n. 3.
88 DAp, n. 396.
89 DAp, n. 397, cf. DCE, n. 28 e 31.
90 CNBB, A criação geme em dores de parto. Fraternidade e Vida no Planeta, Campanha da Fraternidade 2011.
91 DAp, nn. 397-398.
92 Cf. AA 7; LG, n. 35; ChL 3; DCE, n. 28; DAp, nn. 99f, 100c, 210.
93 DAp, n. 27.

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