domingo, dezembro 11, 2011

Cristo Jesus, razão de nossa alegria

Padre José Assis Pereira Soares
Pároco da Paróquia Nsª Srª de Fátima - Campina Grande PB
Este terceiro domingo do advento é conhecido como o domingo da alegria. A Liturgia da Palavra nos fala disso e a alegria se faz patente, por causa da proximidade das celebrações do Natal do Senhor, este grande acontecimento que estamos preparando.
Além da alegria, a liturgia do Advento segue insistindo em apresentar para nossa contemplação a figura austera de João Batista. Ele marcou a sua época. Os evangelhos testemunharam o alto conceito que o povo tinha dele, “ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz” (Jo 1,8). Com isso se define o lugar de João, o homem enviado por Deus para preparar os que esperam o Messias.
A maioria das notícias veiculadas nos meios de comunicação não causa alegria. As pesquisas mostram um elevado índice de desencanto e desilusão entre jovens e adultos de nossa sociedade, na gestão política e administrativa, na situação econômica; violência, insegurança, ruptura familiar, droga, alcoolismo, desemprego... Todo esse cenário cria tristeza, depressão, mal-estar e angústia; isto é, os polos opostos à alegria de viver. É possível viver alegre em um mundo cheio de tantas preocupações, problemas, inquietações ou horizontes um tanto quanto obscuros?
Estamos todos no mundo buscando incansavelmente a felicidade, a alegria de viver. Esta busca da alegria, no entanto, não significa evasão da realidade, nem implica fechar olhos, tapar ouvidos e mergulhar na ilusão de um sonho, “Natal dos sonhos!” (sic!); não quer dizer também endurecer o coração na surda e cega insensibilidade para não sofrer. Jesus censurou muitas vezes a “dureza de coração” dos seus ouvintes que leva à indiferença e à superficialidade. Precisamos, pois, ter coragem de aspirar à alegria e a sua realização.
Para uma comunidade abatida, marcada pela desesperança, pelas circunstâncias históricas pelas quais passa durante o longo tempo do exílio da Babilônia, o terceiro profeta Isaías (cf. Is 61, 1-2.10-11) se apossa do sentimento divino de alegria e lhe dirige estas palavras: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu: enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres... Transbordo de alegria no Senhor, minha alma se regozija no meu Deus; porque me vestiu com vestes de salvação, cobriu-me com o manto da justiça...” A escolha desta perícope como pórtico da Liturgia da Palavra de hoje denota que o Advento tem o perfil dos grandes anúncios que criam esperança. Se o Advento não é uma boa notícia para os pobres, os cegos, os que sofrem, então não é um verdadeiro advento cristão.
Na sinagoga de Nazaré, no início da sua vida pública, após ter lido essa profecia, Jesus fez suas estas palavras e disse: “Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura” (Lc 4, 21). Chegou o dia esperado por tantos séculos. Teve início um mundo novo, nele não há lugar para a escravidão, fome, doença e, sobretudo para o egoísmo, ódio, pecado...  
Aí está o motivo e fundamento de uma esperança certa: Jesus Cristo que como disse o profeta Isaías vem “curar os corações atribulados”. Ele é o dom do Espírito, o carisma da alegria neste Advento já a pouca distância do Natal. Saber que “aguardamos a

alegre esperança, a aparição gloriosa do nosso grande Deus e salvador Jesus Cristo” (Tit 2,13), é motivo de otimismo para cada um de nós e para a comunidade humana e cristã em que vivemos. Por isso, São Paulo (cf. 1 Ts 5, 16-19.21) insiste: “Alegrai-vos sempre, orai sem cessar. Por tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito, em Cristo Jesus. Não extingais o espírito!... examinai tudo e guardai o que for bom”.
A figura do precursor volta a aparecer na espiritualidade do Advento (cf. Jo 1, 6-8.19-28) recordando o chamado à conversão próprio deste tempo. É uma maneira de preparar o coração, limpando tudo o que possa ser obstáculo para que Deus nasça com ele.
Como hoje descrever a figura impressionante e a personalidade vigorosa do Batista? Ele não é uma figura “romântica e sonhadora” da qual podemos repetir suas frases mais conhecidas. João e o seu grupo de seguidores “indignados” foram e seguem sendo e serão sempre um chamado à transformação das coisas que não estão bem, que não podem seguir assim em nossa sociedade, em nossa Igreja e em cada um de nós.
João foi o último dos numerosos casos bíblicos de “filho presente de Deus”, de matrimônios estéreis ou de idade avançada, como Zacarias e Isabel, pais do Batista. Tudo isso anunciava um homem excepcional.
Suas palavras são claras, acompanhadas de uma conduta íntegra, inatacável. Sua vida convincente, ratifica com o próprio exemplo as palavras que proclama.
Ele não é a luz, não é o Messias, nem o profeta Elias ou Moisés redivivo, nem se autodefine como Profeta, ele declarou: “Eu sou a voz que grita no deserto: aplainai o caminho do Senhor” (v. 23). Como as antigas sentinelas que guardam a aurora para gritar que é dia, assim o Batista anuncia como testemunha a chegada da luz. João tinha muita consciência de sua função de instrumento a serviço de algo maior do que ele. As suas palavras são uma lição de humildade e de verdade. Ele confessou sem reservas quem era e quem não era, não dissimulou o que na realidade era. “No meio de vós está aquele que vós não conheceis e vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias” (v.27). Suas palavras têm uma atualidade palpitante em nossos dias. Sim, também hoje Cristo Jesus, é esperado, está no meio de nós e nós não nos damos conta disso.
Tal como João Batista expressou, diante dos seus discípulos, seu entusiasmo pela presença e ação de Cristo o Messias, também o cristão pode dizer cheio de alegria e fé diante dos outros: Estou cheio de alegria porque Cristo não decepciona a minha esperança.
Talvez as pessoas do tempo de João Batista não fossem mais felizes do que nós. Hoje, como ontem, há no nosso mundo uma espera surda, uma expectativa confusa que só precisa de uma testemunha que lhe mostre. O testemunho da alegria cristã é necessário, hoje mais do que nunca, na nossa sociedade em crise de valores. A única realidade que pode vencer a insatisfação profunda das pessoas é o testemunho pessoal e comunitário da alegria e esperança oxigenantes, fundado na fé em Cristo, vivo e presente entre os que sofrem por qualquer motivo. Porque esse testemunho não pode senão causar impacto e suscitar a pergunta: Qual é a esperança secreta que alegra a vida dessa pessoa ou deste grupo? O testemunho é sempre uma interrogação para os outros.
Os cristãos temos muitos motivos para estar alegres. O mais importante é que, o Senhor, está conosco. Nos aproximamos do Natal, sentimos que nossas forças são maiores que toda a problemática que nos rodeia. Nossa alegria não depende de nosso estado de humor ou do dos outros: não depende de sensações externas, se bem que estas a condicionam; encontraremos a verdadeira alegria numa uma fonte misteriosa e às vezes tão próxima. Pondo sob a ótica de Deus tanto o nosso íntimo como o que nos cerca, aprendendo a dar mais que receber, a amar sem nada esperar em troca... Brota daquele que, João Batista, aponta com seu dedo e que o mundo ignora porque, entre outras coisas pretende substituí-lo, marginalizá-lo ou erigir-se como “deus” de nossas consciências.  É Jesus, a fonte e a causa de nossa alegria autêntica e verdadeira.
Por acaso não é uma alegria e satisfação efêmera a que dá uma fortuna, um prêmio, um record desportivo, o sucesso ou a fama? Não são estes, pelo contrário, trampolins de decepções e contrariedades? Hoje, muitas pessoas, não seguem buscando em nossa terra o prestígio ou o dinheiro, ainda que nos pareça impossível, cada vez buscam alguém que lhes ame, alguém que lhes devolva a alegria de viver.
É aqui, na alegria de viver, onde os cristãos podemos intervir. Onde podemos ser não protagonistas dessa alegria, pois o é Jesus, mas sim canais, testemunhas pelos quais continuamos contagiando nosso mundo, um pouco de luz frente a espessas nuvens, um pouco de humor ante tantas caras fechadas ou um pouco de fé onde assoma e ferve a incredulidade.
E onde conseguir a luz, o humor e a fé? Nem mais nem menos que olhando para Cristo. Tudo o devemos a Ele e, muitos dos dramas que estamos vivendo, em nível social, cultural, familiar, pessoal, eclesial…. se devem a que, em muitos momentos, nos temos afastado dessa fonte de alegria e de luz verdadeira que é Jesus. Ou acaso muitos dos problemas que nos acorrentam não se têm dado porque, nossos olhos, têm deixado de orientar-se até a Verdade e nos temos dirigido egoístamente a nossos grandes castelos construídos sobre pequenas mentiras?
Queremos recuperar a alegria? Queremos que nossos rostos voltem a brilhar com a santa, autêntica e verdadeira alegria? Já sabemos onde está e onde temos a razão: Jesus nos espera! Jesus no-la pode dar! Vamos a Belém,”eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo. Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor.” (Lc 2, 10-11) Vamos até o Natal! Jesus tem alegria para todo o mundo! Saberemos acolher?

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