FORMAÇÃO

PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA
DIOCESE DE CAMPINA GRANDE
Formação Litúrgica - EUCARISTIA
Org. Pe. José Assis Pereira Soares

3.      Eucaristia – Evolução Histórica

3.1 A Eucaristia nos séculos I e II

I.  EVOLUÇÃO DA FORMA EXTERNA DA EUCARISTIA
    A evolução foi assim:
-        Eucaristia com ceia ou ágape no meio (Lc e 1Cor)
-        Eucaristia no final da ceia (1Cor 11; relatos de Mt e Mc)
-        Eucaristia e ágape separados, em horas diferentes.
-        Eucaristia só, sem ágape, mas com a bênção e ação de graças, elementos fundamentais da Eucaristia.
     Temos testemunhos desta evolução:
a)                  O texto eucarístico da Didaché (9-10) pode referir-se à ágape, com ou sem Eucaristia. E no capítulo 14 encontramos um testemunho mais claro da Eucaristia e do domingo cristão.
b)                 Plínio o Jovem, governador romano da Bitínia, na Ásia Menor, em princípios do século II, parece indicar que havia duas reuniões entre os cristãos que o obrigavam a intervir: uma pela manhã, com hinos a Cristo como a Deus, e outra para uma ceia “ordinária e inofensiva”; poder-se-ia tratar da Eucaristia ou do ágape.
c)                  Inácio de Antioquia, pela mesma época, no capítulo 8 da sua carta aos cristãos de Esmirna, cita três celebrações: Eucaristia, batismo e ágape:
a)                  Chama a Eucaristia “dom de Deus”, “remédio de imortalidade”, “Corpo e Sangue de Cristo” (Efésios).
b)                 Deve ser realizada em união e em torno do bispo e demais ministros. Só assim a Eucaristia será válida.
c)                  Presença real de Cristo, pois identifica a Eucaristia com a Carne e Sangue de Cristo: “Não sinto prazer pela comida corruptível nem pelos deleites desta vida. O que quero é o pão de Deus, que é a carne de Jesus Cristo, o da linhagem de Davi, e por bebida quero o sangue dele, que é caridade incorruptível” (Romanos).
d)                 Unicidade da celebração: “Esforçai-vos, portanto, por usar de uma só Eucaristia, pois uma só é a carne de Nosso Senhor Jesus Cristo e um só é o cálice para unir-nos com seu Sangue, um só altar, como um só bispo junto com o presbitério e como os diáconos co-servos meus; a fim de que quanto façais o façais tudo segundo Deus” (Filadélfios, cap. 4). 

Efeitos salvadores da Eucaristia.
-         Justino, por volta do ano 150, leigo e filósofo, descreve a Eucaristia sem vestígios de ágape. É o testemunho mais importante do século II. Na sua obra “Apologia” descreve a vida dos cristãos, entre outras coisas suas celebrações sacramentais, tentando demonstrar às autoridades romanas que é uma comunidade inofensiva e pedindo-lhes que a respeitem. Também fala da Eucaristia na sua obra “Diálogo com Trifão”. Da sua obra, concluímos o seguinte:
a)                  Os cristãos se reúnem num só lugar, no dia do sol (domingo).
b)                 A primeira parte: O primeiro que fazem é ouvir as leituras bíblicas, depois prega a homilia o que preside e as “orações comuns” de todos os fieis, de pé, pelas intenções da comunidade e de todo o mundo. Termina esta primeira parte com o ósculo da paz entre os presentes.
c)                  A segunda parte é a celebração em torno da mesa eucarística; são trazidos os dons (pão, vinho e água). O presidente pronuncia sobre eles uma grande oração de ação de graças, à qual todos respondem com o “Amém”, e em seguida se procede, por parte dos diáconos, à distribuição da comunhão aos presentes e levá-la aos ausentes.
d)                 Já vemos vários ministros que atuam na Eucaristia: presidente, leitor, diáconos.
e)                  Justino estabelece “condições” prévias à celebração: crer, ser batizados e viver de acordo com Cristo.
f)                  E ao mesmo tempo a Eucaristia tem consequências: a caridade afetiva e efetiva com nossos irmãos mais necessitados. Eucaristia e caridade fraterna estão unidas.
Qual é a visão teológica de Justino sobre a Eucaristia?
-                   A Eucaristia tem sua origem na Última Ceia e no mandato do próprio Jesus, embora já no Antigo Testamento houvesse figuras como a oblação do pão. Nosso pão e vinho não são pão comum e vinho comum, mas são “a Carne e o Sangue daquele Jesus que se encarnou”.
-                   E tudo, através da Palavra pronunciada que tem a força transformadora, porque lhe foi dada por Cristo. Justino atribui a eficácia da Eucaristia às palavras de Jesus.
-                   Celebramos a Eucaristia “com vistas à nossa transformação” (nossa renovação interior, nossa ressurreição). O mistério termina nas pessoas, e não nos elementos, pão e vinho.
-                   A Eucaristia é memória da paixão, memória de seu sangue.

3.2. A Eucaristia nos séculos III e IV

I.       A “Tradição Apostólica de Hipólito”
Estes são os pontos que ele defende:
-        Descreve a segunda parte da celebração, depois da liturgia da Palavra e do beijo da paz com que termina:
a)      Apresentam-se os dons sobre o altar, e o bispo, com imposição das mãos, diz a oração eucarística, da qual Hipólito é um dos primeiros a dar-nos um texto completo. Aponta insistentemente para a realidade do Corpo e Sangue de Cristo nos dons eucarísticos. Quer que se distinga a bênção e ação de graças dos ágapes, que só é pão bento, da Eucaristia, que é o Corpo do Senhor.
b)      Em seguida têm lugar a comunhão e os cristãos provavelmente levavam às suas casas os dons eucarísticos (para ir comungando durante a semana?).

II.                São Cipriano, bispo de Cartago
-                    Na sua carta contra os “aquarianos” apresenta o vinho em relação com o sacrifício da cruz, dado que algumas comunidades só consagravam pão e água.
-                    Ao mesmo tempo que argumenta a favor do vinho, que obedece a vontade de Cristo, vai expressando o sentido teológico da Eucaristia como memorial da paixão e morte de Cristo, como sacrifício, como presença real de Cristo.
-                    Aparece o papel do presidente e da comunidade eclesial na celebração da Eucaristia.
-                    A Eucaristia é o sacramento da unidade eclesial. A Igreja é a água e Cristo, o vinho.
-                    Com esta carta de Cipriano se poderia definir a Eucaristia como “celebração do sacrifício verdadeiro e pleno, sacramento e memorial da paixão de Cristo, oferecido pelo sacerdote na comunidade, na presença dos irmãos, a Deus Pai, cumprindo às vezes de Cristo, na forma de pão e vinho, que são realmente o Corpo e Sangue de Cristo”.

IV.      Santo Ambrósio de Milão 
            Explica, nas suas catequeses mistagógicas, aos neófitos o sentido da Eucaristia.
1.                  Presença real de Cristo, graças às palavras de Cristo (não tanto ao Espírito Santo).
2.                  A formulação da oração, no essencial, é idêntica a atual oração I do Missal, que desde fins do século IV até o século XX tem sido a única oração eucarística da Igreja romana.
3.                  A Eucaristia se celebrava em Milão diariamente.
4.                  Os fieis comungavam sob as duas espécies.
5.                  Introduziram-se cantos e hinos do povo, talvez pela primeira vez no Ocidente.  

ð  Façamos uma síntese destes séculos I-IV, para vermos a evolução histórica.
1.                  Quanto à celebração eucarística:
a)      A primeira parte da celebração se realiza em torno da palavra, pela influência das celebrações sinagogais. Leitura, homilia, oração comum, beijo da paz.
b)      A segunda parte, eucarística, também evoluía de acordo com as quatro ações de Jesus: “tomou o pão e o vinho” (a entrega dos dons no ofertório), “deu graças” (a oração), “o partiu” (gestos preparatórios à comunhão, sobretudo a fração do pão), e “deu-lhes dizendo: tomai e comei” (o rito da comunhão aos presentes e aos ausentes). Alguns cantos intercalados, como o Sanctus na oração ou o canto de salmos durante a comunhão, pai-nosso como preparação à comunhão.

2.      Quanto à compreensão teológica:
a)      Clara consciência da presença real de Cristo e de sua autodoação como comida à comunidade nos dons do pão de do vinho. Nestes séculos a Eucaristia é um mistério vivido e celebrado pacificamente na Igreja.
b)      O caráter sacrifical da Eucaristia se torna explícito. Radical e continuidade deste sacrifício que na cruz foi de Cristo e que agora o é também da Igreja que o celebra. Fazemos o memorial do único sacrifício de Cristo. É o sacrifício único de Cristo, que se faz presente, de um modo sacramental, em nossa celebração.  A ideia central da doutrina eucarística da era patrística, sobretudo dos Padres gregos, pode-se dizer que é o conceito de “memorial”.

3.      Lições pastorais destes séculos:
a)                  A comunidade cristã, reunida em casas particulares, participa plenamente na celebração: escuta em sua própria língua, participa na oração comum, comunga sob as duas espécies.
b)                 Esta reunião tem lugar no dia de domingo. Em algumas partes, até diária, segundo Ambrósio e Agostinho.
c)                  Assembleia sob a presidência do bispo, e ajudada por vários ministros (diáconos, leitores). Assim no-la apresentam Inácio e Justino.
d)                 Em Roma ocorreu um fato significativo: da Eucaristia presidida pelo Papa enviava-se às outras comunidades, que também a celebravam no mesmo dia (sobretudo no dia da páscoa), o “fermentum”, ou seja, fragmentos do Pão consagrado pelo Papa, para misturá-lo com a comunhão própria de cada comunidade. Assim se expressava a unidade das comunidades, mesmo a partir de sua diversidade. A Eucaristia era o elemento de união. Este “fermentum” foi introduzido pelo Papa Melquíades (311-314).
e)                  A celebração se prolonga na vida, mediante a caridade mútua e a solidariedade fraterna, sobretudo com os mais necessitados.
f)                  Tinham-se catequeses mistagógicas para os catecúmenos, para uma maior compreensão dos sacramentos. 
g)                 Ágape material comunitário depois da Eucaristia, para prolongar alguns valores da Eucaristia: refeição, comensalidade, alegria mútua, convivência.

3.3 Do século V até Trento
Entramos na Idade Média para ver a evolução histórica da Eucaristia, herdada das gerações anteriores.
I.   DA CRIATIVIDADE À CODIFICAÇÃO
1.                  Séculos V-VI:
a)                 Em Roma os Papas como Leão, Vigílio e Gelásio foram os criadores da “oração eucarística” (ação de graças), que conservavam nos famosos “libelli” ou cadernos na basílica de Latrão, e que depois seriam recompilados em forma de “sacramentários”, que contêm os textos próprios do presidente da Eucaristia. 
b)                 Desta criatividade passou-se gradualmente à compilação, ou seja, à cópia e fixação dos livros litúrgicos, sobretudo no que diz respeito à oração eucarística com seus prefácios.
c)                  Fora de Roma foram surgindo as famílias litúrgicas, orientais e ocidentais, com suas características também celebrativas, que elaboravam seus próprios livros, onde melhorava a compreensão teológica deste sacramento.

2.                  Séculos VI-VIII:
A missa papal em Roma influiu muito nas demais igrejas. Estrutura da missa papal:
-                   Recepção do Papa, que vem de seu palácio do Latrão, a cavalo, à igreja, com seu cortejo de dignitários; veste-se na sacristia.
-                   Começa o canto de entrada, e o Papa entra no meio da assembleia reunida, acompanhado de seus ministros e acólitos, com incenso, e beija o altar; o coro canta o Kyrie e o Glória; a entrada termina com a oração coleta.
-                   A Liturgia da palavra: leitura da epístola e do evangelho, com o canto responsorial no meio. Não havia homilia nem oração dos fieis.
-                   O ofertório se faz com uma longa procissão de oferendas da parte dos fieis e a preparação do altar pelos ministros; termina com a oração sobre as oferendas.
-                   O oração eucarística é recitada só pelo Papa; os demais sacerdotes estão ao seu lado, de pé, em atitude reverente.
-                   A comunhão: com o Pai nosso, o beijo da paz, a fração; o Papa comunga em sua sede; sob as duas espécies. Termina com a oração pós-comunhão.
-                   A despedida e o retorno à sacristia.

Novidades:
-        A solenidade na procissão no rito de entrada, no ofertório e na comunhão.
-        O ósculo da paz agora está imediatamente antes da comunhão, como preparação próxima à mesma, e já não depois da liturgia da palavra.
-        Novos cantos: Kyrie e Gloria e mais tarde o Agnus (Cordeiro), assumidos pelo coral, fazendo que a participação do povo fosse menor.

3. Séculos IX e seguintes:
a)                 A partir do século VIII na liturgia papal adotaram a língua latina e outros elementos mais dinâmicos, tanto em texto como em ritos e gestos: beijos, genuflexões, cruzes, sequências, orações abundantes e privadas, rompimento de silêncios, inclusive, na Semana Santa, elementos populares e “teatrais” por seu simbolismo.
b)                 Ainda que em alguns aspectos a celebração se tenha tornado mais viva, nestes séculos há uma gradativa decadência na missa:
  • Quanto à celebração:
  1. Predomina a missa “privada”, por influência talvez dos monges.
  2. O sacerdote vai assumindo todos os ministérios.
  3. Aparece o “missal” nos séculos X-XI: um livro único que contém as orações, as leituras, as antífonas e cantos que antes se encontravam em vários livros.
  4. O povo se torna cada vez mais alienado da celebração. O altar é colocado na abside, com o celebrante de costas; a língua latina já não se entende; a oração eucarística começa a ser rezada secretamente ou em voz baixa; o pão comum é substituído, no Ocidente, a partir do século IX, pelo pão ázimo; geralmente já não se dá aos fieis a comunhão com o cálice; o pão começa a ser recebido na boca e não na mão. Na realidade comunga-se pouco.
  • Quanto à teologia:
  1. Contemplam-se mais os mistérios da humanidade de Cristo (vida e morte).
2.      Não se vê tanto a Eucaristia como ação de graças que a comunidade eleva a Deus como memorial da morte pascal de Cristo, mas quase exclusivamente como a consagração do pão e do vinho (aspecto milagroso do dom de Deus).
  1. Não se vê tanto a Eucaristia como memorial do sacrifício pascal de Cristo, com sua autodoação, mas como a presença real da Pessoa de Cristo.
  2. A partir do século XI vai-se acentuando mais o culto à Eucaristia do que sua celebração e comunhão. Falar-se-á da “elevação” convidando todos à adoração e ao culto: “ver e adorar” a Eucaristia vai substituindo pouco a pouco a finalidade que até então se havia considerado mais genuína: a de “comer” e “beber”. O sacrário adquire maior importância do que o altar. Antes era mais importante a celebração, e a adoração era uma consequência lógica da fé. A consagração vai-se convertendo no momento culminante da missa, e não tanto a comunhão, como era antes. Neste século XIII se institui a festa do Corpus Christi e as procissões eucarísticas pelas ruas das cidades, para confirmar a presença real de Cristo na Eucaristia.
  3. Outra mudança na compreensão da Eucaristia: Muito mais do que ser celebração da comunidade, o é do “celebrante”, que é como se chama o sacerdote.
  4. A Eucaristia já não é vista como atualização memorial da páscoa, mas como uma representação detalhada e até anedótica da paixão. Busca-se um simbolismo para cada gesto ou palavra da missa, na maioria das vezes artificial.
  5. Intensifica-se a ideia dos “frutos da missa”. A comunhão começa a ser “oferecida por”, como meio para conseguir favores.

2.4.  A Eucaristia no Concilio de Trento

      I.   O CONTEXTO
1.      Trento somente apresentou o que interessava para responder às posturas teológicas de Lutero, Calvino e Zuinglio e corrigir os abusos da prática eucarística. Estes foram os temas:
a)      A Eucaristia como sacramento: A presença real.
b)      A Eucaristia como comunhão.
c)      A Eucaristia como sacrifício da missa.

2.      A linguagem dos padres de Trento corrigiu estes abusos:
a)      A pouquíssima participação dos fieis na comunhão.
b)      A superstição.
c)      A avareza e o comércio descarado com a repetição de missas e seus estipêndios.
d)     A multiplicação de missas “devocionais” pelos vivos ou pelos defuntos, sobretudo por parte dos chamados “sacerdotes altaristas”.
e)      As missas privadas, donde só comungava o sacerdote, e outras celebradas em casas particulares.
f)       As missas secas, donde havia várias celebrações da palavra com um único cânon.
g)      As explicações alegóricas.
h)      A excessiva ênfase no culto e o descuido da celebração.
i)        A má pastoral.

3.      Respondeu as posturas dos reformadores, Lutero e Calvino:
a)      Respeito à reserva eucarística e o culto:
·         A presença de Cristo não se entende só durante a celebração, mas também depois.
·         É coerente o culto de adoração a Cristo, de modo que não se pode dizer que “seus adoradores são idólatras”, ou que seja ilícito levar a Eucaristia aos enfermos.
b)      Respeito às missas em que só comunga o sacerdote: A missa é válida.
c)      Respeito a comungar sob as duas espécies: Cristo está inteiro em cada espécie.
d)     Respeito ao cânon em voz baixa: Não se deve condenar o costume secular de dizer em voz baixa a oração eucarística.
e)      Respeito à língua latina e à língua vulgar: Trento não se atreve a abrir a porta totalmente, embora também não a feche.
f)       As pretensões dos protestantes eram em parte razoáveis, diante da situação tão penosa em que se encontrava a prática eucarística de seu tempo. Porém, o que era inadmissível era a motivação que costumavam dar: se não se fizesse desta maneira (todos comunguem, todos sob as duas espécies, só celebrar em língua viva e em voz alta) a Eucaristia seria ilícita ou condenável ou idolátrica. Esta tensão certamente impediu que a reforma destes aspectos, razoáveis e pedidos por muitos outros, se conseguisse bem antes, sem esperar o nosso século.

      III.            A INFLUÊNCIA DE TRENTO NOS SÉCULOS SEGUINTES

1.      Consequências positivas de Trento:
a)      Necessidade da catequese e da explicação da missa, sobretudo através do Catecismo romano.
b)      Correção de alguns abusos da celebração.
c)      Participação do povo, com as tentativas de tradução às línguas vivas.
2.      Mas algumas das afirmações conciliares não foram depois corretamente interpretadas, pelo menos a partir de categorias litúrgicas:
a)      Prescindiu-se definitivamente da comunhão com o cálice, o que liturgicamente é muito menos expressivo, por insistir que “em cada espécie está Cristo inteiro”.
b)       A “defesa” da missa na qual só o sacerdote comunga, mesmo reconhecendo que não é o ideal, fez com que não se tomasse muito a sério o convite que também se fazia a que todo o povo cristão comungasse.
c)      Pensou-se que as línguas vivas era característica dos protestantes, e ficou a língua latina até o século XX.
d)     Trento não conseguiu ver a unidade entre sacrifício –o que nos fazemos, oferecendo- e sacramento –o que Deus nos dá, o Corpo e Sangue de Cristo-, insistindo mais no sacrifício. Não insiste na “atualização” sacramental do sacrifício pascal. O termo “representação” pode induzir muito mais a uma interpretação figurativa do sacrifício do que à sua atualização sacramental. Será o Concilio Vaticano II a esclarecer a questão: na Eucaristia se perpetua o sacrifício de Cruz (Sacrosanctum Concilium 47).
e)      Trento corrigiu a interpretação por demais realista e coisificada (como uma coisa) da presença real, mas não colocou ênfase na ressurreição, na vida gloriosa de Cristo, a partir da qual podemos compreender melhor sua presença sacramental.
f)       Embora Trento defendesse o culto eucarístico, porém não disse nenhuma palavra sobre o equilíbrio que deve haver entre celebração e culto, corrigindo a excessiva ênfase no culto.
g)      Pode-se notar também que Trento, para poder frear os abusos e arbitrariedades e defender a unidade na celebração, ofereceu um missal que foi declarado obrigatório para toda a Igreja. Mas isto poderia parecer a alguns como certa fossilização da liturgia; mas não é assim, si considerarmos os tempos e as circunstâncias.
      Luzes e sombras ficam ainda na compreensão deste maravilhoso mistério da Eucaristia. Mas assim é a vida humana. O povo estava um pouco distanciado da celebração litúrgica, e por isso buscará outros canais nas devoções e no culto fora da celebração.
      Mas Deus tem todo bem planejado... E chegou o Concilio Vaticano II.

      3,5. Em torno do Vaticano II
            Nos séculos XVII-XIX não houve grande reflexão sobre a Eucaristia. Foi em fins do século XIX e no século XX, com o Movimento litúrgico, que se preparou a grande reforma do Vaticano II neste tema eucarístico.

            I. A CELEBRAÇÃO
1.         O documento sobre a liturgia, Sacrosanctum Concilium 47-58, assinalou as ideias-mestras da reforma:
a)            Participação ativa dos fieis.
b)            Maior riqueza de leituras bíblicas.
c)            Importância da homilia.
d)           Restauração da oração dos fieis.
e)            A concelebração.
f)             Línguas vivas.
g)            Comunhão sob as duas espécies.

2.        Deram impulso também os livros publicados após o Concílio (lecionários, missal, ritual, instruções, etc) e documentos doutrinais de Paulo VI (Mysterium fidei, 1965), Instrução Eucharisticum Mysterium da Congregação para o Culto em 1967, e o Catecismo da Igreja católica em 1992. Estes novos textos litúrgicos incorporam uma linguagem e valores em consonância com a tradição e com a sensibilidade do Vaticano II.

3.        A celebração melhorou muito: já não é uma assembleia que “assiste” à missa, mas que “celebra a missa”. Busca-se uma maior criatividade e participação de todos, que faz a Eucaristia mais viva e esperançosa.

II. A TEOLOGIA   
Também houve evolução na compreensão teológica da Eucaristia. A Eucaristia será o centro do mistério eclesial.
1.                  Recuperou-se uma visão conjunta dos diversos aspectos do sacramento, que durante a Idade Média se tinha perdido por acentuar um dos dois: celebração e culto, sacrifício e memorial, palavra e Eucaristia, pão e vinho, comunidade e ministros, presença real e compromisso dinâmico.
2.                  A Eucaristia aparece mais claramente, de novo, como o memorial da morte pascal de Cristo. A Eucaristia é sacrifício enquanto é sacramento do único sacrifício de Cristo. É um sacrifício sacramental ou um sacramento sacrifical. Celebramos o memorial da cruz enquanto comemos e bebemos desse Corpo entregue e desse Sangue derramado.
3.                  Os protagonistas do mistério eucarístico aparecem com maior precisão: o papel de protagonista do Espírito Santo e da comunidade cristã (SC 48; LG 10-11), e não somente o papel de Cristo e do sacerdote ministerial (PO 5).

            Nossa geração continua celebrando a Eucaristia e refletindo sobre ela. Quer ser fiel à vontade de Cristo e à tradição mais viva da Igreja; mas também, quer ser fiel às mudanças culturais e à sensibilidade do ser humano de hoje, que é quem deve celebrar este admirável sacramento que Cristo nos recomendou e que pensamos celebrar “até que ele venha”.


3 comentários:

  1. É muito importante para nós cristãos essa formação que Pe.ASSIS esta dando,pois cada vez aprendemos mais e ficamos mais abastecidos de sabedoria para prosseguir na nossa caminhada de evangelização e fé parabéns Pe.ASSIS. Maria de Santo Afonso.

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  2. É muito importante para nós cristãos essa formação que Pe.ASSIS esta dando,pois cada vez aprendemos mais e ficamos mais abastecidos de sabedoria para prosseguir na nossa caminhada de evangelização e fé parabéns Pe.ASSIS. Maria de Santo Afonso.

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  3. Dizer "valeu" é pouco, muito obrigado por postar esse belíssimo material sobre EUCARISTIA e COMUNIDADE DE COMUNIDADES, vou imprimir e ler bem tranquilo em casa, "valeu mesmo!"

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