Padre José Assis Pereira

Hoje a Liturgia da Palavra através de suas leituras fala da importância da Palavra de Deus, uma Palavra que é verdadeira e que cumpre o que diz. Na construção litúrgica de nossas celebrações eucarísticas, com relação aos textos da Palavra de Deus, costuma-se ocorrer que, a primeira leitura e o Evangelho concordem tratando o mesmo tema, com uma natureza muito parecida e quase idêntica. Por exemplo: semente e Palavra estão muito presentes no texto do profeta Isaías (cf. Is 55,10-11) e no Evangelho segundo Mateus, que tão magistralmente nos narra, hoje, a Parábola do Semeador (cf. Mt 13, 1-23). Durante os próximos domingos escutaremos por completo todo o capítulo 13 do Evangelho de Mateus. Trata-se de um capítulo cheio de parábolas, que é a maneira que Jesus tem de “dar a conhecer os mistérios do Reino dos Céus” (Mt 13,11), segundo disse ele mesmo. Mas, isto só é possível com um coração bem disposto, próprio dos “humildes”. As parábolas revelam os grandes projetos que Deus tem para nós.
Habitualmente, a segunda leitura, tirada quase sempre das Cartas do Apóstolo Paulo, tem outra dimensão e outro discurso. Não é assim em nossa celebração de hoje. No fragmento da Carta aos Romanos (cf. Rm 8,18-23) se fala de uma criação frustrada pelo efeito do Mal e que espera sua libertação: “A criação em expectativa anseia pela revelação dos filhos de Deus... Pois sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores de parto até o presente.” (Rm 8,19.22) A relação com as outras duas leituras é total, sobretudo com o evangelho. São Paulo nos diz que enquanto vivemos aqui na terra gememos em nosso interior, todos nós, o mundo inteiro geme com dores, esperando o momento em que possa manifestar-se plenamente em nós nossa condição de filhos e filhas de Deus. A humanidade está esperando que se cumpra em plenitude o projeto de Deus. É como uma parturiente que espera, gemendo e com dores, o nascimento. Para nós esse parto é que podemos levar a plenitude o que Jesus semeou em nosso mundo e em nossos corações. Somos filhos de Deus, nos disse São Paulo, mas ainda não se manifestou tudo o que podemos chegar a ser. Ainda que naturalmente essa natureza humana é capaz de discernir, quando está dominada pelo mal, a necessidade imprescindível de buscar o bem. Por isso a natureza sujeita à frustração espera o nascimento, a aparição dos filhos e filhas de Deus, de nós, que com nosso trabalho de anúncio desta Palavra de Vida colaboraremos com a missão iniciada por Cristo.
O profeta Isaías, em nome de Deus, disse a seu povo que acolha a Palavra de Deus como a terra boa recebe a chuva no tempo oportuno: “Como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam, sem terem regado a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, dando semente ao semeador e pão ao que come, tal ocorre com a palavra que sai da minha boca: ela não volta a mim sem efeito...” (Is 55,10-11)
O profeta usa imagens, símbolos para por em evidência esta teologia sobre a força da palavra profética como Palavra de Deus. O que se quer destacar é a dimensão criadora e transformadora da Palavra de Deus. Isaías ressalta a força da Palavra de Deus capaz de mudar a história, não se limitando ao âmbito espiritual.
Deus cumpre o que diz. Ele tem semeado sua Palavra no mundo através de Jesus e essa Palavra dará fruto se “cair em terra boa”, quer dizer, se somos capazes de acolhê-la em nosso coração e levá-la à nossa vida.
Mateus nos conta que o povo se ajuntava em torno de Jesus. Suas palavras têm sabor novo; seu olhar limpo, sem julgamentos, seu gesto terno, sereno e atraente, sua conduta forte e autêntica atrai as pessoas. Por outro lado ele parece simples, amigo das crianças, sensível à condição da mulher no seu tempo, pronto para curar os enfermos, cheio de compaixão e próximo dos desprezados pela sociedade, amigo de publicanos e pecadores. E, sem dúvida, sua maneira de ensinar tinha uma especial autoridade, tão diferente dos escribas e dos fariseus. A multidão se sente atraída, lhe segue por toda parte, gosta de vê-lo e escutá-lo. Por isso em uma ocasião, Jesus sobe num barco e sentou-se enquanto a multidão estava em pé na praia. Era aquele barco uma curiosa cátedra, e a margem do lago uma incomum sala de aula. O silêncio da tarde se acentua com a atenção de todos os que escutam os ensinamentos do mestre de Nazaré. Sua palavra, brota serena e iluminada e é semeada abundantemente como a mão de um semeador. Sua Palavra é uma semente que não pode ser melhor, a melhor que há nos celeiros de Deus. Sua palavra, essa palavra viva, é como uma luz iluminando os mais obscuros recantos da alma. Sua palavra vem do alto e desce como uma chuva suave e penetrante que cai do céu e que não retorna sem ter produzido seu efeito. Só a escuridão das pessoas, ou a terra ruim da inclinação para o mal podem fazer infecunda semente tão boa. Só nós com nosso egoísmo podemos apagar o resplendor divino em nossos corações, secar com nossa soberba as torrentes de água viva que nos chegam através da pregação da Palavra de Deus na Igreja.
Na parábola evangélica Jesus mesmo se compara com o semeador, que saiu a semear com confiança a semente de sua Palavra na terra dos corações humanos. O fruto não depende unicamente da semente, mas também das diversas situações do terreno, quer dizer, de cada um de nós. Assim o explica Jesus no evangelho. Curioso é que sempre a semente começa dando fruto, caia onde cair: “à beira do caminho, lugares pedregosos ou entre os espinhos”, mas a semente necessita uma “terra boa” onde seja acolhida para continuar crescendo e produzindo abundância de frutos. O problema, portanto, não é do grão, que acaba germinando, em qualquer tipo de terreno, mas a terra que o recebe, que somos nós.
Pode ser que semente caia “à beira do caminho” e “vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no coração” (Mt 13,19). A semente devorada pelas aves evoca esta intervenção do mal, que leva o coração a incompreensão do caminho de Deus, que é sempre um caminho da cruz. É possível que caia “em terreno pedregoso”, mas “não tem raiz em si mesmo, é de momento quando surge uma tribulação ou uma perseguição por causa da palavra, logo sucumbe” (Mt 13,20-21). Esta semente sem raiz descreve a situação na qual se aceita a Palavra só exteriormente, na superficialidade e sem a profundidade da adesão a Cristo e o amor pessoal a ele necessários para conservá-la. Já a que cai “entre os espinhos”, “é aquele que ouve a Palavra, mas os cuidados do mundo e a sedução da riqueza sufocam a Palavra e ela se torna infrutífera.” (Mt 13,22) A semente afogada e estéril remete às preocupações da vida, a atração que exerce o poder, o bem estar e o orgulho.
A Palavra não dá fruto automaticamente: ainda que seja divina, e, portanto, onipotente, ela se adapta às condições do terreno, ou melhor ainda, aceita as respostas que lhe dá o terreno, e que podem ser também negativas. Porque, no fundo, a semente semeada nos diversos terrenos é Jesus mesmo. Mas, também pode cair “em terra boa” e dar fruto “produzindo à razão de cem, de sessenta e de trinta”. Portanto, temos uma grande responsabilidade. Deus semeou sua Palavra em nosso mundo, em nossos corações. De nós depende que dê fruto, que chegue à sua plenitude, que “a demos a luz”. “Felizes os vossos olhos porque veem, e os vossos ouvidos porque ouvem.” (Mt 13,16) Precisamente faz falta um olhar de fé e orante e uma escuta atenta para “ver” e “ouvír”.
Cada vez que nos aproximamos da eucaristia “ouvimos” (Liturgia da Palavra) a Deus que nos fala, que nos desvela os segredos do Reino através das parábolas. Cada vez que participamos da eucaristia (Liturgia Eucarística) “vemos” a Deus que se faz um “Bom Pão” para nós. Cada vez que o recebemos na comunhão recebemos as forças necessárias para acolher com coragem sua Palavra e fazê-la vida em nós, para que possamos fazer de nossas vidas fraternidade, solidariedade e serviço aos outros, especialmente aos mais necessitados. Assim irá chegando a plenitude o projeto de Deus.
A leitura desta parábola e explicação que Jesus deu a seus discípulos suscita em nós uma reflexão necessária: Somos a terra onde o Senhor semeia incansavelmente a semente de sua Palavra e de seu amor. Que tipo de terreno somos nós? Com que disposição acolhemos a semente da sua Palavra? Como a fazemos frutificar? Devemos ser terra fértil e boa que, com a abundância de seus frutos, realiza as expectativas da Igreja e do mundo. Se a Palavra de Deus não é fecunda em nós não é por culpa de Deus, e sim porque nós não somos terra boa molhada pela graça de Deus. Confiemos em Deus e abramos a ele nosso coração, para que a semente de sua Palavra possa ser em nós fecunda e eficaz. Que não sejamos caminho pisado por todos, nem pedregoso que não deixem fixar o semeado, nem permitam crescer o talo nem granar a espiga. Vamos arar nossa vida medíocre, vamos suplicar com lágrimas ao divino semeador que tão excelente semeadura não fique inútil. Deus é que dá o crescimento, ele pode fazer possível o impossível: que esta nossa terra morta dê frutos de vida eterna. Por outro lado, Deus nos confia hoje a todos nós o tesouro desta Palavra, nos fazendo também semeadores. Sejamos semeadores confiantes que semeiam no segredo do coração de cada um dos nossos irmãos e irmãs a "boa nova" do Reino.
Habitualmente, a segunda leitura, tirada quase sempre das Cartas do Apóstolo Paulo, tem outra dimensão e outro discurso. Não é assim em nossa celebração de hoje. No fragmento da Carta aos Romanos (cf. Rm 8,18-23) se fala de uma criação frustrada pelo efeito do Mal e que espera sua libertação: “A criação em expectativa anseia pela revelação dos filhos de Deus... Pois sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores de parto até o presente.” (Rm 8,19.22) A relação com as outras duas leituras é total, sobretudo com o evangelho. São Paulo nos diz que enquanto vivemos aqui na terra gememos em nosso interior, todos nós, o mundo inteiro geme com dores, esperando o momento em que possa manifestar-se plenamente em nós nossa condição de filhos e filhas de Deus. A humanidade está esperando que se cumpra em plenitude o projeto de Deus. É como uma parturiente que espera, gemendo e com dores, o nascimento. Para nós esse parto é que podemos levar a plenitude o que Jesus semeou em nosso mundo e em nossos corações. Somos filhos de Deus, nos disse São Paulo, mas ainda não se manifestou tudo o que podemos chegar a ser. Ainda que naturalmente essa natureza humana é capaz de discernir, quando está dominada pelo mal, a necessidade imprescindível de buscar o bem. Por isso a natureza sujeita à frustração espera o nascimento, a aparição dos filhos e filhas de Deus, de nós, que com nosso trabalho de anúncio desta Palavra de Vida colaboraremos com a missão iniciada por Cristo.
O profeta Isaías, em nome de Deus, disse a seu povo que acolha a Palavra de Deus como a terra boa recebe a chuva no tempo oportuno: “Como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam, sem terem regado a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, dando semente ao semeador e pão ao que come, tal ocorre com a palavra que sai da minha boca: ela não volta a mim sem efeito...” (Is 55,10-11)
O profeta usa imagens, símbolos para por em evidência esta teologia sobre a força da palavra profética como Palavra de Deus. O que se quer destacar é a dimensão criadora e transformadora da Palavra de Deus. Isaías ressalta a força da Palavra de Deus capaz de mudar a história, não se limitando ao âmbito espiritual.
Deus cumpre o que diz. Ele tem semeado sua Palavra no mundo através de Jesus e essa Palavra dará fruto se “cair em terra boa”, quer dizer, se somos capazes de acolhê-la em nosso coração e levá-la à nossa vida.
Mateus nos conta que o povo se ajuntava em torno de Jesus. Suas palavras têm sabor novo; seu olhar limpo, sem julgamentos, seu gesto terno, sereno e atraente, sua conduta forte e autêntica atrai as pessoas. Por outro lado ele parece simples, amigo das crianças, sensível à condição da mulher no seu tempo, pronto para curar os enfermos, cheio de compaixão e próximo dos desprezados pela sociedade, amigo de publicanos e pecadores. E, sem dúvida, sua maneira de ensinar tinha uma especial autoridade, tão diferente dos escribas e dos fariseus. A multidão se sente atraída, lhe segue por toda parte, gosta de vê-lo e escutá-lo. Por isso em uma ocasião, Jesus sobe num barco e sentou-se enquanto a multidão estava em pé na praia. Era aquele barco uma curiosa cátedra, e a margem do lago uma incomum sala de aula. O silêncio da tarde se acentua com a atenção de todos os que escutam os ensinamentos do mestre de Nazaré. Sua palavra, brota serena e iluminada e é semeada abundantemente como a mão de um semeador. Sua Palavra é uma semente que não pode ser melhor, a melhor que há nos celeiros de Deus. Sua palavra, essa palavra viva, é como uma luz iluminando os mais obscuros recantos da alma. Sua palavra vem do alto e desce como uma chuva suave e penetrante que cai do céu e que não retorna sem ter produzido seu efeito. Só a escuridão das pessoas, ou a terra ruim da inclinação para o mal podem fazer infecunda semente tão boa. Só nós com nosso egoísmo podemos apagar o resplendor divino em nossos corações, secar com nossa soberba as torrentes de água viva que nos chegam através da pregação da Palavra de Deus na Igreja.
Na parábola evangélica Jesus mesmo se compara com o semeador, que saiu a semear com confiança a semente de sua Palavra na terra dos corações humanos. O fruto não depende unicamente da semente, mas também das diversas situações do terreno, quer dizer, de cada um de nós. Assim o explica Jesus no evangelho. Curioso é que sempre a semente começa dando fruto, caia onde cair: “à beira do caminho, lugares pedregosos ou entre os espinhos”, mas a semente necessita uma “terra boa” onde seja acolhida para continuar crescendo e produzindo abundância de frutos. O problema, portanto, não é do grão, que acaba germinando, em qualquer tipo de terreno, mas a terra que o recebe, que somos nós.
Pode ser que semente caia “à beira do caminho” e “vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no coração” (Mt 13,19). A semente devorada pelas aves evoca esta intervenção do mal, que leva o coração a incompreensão do caminho de Deus, que é sempre um caminho da cruz. É possível que caia “em terreno pedregoso”, mas “não tem raiz em si mesmo, é de momento quando surge uma tribulação ou uma perseguição por causa da palavra, logo sucumbe” (Mt 13,20-21). Esta semente sem raiz descreve a situação na qual se aceita a Palavra só exteriormente, na superficialidade e sem a profundidade da adesão a Cristo e o amor pessoal a ele necessários para conservá-la. Já a que cai “entre os espinhos”, “é aquele que ouve a Palavra, mas os cuidados do mundo e a sedução da riqueza sufocam a Palavra e ela se torna infrutífera.” (Mt 13,22) A semente afogada e estéril remete às preocupações da vida, a atração que exerce o poder, o bem estar e o orgulho.
A Palavra não dá fruto automaticamente: ainda que seja divina, e, portanto, onipotente, ela se adapta às condições do terreno, ou melhor ainda, aceita as respostas que lhe dá o terreno, e que podem ser também negativas. Porque, no fundo, a semente semeada nos diversos terrenos é Jesus mesmo. Mas, também pode cair “em terra boa” e dar fruto “produzindo à razão de cem, de sessenta e de trinta”. Portanto, temos uma grande responsabilidade. Deus semeou sua Palavra em nosso mundo, em nossos corações. De nós depende que dê fruto, que chegue à sua plenitude, que “a demos a luz”. “Felizes os vossos olhos porque veem, e os vossos ouvidos porque ouvem.” (Mt 13,16) Precisamente faz falta um olhar de fé e orante e uma escuta atenta para “ver” e “ouvír”.
Cada vez que nos aproximamos da eucaristia “ouvimos” (Liturgia da Palavra) a Deus que nos fala, que nos desvela os segredos do Reino através das parábolas. Cada vez que participamos da eucaristia (Liturgia Eucarística) “vemos” a Deus que se faz um “Bom Pão” para nós. Cada vez que o recebemos na comunhão recebemos as forças necessárias para acolher com coragem sua Palavra e fazê-la vida em nós, para que possamos fazer de nossas vidas fraternidade, solidariedade e serviço aos outros, especialmente aos mais necessitados. Assim irá chegando a plenitude o projeto de Deus.
A leitura desta parábola e explicação que Jesus deu a seus discípulos suscita em nós uma reflexão necessária: Somos a terra onde o Senhor semeia incansavelmente a semente de sua Palavra e de seu amor. Que tipo de terreno somos nós? Com que disposição acolhemos a semente da sua Palavra? Como a fazemos frutificar? Devemos ser terra fértil e boa que, com a abundância de seus frutos, realiza as expectativas da Igreja e do mundo. Se a Palavra de Deus não é fecunda em nós não é por culpa de Deus, e sim porque nós não somos terra boa molhada pela graça de Deus. Confiemos em Deus e abramos a ele nosso coração, para que a semente de sua Palavra possa ser em nós fecunda e eficaz. Que não sejamos caminho pisado por todos, nem pedregoso que não deixem fixar o semeado, nem permitam crescer o talo nem granar a espiga. Vamos arar nossa vida medíocre, vamos suplicar com lágrimas ao divino semeador que tão excelente semeadura não fique inútil. Deus é que dá o crescimento, ele pode fazer possível o impossível: que esta nossa terra morta dê frutos de vida eterna. Por outro lado, Deus nos confia hoje a todos nós o tesouro desta Palavra, nos fazendo também semeadores. Sejamos semeadores confiantes que semeiam no segredo do coração de cada um dos nossos irmãos e irmãs a "boa nova" do Reino.
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