segunda-feira, julho 25, 2011

Jesus, o tesouro da sabedoria do Reino

Padre José Assis Pereira Soares
Paróquia Nossa Senhora de Fátima
Campina Grande - Paraíba
Vamos atravessando estes domingos de julho na rota das parábolas do capítulo 13 do evangelho segundo São Mateus. Hoje terminamos com as parábolas do “tesouro escondido”, da “pérola preciosa” e da “rede de pescar.” (cf. Mt 13, 44-52) As três estão unidas numa mesma intenção: ser cristão, conhecer Jesus, segui-lo na comunidade da Igreja é um grande tesouro pelo qual vale a pena todo esforço, toda procura, vender tudo. Mas, nada disto se pode descobrir sem um coração cheio da “sabedoria de Deus”, como o pediu o jovem rei Salomão na primeira leitura (cf. 1Rs 3,5.7-12).
“O biógrafo de Salomão destaca nele três facetas: sábio, construtor e rico. Das três, a que prevalece é a sabedoria. Para ouvir a sua sabedoria vieram pessoas de todos os povos, da parte de todos os reis da terra, que alguma vez tinham ouvido falar dela. (1Rs 5,9-14) A sabedoria de Salomão abarca todos os campos. O nosso texto sublinha a sua sabedoria como governante. Como prova, refere o que veio a chamar-se ‘juízo de Salomão’ (3,16-28). A sabedoria de Salomão manifestou-se também na organização administrativa interna do reino e no planejamento da política externa. A sabedoria de Salomão estendeu-se igualmente às letras e às artes. O que o texto salienta com mais vigor é que toda esta sabedoria é um dom de Deus. Foi-lhe concedida no contexto do santuário de Gabaon, como fruto da oração, acompanhada de sacrifícios. A melhor prova da sabedoria do rei de Jerusalém é a sua própria oração. É uma oração sábia e inteligente, por isso agradou a Deus. Na sua súplica Salomão não se deixou levar pelo egoísmo, pedindo antes a Deus bom critério para saber discernir entre o bem e o mal: numa palavra, pediu justeza na arte de bem governar.” (Bíblia Litúrgica)
O autor do livro da Sabedoria assim interpreta a oração de Salomão: “supliquei, e inteligência me foi dada; invoquei, e o espírito da sabedoria veio a mim. Eu a preferi aos cetros e tronos, julguei, junto dela, a riqueza como um nada. Não a equiparei à pedra mais preciosa, pois todo o ouro, ao seu lado, é um pouco de areia, junto dela a prata vale quanto o barro. Amei-a mais que a saúde e a beleza e me propus a tê-la como luz, pois seu brilho não conhece o ocaso. Com ela me vieram todos os bens de suas mãos, riqueza incalculável. De todos eles gozei, pois é a sabedoria quem os traz.” (Sb 7, 7-12)
Sabemos que cada um de nós tem sua parcela de poder tanto em nível público como privado. Assim é fácil para nós compreender os sentimentos de insegurança diante da grande responsabilidade porque passa o jovem rei. Todos nós lidamos com algum tipo de poder, principalmente através das relações que estabelecemos no nosso dia a dia, para isso necessitamos “sabedoria ou discernimento” quer dizer, chaves que nos ajudem a decidir e atuar corretamente e não fugir e sair correndo pela porta de trás. Salomão não pede êxito em suas decisões, mas sim, saber discernir.
Fixemo-nos nas duas imagens evangélicas: do tesouro e da pérola. (cf. Mt 13, 44-52) “A comparação de Jesus, retoma a comparação dos sábios antigos, porque o Reino tem a ver com a presença de Deus e o comportamento humano. A sabedoria para o Antigo Testamento, era um modo de viver a justiça e a santidade de Deus e sentir o gosto por tudo o que provinha de Deus. O livro dos Provérbios insistia em que se procurasse a sabedoria como se busca um tesouro (Pr 2,4); ela é mais preciosa que as pérolas (Pr 3,15) e nenhuma joia tem seu valor (Pr 8,11).” (Neotti, 2001.)
Vamos expor conjuntamente as duas parábolas, como se fora uma só. Elas têm uma introdução idêntica; narram a descoberta de algo tão valioso que os protagonistas, um trabalhador do campo e um comerciante de pérolas, não duvidam nem por um instante em desprender-se de tudo, vender tudo o que possuem para comprar o terreno onde se encontra escondido o tesouro ou adquirir a pérola preciosa; pois não é todo dia que se tem a sorte de descobrir um tesouro ou encontrar uma pérola de imenso valor.
Qualquer pessoa ficaria muito feliz com uma descoberta semelhante. Todo homem e toda mulher buscam seu tesouro. Claro, alguns, o encontram; outros, jamais o encontrarão. E muitos creem ter encontrado um tesouro quando, na realidade, só acharam quinquilharias sem valor, bijuterias. A questão é saber, discernir, qual é nosso tesouro oculto, verdadeiro e necessário para que nossa vida seja melhor, mais alegre e feliz.
Um tesouro é algo que tem muito valor para nós e que, por isso mesmo, desejamos adquiri-lo e conservá-lo. Ao longo da vida podemos desejar ter e conservar diferentes tesouros, estando dispostos a renunciar a muitas coisas para consegui-los. A saúde, por exemplo, é um tesouro que todos valorizamos muito e desejamos ter e conservar, estando dispostos a renunciar a muitas coisas para não perdê-la. Mas também o dinheiro é um tesouro muito buscado por todos; o amor, a família, a amizade… Mas a parábola nos fala de um tesouro único, ao qual devemos subordinar todos os outros. Este tesouro único a que se refere Jesus é o “Reino dos Céus”. Para não nos perdermos muito em conceitos poderíamos dizer que para nós cristãos, o Reino dos Céus é mesmo Jesus de Nazaré. A fé em Jesus Cristo é esse tesouro ou pérola de grande valor que dá sentido a tudo o que somos e fazemos. Jesus é nossa opção fundamental e esta opção deve presidir e condicionar todas as outras. Optar por Jesus é segui-lo incondicionalmente, recusando tudo o que nos impeça segui-lo, ainda que tenhamos de por em risco a saúde, o dinheiro, a família, e o amor... Assim o fizeram grandes santos e místicos. Em nossa vida podemos seguir apreciando os tesouros aos quais aludimos antes, desde que não se oponham frontalmente à posse do tesouro único do qual nos fala o evangelho.
Deus é nosso tesouro. “É verdade que o Reino de Deus é graça, é concedido gratuitamente, mas não se dispensa o esforço de procurá-lo. ‘Buscai primeiro o Reino de Deus’ (Mt 6,33). Devemos buscar as coisas de Deus... Todos os mestres de espiritualidade sabem e ensinam que Deus quer ser buscado e quanto mais o temos, mais o procuramos”. (Ibid. Neotti.) A partir deste ponto de vista da pessoa que busca, o tesouro vem a ser como uma utopia: não se sabe onde está, nem sequer se existe em alguma parte. Só sabe que o necessita, só sente a inquietação de seu coração: “Onde está o teu tesouro aí está o teu coração.” (Lc 12,34). Onde está o coração, por isso buscamos incessantemente o sentido da vida. Por isso às vezes podemos agarrar-nos ao dinheiro, aferrar-nos ao poder, prender-nos à droga etc. No entanto o verdadeiro tesouro não é qualquer coisa a mais, mas Deus mesmo. Escondido em nosso mundo está o tesouro, é aí onde Deus se deixa encontrar e se oferece aos que o amam e o buscam. Deus mesmo se fez encontrar no homem e para o homem, aqui no meio de nós, Jesus Cristo é o lugar de Deus e o homem, o outro, o pobre, o irmão, é o lugar desse encontro com ele. Assim, o tesouro, o que dá sentido a nossa vida, já não é mais para nós crentes o que não existe em nenhuma parte, já não é uma utopia. Aquele que encontra Deus em Jesus Cristo e naqueles com os quais ele se identifica, sobretudo, os pobres, sente-se livre de tudo a que estava submetido e experimenta uma grande liberdade e alegria. E nesse encontro tudo tem já sentido, porque agora sabe onde está o coração. 
Pois é esta alegria extraordinária que invade o coração dos protagonistas das parábolas diante do tesouro encontrado, perante o qual os outros bens que possuíam perderam o brilho e o valor. Para possuí-lo nenhum esforço ou renúncia lhe parecem excessivos. A mim,  parece-me que o centro da mensagem destas parábolas não é só esta alegria da decisão tomada, mas também a predisposição anterior para procurar, buscar encontrar o tesouro ou a pérola. Pois nem os tesouros nem as pérolas aparecem sem mais nem menos diante de nós. É a sabedoria ou parrésia (coragem) que os leva a buscar e com alegria arriscar tudo, entregar tudo o que têm por esse tesouro ou essa pérola encontrados. É necessário educar, transformar e fazer dócil e sábio o nosso coração para descobrir nas situações pessoais, comunitárias ou eclesiais a alegria. A chave para saber se estamos no espaço, no lugar e no tempo adequados será uma vez mais a alegria. Para entender que esse tesouro encherá de alegria nossa vida e nos saciará mais que qualquer coisa material que possamos pensar.
Ao meditar o evangelho deste domingo, nos perguntemos. Ao encontrar algo que realmente valha à pena e a alegria, sou realmente capaz de deixar o resto das coisas em segundo plano? O que tenho que vender para salvaguardar o tesouro de Cristo?
Finalmente, Jesus pergunta aos seus discípulos se eles entendem suas palavras. Uma pergunta que se dirige também a nós. São palavras simples e claras, que seria estranho que alguém não as entendesse. Temos que fazer como o escriba de que nos fala Jesus, ele mete suas mãos em seu velho baú para tirar dele o antigo e o novo. Dessa forma consegue que toda sua vida seja iluminada por esse rico arsenal de doutrina, de ideais e de recordações, que constituem seu mais apreciado tesouro. “O discípulo do Reino – aquele que descobriu o tesouro escondido no campo ou encontrou a pérola mais preciosa que poderia imaginar – não pode ficar inativo. A sua excepcional alegria tem de transparecer na vida plenamente realizada. O bem tende, pela sua própria natureza, a difundir-se.” (Bíblia comentada) Como nos diz São Paulo “sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus.” (Rm 8,28)

Nenhum comentário:

Postar um comentário